Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

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Hélio Schwartsman

Está tudo dominado

Filósofo diz que elites se apropriaram de luta contra o racismo

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"Elite Capture", do filósofo nigeriano-americano Olúfémi O. Táíwò, é um livro interessante. O texto é daqueles bem militantes, contrastando um pouco por minha preferência por obras mais analíticas. Mas Táíwò, que é professor na Universidade Georgetown, levanta problemas relevantes, que frequentemente passam despercebidos.

Para Táíwò, está tudo dominado. Para início de conversa, as estruturas sociais são desenhadas para sempre favorecer as elites. É o que ele chama de capitalismo racial. Mas, como se isso não bastasse, vemos agora essas mesmas elites se apropriando da política de identidade, originalmente um movimento de resistência, para fazer avançar seus interesses, num fenômeno que o autor batizou de política de deferência.

Hoje, a fina flor do capitalismo mundial, isto é, grandes bancos e "big techs", não só encampa o discurso identitário como também promove a elite dos grupos marginalizados a posições privilegiadas. Os diretamente envolvidos ganham. Os empresários sinalizam sua virtude, os promovidos ficam com a promoção, mas a maior parte dos marginalizados continua marginalizada. No Brasil, as cotas em universidades fazem um pouco isso. A sociedade fica com a sensação de dever cumprido por ter instituído essa política e os bons estudantes negros ganham vagas em boas escolas. Mas os mais discriminados, isto é, o garoto negro que não consegue concluir o ensino fundamental e acaba em subempregos ou no crime, continua quase tão discriminado quanto seus trisavós escravizados.

O que me incomodou no livro é que Táíwò não deixa muito espaço para respostas que difiram da sua. Precisamos necessariamente ver os empresários como cínicos tentando faturar em cima dos movimentos identitários? Não dá para imaginar que um "capitalista" considere o racismo imoral e esteja disposto a agir contra ele, embora sem deflagrar um movimento revolucionário, que é o que o autor cobra?

A ilustração de Annette Schwartsman publicada na Folha de São Paulo no dia 21 de agosto de 2022, mostra uma linha formada por seis homens negros. No alto, uma gigantesca mão branca, usando anel de esmeralda e terno preto, "pinça" um destes homens. O primeiro homem da formação tem os cabelos tingidos de loiro e veste camiseta azul, calça cinza e sapatos escuros de solas brancas. O segundo usa dreadlocks, camiseta polo vermelha, calça verde-oliva e tênis brancos. O terceiro veste terno cinza claro, camisa social branca, gravata azul clara e cinto e sapatos sociais pretos. O quarto -o que está sendo pinçado pela mão- usa terno com colete azul marinho, camisa social branca, gravata verde e sapatos marrons. O quinto usa jaqueta de couro escura, camiseta cinza clara, calças pretas e botas de couro escuro. O sexto e último usa jeans, camiseta verde e sapatos pretos.
Ilustração de Annette Schwartsman para a coluna de Hélio Schwartsman de 22.ago.2022 - Annette Schwartsman

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