Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Hélio Schwartsman

Michelle e os crentes creem em suas crenças?

Eles parecem não se esforçar o suficiente, pois estão em jogo a salvação ou a danação

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

"Podem me chamar de fanática, podem me chamar de louca. Eu vou continuar louvando nosso Deus [...], porque por muitos anos, por muito tempo, aquele lugar foi consagrado a demônios, [...] Planalto consagrado a demônios. E, hoje, consagrado ao Senhor Jesus", disse Michelle Bolsonaro. Não sou eu quem vai contrariar a primeira-dama. Também penso que falar em demônios como agentes da política em pleno século 21 é coisa de loucos e fanáticos, mas convém qualificar essa minha asserção.

Michelle e seu marido em culto evangélico na Igreja Batista da Lagoinha, em Belo Horizonte (MG), no domingo 7 de agosto - Portal Uai

Podemos, como sugeriu a mulher do presidente, pensar o Universo como uma batalha entre o bem, representado por Deus, e o mal, na figura dos demônios? No plano filosófico, estamos meio que condenados ao agnosticismo. Não há evidência de que exista um criador, mas, como ausência de evidência não é evidência de ausência, não podemos descartar a possibilidade de um demiurgo que se esconda de nós, restando-nos apenas suspender o juízo acerca dessas questões.

No plano comportamental o jogo é outro. Aqui há pouco espaço para o agnosticismo. Ou o sujeito age como se houvesse um Deus pessoal ao qual terá de prestar contas, ou como se não houvesse. E o surpreendente é que, mesmo entre os que se declaram religiosos, é pequeno o número daqueles que seguem à risca todos os mandamentos.

Isso nos faz perguntar se os que se dizem crentes de fato acreditam em suas crenças. Eles não parecem se esforçar o suficiente, dado que o que está em jogo seria a salvação ou a danação eternas. Hugo Mercier oferece uma explicação alternativa. Para o cientista cognitivo, existem crenças que nos fazem agir de forma condizente com elas e outras que, por não afetar diretamente nossa realidade, não demandam ações imediatas, o que as torna "baratas". Eu posso apregoar esse tipo de crença só para ficar bem com o grupo, já que não terei de agir de acordo. Exceto para uns poucos santos, crenças religiosas são do segundo tipo.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.