Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

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Hélio Schwartsman

CFM ficou tão bolsonarista que bane maconha, mas legitima a cloroquina

É com uma pauta quase sindical que os conselheiros fazem campanha e são eleitos

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Em janeiro de 2021, quando as principais associações médicas do planeta já haviam concluído que a cloroquina era ineficaz no tratamento da Covid-19, o então presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM) escreveu um artigo na Folha em que dizia que a entidade, por "respeito absoluto à autonomia do médico" para tratar seu paciente, mantinha a possibilidade de os profissionais fazerem o uso "off label" da droga.

Em outubro de 2022, o mesmo CFM (a diretoria mudou, mas os conselheiros são os mesmos) baixou uma resolução que tira dos médicos a possibilidade de prescrever "off label" o canabidiol (CBD), um dos princípios ativos da maconha. A partir de agora, o CBD só pode ser receitado em duas situações muito específicas de epilepsia refratária a outros tratamentos, apesar de a molécula receber cada vez mais atenção da comunidade científica por seus efeitos benéficos em um amplo rol de doenças.

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Plantação de cannabis da Abrace Esperança, em João Pessoa (PB) - Adriano Vizoni - 11.set.19/Folhapress

O leitor sagaz poderia se perguntar o que aconteceu com o "respeito absoluto à autonomia do médico" nesses quase dois anos, mas eu vou me restringir a algumas observações sobre desenhos institucionais. O do CFM é feito para não funcionar. O problema de base é que ele tem dupla natureza. É ao mesmo tempo uma entidade que zela pelos interesses da classe médica e uma autarquia com poderes normativos, inclusive o de arbitrar o que é ou não "científico".

Obviamente, o lado político-corporativista prevalece sobre o técnico. É com uma pauta quase sindical, não com a da excelência na pesquisa, que os conselheiros fazem campanha e são eleitos. O resultado é que se tornou temerário pôr os termos "ciência" e "CFM" na mesma frase. Basta ver que o conselho reconhece a homeopatia como especialidade médica. Pior, nos últimos anos, o CFM se tornou linha auxiliar do bolsonarismo, o que explica o fervor quase religioso com que ele bane uma molécula associada à maconha e legitima a cloroquina.

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