Ir para a escola é a melhor coisa que uma criança pode fazer. É bom para a sociedade e para o indivíduo. Quem estuda mais se torna um trabalhador mais produtivo, o que contribui para a prosperidade coletiva. E trabalhadores mais qualificados também põem mais dinheiro no bolso. É o que a literatura chama de prêmio salarial da educação.
Ocorre que esse prêmio não é repartido irmanamente. Estudo de pesquisadores da Universidade de Zurique e da USP que ganhou reportagem da Folha mostra que, no Brasil, nos últimos 40 anos, embora tenha havido progresso educacional em todas as classes sociais, a elite, definida como os 10% mais ricos, se apropriou dos retornos salariais em proporção maior do que amealhada pelos 50% mais pobres. Os números foram 65% para o diploma de ensino fundamental, 60% para o do médio e 30% para o do superior.
Essas cifras embutem dois efeitos. Em primeiro lugar, os membros da elite tendem a ser mais titulados. É raro ver um filho de pai rico sem diploma. Já os filhos de pobres abandonam a escola com frequência. Em segundo, a persistência de uma iniquidade de 30% mesmo no ensino superior revela que há mais fatores em jogo. Um deles são as redes de relacionamentos (o pai consegue um bom emprego para o filho no escritório de um amigo).
A moral da história é que expandir a educação é um passo importante para reduzir desigualdade, mas não é garantia de que o objetivo será alcançado. Isso está em linha com um dos livros mais deprimentes que li na última década. É "The Son Also Rises", de Gregory Clark, em que o autor, analisando a repetição de sobrenomes em cargos e profissões de prestígio em vários países ao longo de séculos, mostra que a mobilidade é bem menor do que a sugerida por outras metodologias. Embora a situação na igualitária Suécia seja melhor do que na Índia das castas, mesmo no país nórdico a perenidade dos sobrenomes de elite incomoda.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.