Ian Bremmer

Fundador e presidente do Eurasia Group, consultoria de risco político dos EUA, e colunista da revista Time.

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Descrição de chapéu Governo Trump

Donald Trump enfrentará o ano mais desafiador de sua vida

Presidente dos EUA enfrentará democratas com poder no Congresso e diversos problemas no exterior

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O presidente dos EUA, Donald Trump, ao chegar na Casa Branca - Jim Watson - 7.jan.2019/AFP

Donald Trump inicia 2019 mergulhado numa batalha política acirrada com a nova presidente da Câmara, Nancy Pelosi, uma batalha que ele vai perder. Trump não pode forçar os democratas a alocar verbas para a construção de um muro entre os EUA e o México, mas conservadores influentes na mídia ameaçam castigá-lo se ele recuar. Ele acabará encontrando uma maneira de se render e ao mesmo tempo declarar vitória. E então seu ano vai ficar ainda mais complicado.

A lista de tarefas que Trump tem a cumprir em 2019 é considerável, mesmo por padrões presidenciais. Ele precisa ajudar a restaurar a confiança na economia dos EUA após três meses do maior derretimento do mercado acionário americano em muitos anos. E precisa fazê-lo em um momento em que o crescimento econômico global está começando a fraquejar.

Trump precisa assegurar ao mundo que Estados Unidos e China não se encaminham para um conflito comercial sem final à vista ou de um enfrentamento militar em escala da Guerra Fria, ao mesmo tempo respondendo às preocupações genuínas de segurança daqueles para quem a China continua a tirar proveito dos Estados Unidos, suas empresas e seus trabalhadores.

Ele terá que demonstrar progresso real em direção à desnuclearização da península coreana, persuadindo o líder norte-coreano Kim Jong-un de que ele não vai receber alguma coisa de graça. Precisa persuadir seus críticos que as promessas vagas feitas em Singapura no ano passado realmente são promissoras, sem permitir que Kim continue a desenvolver armas nucleares clandestinamente.

Trump precisa realizar a prometida retirada das tropas americanas da Síria sem aparentar estar cedendo poder e influência no Oriente Médio à Rússia e ao Irã –e sem deixar os curdos e outros aliados dos EUA à mercê do líder turco Recep Tayyip Erdogan e suas forças armadas. E, o que é mais importante, precisa executar essa retirada sem perder o pouco de confiança que o Departamento de Defesa dos EUA porventura ainda sinta em sua liderança.

Trump precisa começar a preparar sua reeleição. Com baixos índices de aprovação, dúvidas crescentes entre sua base fundamental de partidários, e após uma derrota de escala histórica nas eleições parlamentares de novembro, ele precisa desencorajar qualquer republicano de disputar com ele a indicação presidencial de seu partido e precisa encontrar uma maneira de romper a dinâmica positiva desfrutada pelos democratas neste momento.

Os obstáculos que ele enfrenta são enormes. O presidente chinês Xi Jinping não pode passar a impressão de estar se dobrando à pressão de Trump, e o sistema político e econômico chinês confere ao líder desse país armas poderosas com as quais limitar quaisquer prejuízos à economia chinesa. O líder russo Vladimir Putin pode tratar Trump como figura que tem o rabo preso, e os europeus que há muito tempo defendem uma dependência menor das proteções dadas pelos EUA agora têm à disposição os melhores argumentos que já tiveram em favor de seus planos. Para os líderes dos partidos que podem se dar ao luxo de ignorar o presidente americano, o custo da parceria com Trump é cada vez mais alto, e uma política externa pautada pelo slogan “América em Primeiro Lugar” e movida pela personalidade instável de Trump deixa os benefícios dessa parceria ainda menos evidentes.

E há os desafios domésticos. Trump foi eleito em parte porque não tinha experiência de governo. Nesse sentido, ele era a encarnação da transformação. O lado negativo, para ele, é que ele ainda não entende ao certo como o governo realmente funciona. Não é o caso de Nancy Pelosi, a adversária mais experiente, hábil e implacável que o presidente poderia enfrentar.

O partido encabeçado por Pelosi agora tem poder real nas mãos pela primeira vez desde que Trump foi eleito presidente, e os democratas pretendem utilizar esse poder para sujeitar o presidente a um grau de escrutínio que Trump nunca antes sofreu. Eles vão usar intimações judiciais para exigir documentos e obrigar membros da administração Trump a depor judicialmente sobre um sem-número de temas delicados. A paciência, calma e autoconfiança de Trump serão postas à prova de modo inédito.

E há o promotor especial Robert Mueller, que vai continuar a comandar investigações sobre praticamente todos os aspectos da vida pública de Trump: sua história como empresário, suas indiscrições pessoais, sua campanha presidencial, sua Casa Branca, seus assessores e até sua família. O relatório contendo suas conclusões pode ser entregue dentro de semanas ou meses, mas, quando for, vai abalar Washington mais que qualquer coisa vista em pelo menos uma geração.

O maior risco para Trump é que os republicanos –eleitores e legisladores— decidam que não podem mais arcar com os riscos de sua liderança. Os “escândalos” diários divulgados pela imprensa e repetidos por democratas incrédulos não vão levar os partidários mais leais de Trump ou seus representantes eleitos a mudarem de opinião. Mas, se Trump começar a ser visto como perdedor –porque líderes de outros países o estão ignorando, os democratas estão frustrando seus planos, a economia está recuando e, especialmente, se as pesquisas de opinião começarem a indicar que ele não vai conseguir vencer--, há o risco de que eles o abandonem.

Ainda estamos a alguma distância desse ponto. Quem subestima os instintos políticos de Donald Trump se engana. Poucas figuras na vida pública americana entenderam melhor que ele as origens do medo e raiva que motivam seus seguidores mais leais, e os democratas podem muito bem escolher como candidato à Presidência uma figura que motive os republicanos a apostar em Trump novamente, sejam quais forem suas dúvidas a respeito dele.

O que é certo, porém, é que 2019 será o ano mais desafiador da vida de Donald Trump.

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