Ian Bremmer

Fundador e presidente do Eurasia Group, consultoria de risco político dos EUA, e colunista da revista Time.

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Descrição de chapéu Governo Biden China

Política externa de Biden busca criar 'coexistência competitiva' com China

Washington deve tentar manter relações com países que negociam com Pequim, para não perder sua influência

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O relacionamento entre Estados Unidos e China caminha para mais confrontos —tanto porque o tema é importante demais internamente para Joe Biden para que ele busque “resetar” a relação quanto porque o presidente americano (e, a bem da verdade, praticamente todo o espectro político do país) faz objeções sérias à visão de Pequim de como o mundo deve ser administrado.

No curto prazo, isso significa que os dois países continuarão a impor tarifas e sanções um ao outro. A questão, para o resto do mundo, é até onde a administração Biden vai impor esse relacionamento agressivo EUA-China a outros países, forçando-os a optar entre Pequim e Washington.

Por sorte, a equipe da Casa Branca é composta de pessoas pragmáticas.

Então vice-presidente dos EUA, Joe Biden brinda com Xi Jinping durante visita do líder chinês a Washington
Então vice-presidente dos EUA, Joe Biden brinda com Xi Jinping durante visita do líder chinês a Washington - Paul J. Richards - 25.set.15/AFP

Não faz muito tempo, a administração Trump pressionou fortemente outros países a eliminarem equipamentos chineses de suas redes 5G. Enquanto alguns cederam à pressão —mais notadamente o Reino Unido e outros aliados eternos dos EUA, como a Austrália—, a maioria evitou estrategicamente tomar essa decisão.

A não ser que você precise desesperadamente conservar-se nas boas graças de Washington por outros motivos importantes (o Reino Unido, por exemplo, precisa de um acordo de livre comércio e de boas relações comerciais com os EUA pós-brexit), aliar-se a uma das duas superpotências econômicas do mundo hoje, excluindo a outra, é algo a ser evitado e que limita suas possibilidades de jogar com uma ou com a outra, conforme a necessidade geopolítica do momento.

E há o fato de que a maioria dos países em desenvolvimento não tem o luxo de poder recusar dinheiro e tecnologia oferecidos por Pequim (boa parte deles por meio da iniciativa da Nova Rota da Seda) para melhorar a vida de seus cidadãos. Se Washington exigir que fazer negócios com os EUA requer que não se façam negócios com a China, correrá o risco de entregar boa parte do mundo de mão beijada a Pequim —o oposto do que precisa fazer neste momento geopolítico crítico.

A equipe de Biden tem consciência disso; ela está mais sintonizada com as visões que outros países têm dos EUA do que estava a administração Trump e compreende os limites de se tentar forçar países a tomar essas decisões difíceis.

Em vez disso, está levando os EUA de volta ao princípio fundamental do capitalismo: a concorrência. O objetivo maior de Washington é “coexistir competitivamente” com a China no maior número possível de países, para garantir que nenhum deles entre completamente na órbita de Pequim.

Os EUA reconhecem a necessidade de competir com a China na distribuição de recursos e investimentos aos países que mais os necessitam —e na América Latina, na Ásia, na África Subsaariana e na Europa, essas nações também já estão sendo cortejadas por Pequim.

Esses países podem nem sempre fazer o que Washington lhes pede em um ambiente tão competitivo, mas tampouco é garantido que farão o que a China lhes pedir.

China, Terra do Meio

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Seguir essa política de “coexistência competitiva” será um desafio. A China é uma economia dirigida pelo Estado; isso significa que Pequim é capaz de empregar e direcionar empresas e recursos com mais eficiência e de maneiras que beneficiam diretamente os interesses nacionais.

Mas os EUA ainda têm muito para oferecer se agirem estrategicamente na distribuição de assistência externa e de incentivos a empresas privadas para investirem em projetos em países importantes.

E os EUA também podem utilizar sua influência para pressionar instituições multilaterais como o FMI a conceder empréstimos com termos favoráveis e com financiamento mais transparente do que os empréstimos oferecidos pelos chineses (isso sem mencionar o benefício adicional de fortalecer essas instituições multilaterais nesse próprio processo).

Já vimos países começarem a se afastar de certos projetos da Nova Rota da Seda, sinal de que alguns países destinatários começaram a reagir negativamente aos termos onerosos exigidos por Pequim para construir projetos que normalmente são de qualidade inferior aos das alternativas apoiadas pelo Ocidente.

Os setores americanos que adotam linha dura em relação à China vão fazer objeções à ideia de os EUA direcionarem dinheiro a países que também estão fazendo negócios com os chineses. Mas essa é a maneira equivocada de encarar o confronto.

A administração Biden sente confiança na capacidade dos EUA de competir com a China no âmbito internacional, fazendo uso para isso dos pontos fortes particulares dos EUA. Mais importante ainda, ela reconhece que é do interesse americano no longo prazo mostrar ao mundo por que é melhor formar parcerias com Washington que com Pequim, e não apenas simplesmente exigir que ele o faça.

Tradução de Clara Allain

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