Igor Gielow

Repórter especial, foi diretor da Sucursal de Brasília da Folha. É autor de “Ariana”.

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Igor Gielow

Com a condenação confirmada ou absolvido, o tempo corre contra Lula

Crédito: Marlene Bergamo 23.jan.2018/Folhapress PODER - Porto Alegre. Ato com na Esquina da Democracia, com a presença do ex presidente Lula, que será julgado amanha no TRF4. 23/01//2018 - Foto: Marlene Bergamo/FolhaPress -017
Lula chega a ato em Porto Alegre, onde o petista será julgado nesta quarta pelo TRF-4

Passado o Carnaval antecipado pelos extremos lulista e antilulista para esta quarta (24) em Porto Alegre, mais um sinal inequívoco da miséria civilizacional do Brasil, será hora de recolher os cacos desse propalado Dia D de Luiz Inácio Lula da Silva.

Para começar, não se trata de um Dia D, o que soa como heresia histórica à memória das praias normandas. Lula é um personagem absurdamente menor, moralmente, do que o presidente que saiu aplaudido de seu segundo mandato -que seu encolhimento seja decorrente de práticas e enganações patrocinadas por ele no cargo não está desculpado nessa avaliação.

É um político popularíssimo, dono de um terço do eleitorado por meio de decantados fatores. É personagem central do processo eleitoral. Mas também alguém condenado em primeira instância, réu em outras cinco ações e investigado em três casos. Isso para não falar da economia delegada ao duo Guido/Dilma, do mensalão e do petrolão, todas faltas de primeira grandeza.

Sintoma disso é que não se viu, até aqui, nada parecido com uma mobilização popular de relevo em favor do petista. Haverá sempre um sem-teto ou um sem-terra credenciados para tal, já que sindicalistas perderam musculatura sem a mordida do imposto que lhes foi tirada, mas daí a vermos o "povo na rua" há uma boa distância. Não confunda isso com o barulho desta quarta, que tende a ser pontual.

Para a sorte de quem carrega a chama de Lula, seus adversários são toscos quantos seus apoiadores em práticas e na difusão de cacofonia pelo pântano das redes sociais. O ex-presidente pôde, com uma generosa mão do atoleiro ético que colheu o condomínio centrista sob Temer, viver um renascimento em pesquisas de opinião. Talvez canto do cisne, mas ainda assim.

Como ironizou o escritor norte-americano John Steinbeck em 1957, talvez não seja o poder que corrompa, mas o medo de perdê-lo. Daí o alarido inconsequente do "eleição sem Lula é fraude", "é golpe" e outras desonestidades intelectuais pespegadas não só pelos brucutus habituais, mas por gente que se diz, bem, "intelectual".

Se o senso comum insinua que uma improvável absolvição acabaria com o embuste, esqueça. Viraria, como tudo no teatro lulista, mais um slogan para o palco sem fim no qual o petista se encontra desde o fim dos anos 1970. Isso não é, ressalve-se, uma avaliação jurídica —isso é trabalho para os desembargadores.

Com a condenação confirmada ou não, e aí está inclusa a eventualidade de um pedido de vista do caso, o tempo continua a correr contra Lula. Como um vampiro vislumbrando os primeiros raios da manhã, ele precisa esticar a confusão a seu redor até encontrar abrigo e evitar a claridade que pode evidenciar sua natureza. Parece tarde, e o potencial disruptivo de sua insistência será conhecido ao longo deste ano.

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