Igor Gielow

Repórter especial, foi diretor da Sucursal de Brasília da Folha. É autor de “Ariana”.

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Igor Gielow

Alckmin aguarda resultados da intervenção para definir tática

Tucano é cético sobre ação, que pode trazer dividendos eleitorais ao governismo

Chega a ser comovente o esforço dos operadores políticos do governo Michel Temer. Primeiro, seria a economia crescendo a galopes que salvaria a imagem do presidente e o tornaria candidato natural à reeleição ou a "kingmaker" do pleito de outubro.

Bom, a reforma da Previdência morreu e o mundo não acabou no dia seguinte, como a propaganda oficial jurava que iria ocorrer. Ao contrário, a famosa precificação do evento já estava dada pelo mercado há um bom tempo. Claro, a questão é urgente e peca por cegueira ideológica ou má-fé quem nega o problema o calendário é que foi deslocado.

Agora é a vez da segurança pública, com a longamente adiada intervenção federal na área da segurança do Rio de Janeiro. Segundo os "spin  doctors" planaltinos, a agenda positiva tornou a candidatura Temer uma realidade incontornável e tal. É um despropósito.

Se der certo, e a régua pela qual é medido um sucesso em decisão tão delicada varia de acordo com o ponto de vista do freguês, a intervenção obviamente dará ganhos ao presidente. Mas quais?

Quem diz acreditar numa candidatura Temer vê a chance de ele ao menos embolar um pouco o tal do centro, garantindo peso em negociações de segundo turno. Os mais realistas veem o presidente querendo acabar seu tumultuado mandato com voz ativa, em especial na inevitável conversa que estabelecerá com aquele que por ora vai herdando o estandarte do centro (centro-direita, campo conservador, escolha o nome): Geraldo Alckmin, virtual presidenciável do PSDB.

Não será automático. O tucano Alckmin tem pavor dos miasmas de impopularidade que emanam do Planalto, amparado em intuição e pesquisas. Sintomaticamente, deu declarações públicas bem neutras acerca da intervenção no território localizado após o seu vale do Paraíba natal. Em privado, a conversa é outra: nos encontros que teve em que falou sobre o assunto, Alckmin classificou de inócua a eleitoreira a motivação de Temer no episódio.

Isso, contudo, não é imutável. Como a cada vez mais cristalizada candidatura tucana de João Doria ao governo do Estado prova, Alckmin  cede quando a realidade se torna inexorável. E segurança é um tema sensível para quem governa o maio Estado da nação há tanto tempo. Para tanto, ele usará de sua tática preferida, a da espera.

No caso, aguardar pelos resultados mais imediatos da intervenção que na prática ainda não começou a ocorrer e que, queiram ou não os ideólogos do politicamente correto, deverá ser inicialmente aprovada pela população.

O médio e o longo prazo, que dependem da precisão do plano ora em elaboração para atacar a questão da corrupção policial, é outra história, descolada do calendário eleitoral. Um otimista poderia torcer para que a inevitável discussão sobre a segurança pública na campanha, como já apontavam pesquisas, viesse acompanhada de um debate racional sobre a implosão das contas públicas estaduais que andam de mão dadas com o problema. Mas aí já é querer demais.

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