Igor Gielow

Repórter especial, foi diretor da Sucursal de Brasília da Folha. É autor de “Ariana”.

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Igor Gielow

Novo presidente enfrentará Congresso disfuncional e poderoso

Mesmo destroçado pela Lava Jato, nunca teve tanto poder desde a redemocratização

Apesar dos sobressaltos que afetam o ritmo da política brasileira desde 2013, ainda há alguma obediência residual às leis naturais que ditam do processo partidário e eleitoral do país.

Nuvens de tempestade se formam perto do Congresso, em Brasília
Nuvens de tempestade se formam perto do Congresso, em Brasília - André Borges - 31.jan.2013/Folhapress

Uma das mais famosas determina que o ano efetivamente começa após o Carnaval. Há algo de embuste na assertiva, ainda mais quando o principal fato político a determinar a ordem do carteado de 2018 já ocorreu quando Lula foi virtualmente tornado inelegível após a condenação em segunda instância por corrupção no fim de janeiro.

Mas o jogo tem algumas surpresas. Em algum momento a partir desta quarta (14), é bastante provável que fique estabelecida ou não a presença de Luciano Huck à mesa. Quem o ouviu durante o feriado definiu seu estado de espírito como profundamente dividido, e certamente a barragem preliminar de informações sobre seus negócios relembrou seu círculo sobre o que é ser candidato a qualquer coisa no Brasil.

Seja como for, a decisão irá impactar bastante as mãos à disposição de Geraldo Alckmin (PSDB-SP), o muito contestado presidenciável (ainda não o é, aliás, há uma prévia no caminho) tucano. Mas não só ele, já que uma candidatura Huck tem poder de estabelecer um polo competitivo ao centro. Se ela ganharia capilaridade regional e os tão necessários palanques e tempo de TV, é questão a ver e que depende de parceiros no jogo.

O mercado teme que tal configuração possa abrir caminho para o que é considerado por aquelas paragens um pesadelo: um segundo turno entre Jair Bolsonaro em algum nome à esquerda. Para tanto, considera que Alckmin e Huck dividiram espaço, o que soa algo improvável, e a ascensão de um esquerdista viável, algo que parece impossível.

Seja como for, a constante no cenário é o cassino em si. Os crupiês de sempre estarão cobrando dos jogadores suas participações assim que o jogo terminar. Até pela qualidade do material humano de nossa representação política, ao longo dos últimos anos aumentou bastante o menosprezo pelo Congresso Nacional. Justo.

Mas esqueça questões de gosto ou estilo. Mesmo destroçado pela Lava Jato, que demoliu lideranças mais tradicionais ao expor suas práticas impublicáveis, o Congresso vive um paradoxo: nunca a instituição teve tanto poder desde a redemocratização. No esquema das coisas, e isso não é bonito de constatar, o mordomo que vem à cabeça na cena do crime é a fraqueza do Executivo desde Dilma, desembocando no tal semiparlamentarismo de Temer.

Seja como for, ao fim este Congresso ajudou a derrubar uma presidente e deixou outro, logo ele um prócer de seus quadros, de mãos amarradas quando lhe foi conveniente.

Como a eleição deste ano criará um boitatá novidadeiro, com candidatos de configuração exótica dividindo espaço com uma baixa renovação por cortesia das regras eleitorais, o novo inquilino do Planalto terá um monstro babando à sua porta no dia 1º de janeiro. Disfuncional e poderoso, ainda que a urnas tendam a dar poder momentâneo ao novo presidente.

Inescapável a lembrança de um ícone dessa era, o hoje detento Eduardo Cunha, no ápice de seu poder temporário: "Que Deus tenha misericórdia dessa nação".

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