Igor Gielow

Repórter especial, foi diretor da Sucursal de Brasília da Folha. É autor de “Ariana”.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Igor Gielow
Descrição de chapéu Copa do Mundo

Um espectro chamado Navalni, o herói da vez

Ativista e blogueiro, ele foi libertado após cumprir 30 dias de detenção na estreia da Copa

A mídia ocidental, notadamente a britânica, sempre procurou na Rússia de Vladimir Putin figuras que pudessem encarnar um certo espírito democrático a enfrentar o regime do presidente.

Invariavelmente elegia gente inexpressiva internamente, como o enxadrista Garry Kasparov, ou não compreendia as matizes de personagens mais integrados à vida pública russa.

Alexei Navalni é o herói da vez, com a diferença de que ele já fez muito barulho por aqui. Ativista e blogueiro, ele foi libertado após cumprir 30 dias de detenção justamente no dia da estreia da Rússia na Copa.

O mais famoso opositor de Putin pegara a pena máxima por fazer um protesto não autorizado contra a posse do presidente no dia 5 de maio, mas só foi sentenciado depois.

Coincidência para puni-lo e, ao mesmo tempo, tê-lo fora da cadeia a tempo do Mundial, quando 5.000 jornalistas do mundo todo estão de olho nas nuances russas?

Impossível não é, como quem assistiu ao pungente "Leviatã" (Andrei Zviagintsev, 2014), filme sobre as peculiaridades do sistema judicial russo, sabe bem. Qualquer que seja a explicação, o fato é que o espectro de Navalni ronda o Kremlin. Mas quem é ele?

Figura secundária nos protestos contra Putin de 2012, cinco anos depois ele montou uma rede com alta capilaridade entre jovens para apurar denúncias de corrupção. A mobilização se converteu em atos gigantescos, convocados pela internet. Seus métodos são questionados pela oposição tradicional, e muitos veem nele um peão nas disputas de poder do Kremlin.

Significativamente, ele não tem densidade eleitoral, tendo patinado em 1% das intenções de voto da eleição presidencial que não pôde disputar em março --ele tem uma condenação que considera persecutória nas costas.

Para complicar, Navalni parece ter perdido um pouco do gás de 2017, protagonizando altercações públicas com outros oposicionistas. A Copa seria o momento perfeito para agir e amplificar sua mensagem contra o regime. Seus seguidores estão à espera de uma ordem, mas ninguém sabe dizer se ela virá.

Se vier, a repressão será certa, provando o ponto do ativista. Nessa hipótese, Putin será posto à prova. A última coisa de que o Kremlin precisa é de jovens sendo chicoteados por cossacos nas ruas de Moscou, cheias de turistas e jornalistas. É uma partida de xadrez, não futebol, a que disputam.

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.