Igor Gielow

Repórter especial, foi diretor da Sucursal de Brasília da Folha. É autor de “Ariana”.

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Igor Gielow

Como um meteoro, eleição presidencial se aproxima do mundo real em silêncio

Mundo político e mercado financeiro se exasperam, mas campanha ainda é escassa na realidade

Quem fez a observação foi um experiente político paulista, veterano de tantas eleições que desistiu de concorrer nesta. No mundo real, o pleito presidencial aproxima-se de forma silenciosa, quase como o proverbial meteoro a esgueirar-se pelo cosmo até brindar-nos com a extinção.

Candidatos a presidente no primeiro debate da campanha do primeiro turno, em SP
Candidatos a presidente no primeiro debate da campanha do primeiro turno, em SP - Marlene Bergamo - 9.ago.2018/Folhapress

De fato, parece haver uma certa dessensibilização do eleitorado faltando pouco mais de um mês para o primeiro turno. Passados alguns dias do início do horário eleitoral, a campanha federal não deu sinais de ter pegado fora do mundinho político e do mercado financeiro.

Parte disso tem a ver com o engessamento das regras e o dinheiro teoricamente mais escasso —o quanto está sendo operado no caixa dois, saberemos invariavelmente só nos próximos capítulos.

Mas há também uma contradição intrínseca. Essa talvez seja a disputa na qual os pré-candidatos mais falaram em entrevistas, sabatinas e afins na história recente. Uma vez oficializados, tudo de novo, com a adição dos debates.

Tem até embate de candidato a vice, o que de resto é bem útil dado o histórico recente dos ocupantes do cargo. A internet replica tudo o que foi dito, com as devidas distorções, réplicas, checagens e rechecagens, o diabo.

Vive-se um cenário de saturação que poderia integrar os ensaios dos anos 1970 de Susan Sontag sobre a guerra do Vietnã, discutindo a diluição do interesse público devido à banalização de fotos medonhas do conflito.

Naturalmente, como se trata de uma eleição, tal contexto é até desejável. Podem reclamar do que for, e certamente o raro petista que ler este texto vai gritar Lula Livre ou algum proselitismo do tipo, mas nunca tantos foram tão perguntados sobre tantas coisas.

A cacofonia é saudável, ainda que na maioria das vezes as respostas ensejem desespero em graus variados.

Mesmo o desinteresse atestado até aqui teoricamente nos aproximaria de democracias mais avançadas. Países normais raramente vivem a sofreguidão ora experimentada no mercado e na política, meios imiscíveis, mas unidos pela ansiedade.

A campanha deverá transbordar, em alguma medida, para a realidade. Até lá, degustaremos a jabuticaba do amortecimento sem normalidade.

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