Igor Gielow

Repórter especial, foi diretor da Sucursal de Brasília da Folha. É autor de “Ariana”.

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Brasil precisa resistir à tentação da intervenção na Venezuela

Militares até aqui se sobrepõem aos olavistas, entusiastas de saídas heterodoxas

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A terça-feira (30) amanheceu com um ar de virada de mesa da oposição venezuelana, só para acabar como sempre: com o núcleo militar da ditadura de Nicolás Maduro cerrando fileiras em torno de seu provedor.

Opositor à ditadura de Maduro com pedras em protesto em Caracas nesta terça (30)
Opositor à ditadura de Maduro com pedras em protesto em Caracas nesta terça (30) - Ueslei Marcelino - 30.abr.2019/Reuters

Porque é disso que se trata, de um grupo notoriamente corrupto que infiltrou-se na estrutura econômica estatal do regime, leia-se a indústria petrolífera —fora outras associações menos nobres, que carecem de comprovações apesar dos tuítes dos Bolsonaros chamando Maduro de narcoditador.

Todos filhos da aberração chavista, esta por si rebento da insatisfação popular com os desmandos de sua elite. Não há história bonita, ou santos, na América Latina.

A quarta-feira pode, por óbvio, desmentir a terça. Houve de fato uma mudança na gravidade potencial dos entrechoques e, como torcem os opositores venezuelanos e seus apoiadores comandados pela Casa Branca, fissuras maiores poderão surgir.

O Brasil por ora se comporta com a prudência necessária. Dá nome aos bois (Maduro é um ditador) mas, apesar das estranhas movimentações e as motivações no coração olavista de seu chanceler, até aqui mantém a sobriedade acerca da possibilidade de intervenções.

Elas poderiam vir, e aí os militares topariam sem pestanejar, na forma de um mandato da ONU (Organização das Nações Unidas) para pacificar o país. Mas isso não irá ocorrer, dado que Rússia e China têm poder de veto no Conselho de Segurança e os militares ainda sustentam seu aliado Maduro.

Pode mudar, claro, caso a cúpula militar em Caracas se sinta segura de uma anistia ampla e da manutenção de seus privilégios em uma transição de governo, ou se houver algum evento exógeno extremo —a decapitação do regime, em português, desde que combinada com os russos (de forma metafórica ou não). Mas o jogo é esse no momento.

Alguém poderá sussurrar OEA (Organização dos Estados Americanos), definida candidamente à Folha pelo chefe da diplomacia russa para a América Latina, Aleksandr Schetinin, como uma espécie de cartório do governo Donald Trump.

Há precedentes: em 1965, logo depois do golpe militar por aqui, os EUA levaram o Brasil e outros países a intervir num conflito na República Dominicana por meio da entidade. Não é uma história edificante.

São possibilidades à mesa e que dependem do sabor dos ventos em Caracas, até a noite de terça favoráveis à ditadura. A cada tentativa de dia glorioso de libertação nacional, o opositor Juan Guaidó sai menor. Há havia sido assim na tentativa de trazer ajuda por fronteiras que Maduro considera hostis, Brasil e Colômbia.

O paradoxo é que o ditador também não ganha musculatura com eventos assim. Se mantém onde está, com a pressão incomensurável que a tragédia humanitária que preside só ganhando tração. Por quanto tempo a equação vai durar, ou se enfim haverá um “deus ex-machina” orientado por Washington para mudar a história, eis a grande questão.

Com as brumas do imprevisível tomando o ar, resta ao Brasil esperar. Movimentações estranhas a isso, que estão no centro das disputas entre militares e olavistas no poder, teriam consequências ainda mais insondáveis. Exposição desnecessária das Forças Armadas, envolvimento em morticínio na vizinhança e crise humanitária redobrada na fronteira são alguns dos temas que perpassam a conversa.

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