Igor Gielow

Repórter especial, foi diretor da Sucursal de Brasília da Folha. É autor de “Ariana”.

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Bolsonaro se encastela enquanto adversários discutem a relação

Problema do presidente é economia e articulação; esquerda e centro seguem perdidos

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O crescente encastelamento de Jair Bolsonaro (PSL), explicitado nos movimentos encimados pelos atos de domingo (30), está estimulando grupos políticos a pensar sobre próximo capítulo do debate político brasileiro, após a provável aprovação da reforma da Previdência —quando isso ocorrerá, é outra questão.

Bolsonaro e Rodrigo Maia durante entrevista coletiva na Câmara dos Deputados
Bolsonaro e Rodrigo Maia durante entrevista coletiva na Câmara dos Deputados - André Coelho - 4.jun.2019/Folhapress

A um ano de uma campanha municipal, o cenário é de desolação. A começar pelo dono da bola, o presidente eleito com 55% dos votos no segundo turno de 2018. Os buracos entre grupos de manifestantes no asfalto da avenida Paulista demonstraram algo óbvio: o apoio a Bolsonaro existe e não é desprezível, mas está se fragmentando.

Mais complicado para ele pelo fato de que o ato era, teoricamente, mais em desagravo à Lava Jato e a Sergio Moro do que em apoio ao governo. Logo, se aquilo era a fotografia dos 30% que todas as pesquisas apontam como aprovação da gestão, terá de ser revisto como estratégia de pressão. Para piorar mais ainda, as fraturas entre os grupos de direita se pronunciaram, e são eles que dão organicidade a esse tipo de manifestação desde 2016.

Mirando a esquerda, nada melhor. Nos seis meses de balbúrdia bolsonariana, só coube ao PT manter acesas do culto místico do Lula Livre e chorar as pitangas a cada passo dado pelo novo governo —em favor dos petistas, contam-se acertos nos dedos de uma mão, mas isso tende a ser irrelevante num país que está majoritariamente à direita do centro.

Alguém poderá dizer que o bolsonarismo até reorganizou guildas, como a dos estudantes e de pesquisadores em universidades. O problema, como sempre, foi o sequestro narrativo: o movimento em favor da educação, que começou com força, diluiu-se nas pautas de sempre já rejeitadas por 2/3 do eleitorado. Líderes? Confortáveis signatários de artigos mal escritos e manifestantes de gabinete.

Resta então o centro e a centro-direita, esse ente gelatinoso cujo freguês usual resolveu trair em favor de Bolsonaro na eleição passada. Tudo indica que ele, integrante do terço final da massa votante, não gostou muito do que comprou e está de novo na praça.

Não faltam conversas. Recentemente, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), convidou os chefes de partidos do centrão e o tucano Geraldo Alckmin, candidato humilhado em 2018 que fora apoiado por eles, para uma conversa sobre o futuro.

Especulou-se sobre oposição aberta a Bolsonaro, e também sobre alguma variante de parlamentarismo branco. Nada prático saiu, exceto a notável ausência do atual presidente do PSDB, Bruno Araújo, visto como preposto do governador João Doria (SP).

Dado que Maia e Doria mantêm forte ligação e operaram juntos no encaminhamento da reforma da Previdência, causou certo estranhamento o arranjo. Não menos porque Doria por ora surge, a contragosto, como o antípoda possível a Bolsonaro em 2022 —considerando que os danos impostos a Sergio Moro acabem por inviabilizar suas eventuais pretensões eleitorais, o que é insondável agora.

Aqui o problema central é conhecido. Doria e Bolsonaro, com claras diferenças, correm numa mesma raia retórica. O outro nome que está no aquecimento, o do apresentador Luciano Huck, ainda é visto como muita desconfiança por parte dos líderes partidários. Após abortar a largada em 2018, considerando política e bolso na equação, o global ainda não inspira grandes ânimos —por mais que esteja em plena movimentação.

Como o clichê diz que política não aceita vácuo, o recuo de Bolsonaro tão rapidamente à sua base original faz sentido. Melhor fidelizar o que já se tem, e aliados do presidente não se cansam de repetir o exemplo de Donald Trump nos EUA, e sair com uma posição básica consolidada lá na frente.

O ídolo do bolsonarismo pode ser hoje o líder menos bem visto no mundo e, talvez, dentro de seu próprio país. Ainda assim, mobilizando sua base, segue por ora confortável na sua busca pela reeleição em 2020 —o fato de os democratas estarem mais perdidos do que tucanos e demistas ajuda.

Mas o mais importante, e isso não está colocado no Brasil no horizonte visível, é que lá a economia está a pleno vapor, e há operadores políticos de fato ao lado de Trump. Assim, a reorganização de governo que Bolsonaro anda a operar inspirado pelos ventos olavistas de Virgínia combina com o movimento eleitoral mais amplo, mas não garante nada num país que namora a recessão.

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