Igor Gielow

Repórter especial, foi diretor da Sucursal de Brasília da Folha. É autor de “Ariana”.

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Adversários repetem PSDB em 2005 e deixam Bolsonaro correr solto

Esquerda acha que ele vai se imolar; centro espera a economia para adotar tática

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Faltam ainda quase 100 milhões de segundos para o primeiro turno da eleição presidencial de 2022, mas o tal mundinho político só fala em perspectivas para o pleito, mesmo sem dar um pio público.

O presidente Bolsonaro gesticula em reunião sobre a Amazônia no Palácio do Planalto
O presidente Bolsonaro em reunião sobre a Amazônia no Palácio do Planalto - Marcos Corrêa - 27.ago.2019/Presidência da República

Jair Bolsonaro lembra aqueles monges que se imolavam no Sudeste Asiático nos anos 1960, só trocando o fogo literal pela verborragia incontrolável. Se já havia enorme mau humor mundial com sua figura, a crise das queimadas amazônicas ajudou a torná-lo um candidato a monstro. Se isso terá tanto impacto aqui dentro, é algo a ver.

É possível também fazer uma digressão sobre a hipocrisia ocidental encarnada no oportunismo de Emmanuel Macron, claro, mas quem ofendeu a mulher do outro e antecipou o debate com uma longa série de ataques aos órgãos ligados ao ambiente foi Bolsonaro. Não se chega tão baixo assim facilmente, convenhamos. Do ponto de vista de imagem internacional, é batalha perdida.

Voltando, a desgraceira que vai definir se Bolsonaro será um histriônico e talvez perigoso pato manco não acompanha a fumaça de Roraima. Está nas projeções de dificuldades econômicas e no seu reverso, a eventualidade de uma melhoria ora inaudita, mas para a qual há uma torcida institucional razoável.

Assim, sobra o silêncio —todo mundo está escaldado pelo fracasso de previsões acerca do bolsonarismo em 2018. Fora o desgosto pela vergonha que o presidente impõe ao país lá fora, não se ouve nada muito concreto dos líderes partidários mais importantes, embora eles discutam o assunto o tempo todo.

A esquerda segue acocorada no canto de uma cela em Curitiba, esperando alguma tornozeleira eletrônica para liberar outro verborrágico notório, Lula, e recuperar algum norte. É notável que ninguém fale organicamente pelo campo, como se apenas os instintos suicidas políticos de Bolsonaro fossem resolver tudo. Tal avaliação foi feita pelo PSDB em 2005, achando que Lula naufragaria sozinho no ano seguinte devido ao mensalão; deu no que deu.

Já o centro, essa amálgama brasileiríssima, já vê dois caminhos por ora, embora na prática também deixe o presidente correr solto. Um é mais natural e bastante turbulento, que é a formação da candidatura João Doria. O governador tucano de São Paulo tem se movido no tabuleiro, com a certeza das dificuldades, mas fazendo apostas de afastamento do presidente cada vez mais claras, como cortejar Sergio Moro.

A outra via hoje se chama Luciano Huck, e é bastante mais incerta. Nenhum dirigente dos grandes partidos se diz convencido de que o apresentador global vez abrirá mão de suas arcas de dinheiro e enfrentará o escrutínio devastador que uma campanha oferece. Quase o fez para 2018, só para desistir. Agora, tem se mexido muito e dado opinião sobre qualquer tema nacional, mas ainda é algo inconvincente.

Com isso, chegamos ao paradoxo da vez. Bolsonaro é o culpado único pelas aflições de seu governo, e com isso convida um debate sucessório ridiculamente antecipado.

Ao mesmo tempo, por temor de queimar a largada e a grande interrogação econômica à frente, os atores mais relevantes do processo se mantêm discretos, permitindo que o presidente ocupe a narrativa nacional com seus disparates —que uma hora podem vir a ser trocados por boas notícias econômicas, e aí os adversários terão um problemão à frente.

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