Igor Gielow

Repórter especial, foi diretor da Sucursal de Brasília da Folha. É autor de “Ariana”.

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Bolsonarismo comemora ação da PF contra Bivar, e isso é péssimo

Oportunidade do ataque do presidente a seu partido gera desconfortáveis suspeitas

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Luciano Bivar é um daqueles típicos donos de cartório político que pululam pelo país, e passaria à história despercebido em alguma nota de rodapé não fosse o fenômeno que levou Jair Messias Bolsonaro à Presidência em 2018.

Luciano Bivar e Jair Bolsonaro no dia em que acertaram a entrada do então pré-candidato no PSL
Luciano Bivar e Jair Bolsonaro no dia em que acertaram a entrada do então pré-candidato no PSL - Diego Nigro - 5.jan.2018/JC Imagem/Folhapress

Tudo sobre seus métodos e aqueles de seus lugares-tenentes cheira ao pior que se faz paróquias eleitorais Brasil afora, e o esquema das candidaturas laranjas aproveitando uma regra politicamente correta e impraticável, um exemplo clássico do oportunismo desse estrato da vida pública.

Assim, nada mais natural que as investigações do caso tenham batido à porta do mandachuva do PSL, com direito a visitas de cortesia da Polícia Federal.

A reação inicial do entorno de Bolsonaro, de usar a operação como uma espécie de aval ao grupo leal ao presidente na disputa com Bivar, contudo, exala um odor bem mais sulfúreo do que as transações vulgares investigadas até aqui.

Ela passa um recibo sombrio sobre a conveniência da operação desta terça (15), que demorou quase dois meses para ser autorizada pelo Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco. Se o atraso depõe contra a natural insinuação de uso político da PF no caso, não deixa de ser bastante estranho em termos de “timing”.

Principalmente porque muitos no mundo político não entenderam o destrambelhamento de Bolsonaro ao precipitar-se contra Bivar na semana passada. Ganha desconfortável verossimilhança a hipótese de que o presidente estivesse informado da iminência da decisão da Justiça e a consequente ação da polícia que responde a Sergio Moro, por ora em fase de afagos com o chefe.

Essa é uma das desgraças do Brasil sob a gestão tuiteira da família Bolsonaro: tudo parece suspeito o tempo todo, até porque essa é a forma com que o clã interage com o mundo. No próprio caso do laranjal, quando o citou, o presidente acusou a PF de "má-fé".

Já agora, como disse um governista, é inevitável a artilharia dos dois lados: bolsonaristas verão uma prova de que Bivar está sujo, a defesa do chefe do PSL dirá que houve perseguição.

É um caso perdido e significativo da degeneração das práticas políticas. Não só aqui, mas no mundo todo, como a condução do debate sobre o impeachment de Donald Trump se dá nos EUA. Trump, aquele mesmo que Bolsonaro diz amar, mas cuja reciprocidade na prática não é lá aquelas coisas.

O objetivo primário de Bolsonaro é chutar Bivar da sigla e gerir a montanha de dinheiro para campanha que ela auferiu nas costas de sua eleição ao Planalto. Se não der, o plano B é garantir uma saída para si e para o resto do pessoal do grupo do WhatsApp da Câmara —no caso desses, a coisa é agravada pelo risco de perda de legenda, o que pode ser juridicamente atenuado se for provado que o chefe da lojinha é culpado.

Assim como o ídolo na Casa Branca, Bolsonaro e os seus não têm escrúpulos ao tratar dos interesses mais comezinhos que lhe dizem respeito. Tudo isso é péssimo para a democracia.

Querendo ou não, isso ajuda a turvar o que deveria ser o caráter impessoal e, para ficar num clichê dos mais gastos, republicano do funcionamento do mecanismo jurídico e policial no país —que já não anda nos seus melhores dias.

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