Ilona Szabó de Carvalho

Presidente do Instituto Igarapé, membro do Conselho de Alto Nível sobre Multilateralismo Eficaz, do Secretário-Geral. da ONU, e mestre em estudos internacionais pela Universidade de Uppsala (Suécia)

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Ilona Szabó de Carvalho

Mulheres, nosso voto pode virar o jogo

Nossas escolhas têm o poder de construir um país mais humano

As mulheres brasileiras querem superar a devastadora polarização que divide nosso país. Elas já descobriram que a gritaria dos extremos nos distrai das discussões essenciais sobre o que realmente pode melhorar ou piorar nossas vidas. Nas últimas pesquisas eleitorais, a maioria das mulheres sinaliza que não se sente representada pelos candidatos que lideram as intenções de voto na corrida eleitoral mais surrealista da nossa história. 

Nós mulheres temos o poder de decidir esta eleição. No Brasil, há 7,5 milhões de eleitoras a mais do que eleitores. Na pesquisa Datafolha da última quinta-feira, 51% das mulheres afirmaram ainda não saber em quem votarão (38%) ou pretender votar nulo ou branco (13%).

Isso corresponde a 39,4 milhões de eleitoras e totaliza 27% de todo o eleitorado. E o que essas eleitoras, divididas em grupos de todas as faixas etárias, estão buscando? Arrisco-me a dizer que algumas buscam entender o real impacto das propostas dos candidatos em seu dia a dia. Intuem que o que se fala para ganhar votos muitas vezes não se cumpre ou não deveria ser feito. Querem encontrar referências reais às suas preocupações imediatas e futuras.

Quais propostas poderão de fato aumentar as vagas e a qualidade das creches, melhorar a mobilidade urbana para que as mães trabalhadoras que se deslocam por grandes distâncias consigam passar mais tempo com seus filhos? Que políticas vão controlar a inflação e os juros sem gerar mais recessão e desemprego, mantendo o preço do gás de cozinha acessível e permitindo que as crianças terminem a escola e não precisem trabalhar tão cedo para ajudar a pagar as contas da casa? 

Outras contrastam as propostas dos favoritos do momento com seus valores e com os valores que gostariam de ver fortes em nossa sociedade. Sentem um enorme vazio e uma profunda preocupação com caminhos individualistas que promovem a força bruta e não a inteligência emocional e estratégica que se constrói com uma educação integral e com o exercício da cidadania.

Não aguentam mais machismo, tratamento e declarações ofensivas que as desrespeitam moralmente. São muito capazes e sabem que não devem ganhar menos. Querem ordem e ética mas não a qualquer preço. Não acreditam em salvadores da pátria e em soluções autoritárias.

Sabem também que a proposta de armar cidadãos é uma piada de mau gosto que trará ainda mais violência e sofrimento humano. E que além disso ignora os terríveis impactos da exposição à violência na primeira infância, o trauma de tantos alunos que experimentam violência nas escolas ou têm aulas interrompidas por tiroteios, a dor do imenso número de mulheres que sofrem constantemente violência física e sexual de companheiros e desconhecidos e choram as mortes de filhos jovens nesse país todos os dias. 

Mulheres do meu Brasil: nossas escolhas têm o poder de construir um país mais humano, eficiente e sustentável para as próximas gerações, como mostram diversas mobilizações recentes. Temos candidata a presidente e vices que são mulheres, além de inúmeras candidatas que concorrem ao Legislativo.

Devemos avaliar suas trajetórias e propostas com cuidado, procurar uma visão com a qual nos identificamos. Vamos usar nosso voto com a responsabilidade que nos é cobrada desde cedo, com o amor que criamos nossos filhos. Ainda podemos virar esse jogo da polarização e, a partir da sociedade, apoiar a construção de um governo para todas e todos, onde as alianças sejam feitas com o interesse público no centro da tomada de decisão.

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