Como sobreviver ao século 21? Primeiro, aceite que a certeza é uma ilusão. Em outras palavras, espere o inesperado. Segundo, seja bayesiano e atualize suas crenças ao obter novas informações. Terceiro, incline-se a empurrar as pessoas na direção certa. Esses insights da economia comportamental são usados por tomadores de decisão bem-sucedidos para melhorar as políticas públicas. Aprendi essas e outras lições nas duas últimas semanas, no curso Liderança Global e Políticas Públicas para o Século 21 da Kennedy School, na Universidade Harvard.

Em dias intensos junto a 70 membros da rede de lideranças globais do Fórum Econômico Mundial, entre novos e velhos amigos, estavam líderes políticos; empreendedores, incluindo unicórnios; investidores dedicados não só ao lucro, mas à reinvenção do capitalismo; artistas; refugiados; e ativistas de sucesso de todos os continentes. No currículo, três assuntos principais: como tomar melhores decisões em cenários previsíveis e imprevisíveis, como liderar rumo ao desconhecido e quais são os grandes temas que definirão o nosso futuro.

Muitas aspirações para pouco tempo. Reflexões preciosas a compartilhar. Além dos aprendizados do início do texto, os professores Dan Levy e Iris Bohnet nos deixaram alertas: nosso viés de confirmação nos impede de procurar e avaliar as informações objetivamente e um dos papéis mais importantes de assessores é dizer quando estamos errados. Esse último ponto foi reforçado por Iris que sublinhou a importância da diversidade em times e nos ensinou como promover igualdade de gênero por design. Seu livro sobre o tema é imperdível.

Na jornada da liderança, Rosabeth Kanter nos diz para ter coragem para contemplar ideias fora do prédio (caixinha não basta), e dividiu lições do seu próximo livro: sonhe alto, construa coalizões e conecte ideias existentes sob uma ampla tenda. Também nos lembrou que não há um caminho fácil para a inovação, você vai encontrar obstáculos. E quando chegar esse momento, seja flexível, repense. Os fracassos vêm da rigidez, ingenuidade e desconexão com a missão ou ideia principal. Inspire. Seja o exemplo que quer dar. Cerque-se de pessoas otimistas. Lidere permitindo que outras pessoas floresçam.

Outro destaque foi a embaixadora americana Samantha Powers ao ressaltar a importância de se manter o diálogo e buscar a humanidade mesmo em nossos maiores adversários. Seu artigo publicado no New York Times sobre as trocas com o embaixador da Rússia, Vitaly Churkin, é leitura fundamental para tempos polarizados. Archon Fung fez um sério alerta: hoje o processo político, e não a virtude, determina o líder. Isso precisa ser mudado.

Lawrence Summers aconselhou que podemos fazer qualquer coisa, mas não tudo: descubra o que mais importa para você e siga em frente. David Gergen nos falou sobre lideranças autênticas e nos trouxe o senso de urgência e o dever de ampliar nosso engajamento cívico para vencer o populismo e a polarização. Fechamos com uma aula emocionante sobre liderança rumo ao desconhecido com o professor Dutch Leonard, que nos fez um simples, porém esclarecedor lembrete: somos humanos. Sejamos otimistas pragmáticos, mas não nos deixemos prender a expectativas irrealistas. Precisamos saber dizer basta, recuar quando preciso, e voltar a tentar.

Muita informação, eu sei. Levarei tempo para digerir, mas no espírito de construir coalizões para enfrentar nossos imensos desafios, divido a formação para a jornada rumo ao desconhecido com vocês.