Ilona Szabó de Carvalho

Presidente do Instituto Igarapé, membro do Conselho de Alto Nível sobre Multilateralismo Eficaz, do Secretário-Geral. da ONU, e mestre em estudos internacionais pela Universidade de Uppsala (Suécia)

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Ilona Szabó de Carvalho

Desejos para 2021 e depois

Parte da sociedade ainda não percebeu que estamos no início de uma nova era

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Estamos chegando ao final de 2020. Um annus horribilis que ficará marcado na história de nossa civilização.

Ano que interrompeu precocemente sonhos, projetos, negócios e vidas. Muitas vidas. E não só por mera fatalidade, mas por escolhas erradas e egoístas de alguns governantes populistas ainda piores do que os tempos que vivemos.

Ano cuja palavra definidora foi luto, e que escancarou as mais sérias mazelas que nossas sociedades teimavam em colocar para debaixo do tapete. Isso não será mais possível.

É verdade que parte significativa da nossa sociedade ainda não se deu conta de que estamos no início de uma nova era. Ainda vamos conviver por bastante tempo com celebridades que dão festas para centenas de pessoas em meio à pandemia, com instituições da República pedindo para passar na frente de grupos prioritários na fila da vacina, e com a parte rentista da elite que se alia ao pior da política fisiológica para extrair valor da coletividade, concentrar poder e proteger seus privilégios.

Essas pessoas ainda não entendem a importância dos bens públicos, e não perceberam que o seu bem-estar está atrelado à redução das desigualdades e à construção de um país mais justo, sustentável e próspero para todos.

Para os que já despertaram, pode ser frustrante encarar essa realidade, mas sabemos que a única forma de resolver os nossos imensos desafios comuns é trabalhar de forma colaborativa, dentro e fora do nosso país.

Para isso, temos que sair da lógica da polarização e buscar os consensos mínimos entre pessoas que pensam diferente, mas que dividem as mesmas preocupações e objetivos. Mesmo que ainda detenham o poder, o tempo dos predadores e dos que têm ímpeto de destruição está contado. Ainda causarão sofrimento desnecessário, mas passarão.

Nesse momento de transição é mais importante do que nunca ter papel ativo na construção das pontes que trarão de volta a civilidade e a convivência entre diferentes.

Exercitar a escuta, buscar as pessoas das quais nos distanciamos por divergências ideológicas, mas que mantém seu senso de humanidade. Escutá-las e tentar compreender o seu ponto de vista, mesmo sem concordar, será chave para conseguirmos restabelecer o diálogo em nossa sociedade. Sem diálogo não há democracia.

Precisamos nos dar conta de que não existe monopólio de valores, causas e ideais. Dividimos com pessoas que às vezes consideramos oponentes muito mais do que imaginamos, e precisamos cada vez mais deixar os lados de lado e unir esforços em nossas agendas comuns. Isso não quer dizer abrir mão de princípios, mas pressupõe julgar menos e aceitar os paradoxos e as complexidades da vida como ela é.

Será fundamental escolher as lideranças à altura dos nossos desafios. Precisamos deixar para trás a ideia equivocada de que líderes são salvadores da pátria, heróis ou mitos. Líderes responsáveis são pessoas de carne e osso, que colocam o interesse público à frente do privado, e que têm a vocação de servir aos outros. Não são perfeitos, porque ninguém o é.

O que precisamos é ter certeza de que têm as melhores intenções, usam o melhor conhecimento disponível e têm os melhores times. E compreender que, como diz o ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama, esses líderes serão confrontados por desafios que não têm uma resposta perfeita, mas que eles terão que buscar com honestidade e rigor a melhor resposta possível no momento em que terão que tomar as mais difíceis decisões.

Podemos resgatar a tão necessária esperança para navegar esses tempos de incerteza sem ignorar a dura realidade. Ficam aqui os meus desejos para 2021 e depois.

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