Ilona Szabó de Carvalho

Presidente do Instituto Igarapé, membro do Conselho de Alto Nível sobre Multilateralismo Eficaz, do Secretário-Geral. da ONU, e mestre em estudos internacionais pela Universidade de Uppsala (Suécia)

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Ilona Szabó de Carvalho

Superimpeachment já

Democracias não morrem somente com tanques nas ruas

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

O escândalo revelado na CPI da Covid-19 sobre suspeitas de irregularidades na aquisição da vacina indiana Covaxin pode ser a pá de cal no desgoverno da morte de Jair Bolsonaro e seus muitos cúmplices. Já é passada a hora. Muito antes desse cruel esquema de corrupção vir à tona, já havia inúmeras razões para afastar e julgar o pior presidente eleito da nossa história. A justificativa do superpedido de impeachment, a ser protocolado nesta quarta (30) por opositores de um amplo espectro político, e que reúne pelo menos 21 possíveis crimes cometidos pelo presidente, não deixa dúvidas.

Já passamos do ponto de inflexão. A democracia brasileira está sendo minada e corroída por dentro de forma sistemática desde o primeiro dia deste governo. É imperativo protegê-la usando os instrumentos democráticos que ainda nos restam. Do contrário, corremos o risco de chegar a 2022 com instituições ainda mais enfraquecidas e desacreditadas, a ponto de não conseguirem resistir às investidas do populista-autoritário que tem como objetivo subvertê-las ou destruí-las.

Para além dos inúmeros crimes listados no superpedido de impeachment, vale reforçar o contexto que o embasa.

Ministro da Saúde da Índia, Harsh Vardhan, segura frasco da Covaxin - Adnan Abidi - 16.jan/Reuters

Democracias hoje não morrem somente com tanques nas ruas. É evidente o perigo da estratégia combinada de armar até os dentes a base de apoio, politizar as polícias e instaurar dúvidas à lisura do processo eleitoral, alegando fraudes sem comprovação em eleições passadas e especulações sobre a eleição futura. Tudo pensado para justificar e incitar atos violentos iguais ou piores do que ocorreu nos EUA com a invasão do Capitólio.

Não se vê toque de recolher ou soldados patrulhando as vias, mas a perigosa quebra da regra basilar de hierarquia das Forças Armadas é evidente. Seja na participação impune do general Pazuello em ato político no Rio ou no inédito número de membros das Forças Armadas da ativa e da reserva em cargos políticos, usados como fiadores do governo.

A democracia brasileira desmorona um pouco toda vez que conselhos são extintos e que as decisões são tomadas por decreto, passando por vezes por cima das leis. As propostas de restrição da ação cívica, por meio de projetos de lei com pretextos antiterroristas e de controle do financiamento de organizações da sociedade civil, chegam com força a um Congresso debilitado com parlamentares que envergonham a nação ao atuar em prol do governo em troca de vantagens indevidas.

A instalação de censores nas Redações dos jornais da ditadura militar foi substituída, por ora, pela retórica agressiva e ameaçadora do próprio presidente contra jornalistas —em sua maioria mulheres. A subida de tom das últimas semanas mostra um governo acuado, que se enrola nos inúmeros fios soltos de tantos malfeitos, mas que ainda se considera intocável.

Por isso a importância central da CPI da Covid-19 no Senado. À necessária apuração da negligência e da má gestão do desgoverno durante a pandemia se somam as gravíssimas denúncias do deputado Luis Miranda e do seu irmão, o servidor público Luis Ricardo Miranda. Possivelmente as centenas de milhares de mortes evitáveis são resultado não apenas da falta de humanidade e da completa incompetência, mas também da ganância por propina.

Mesmo com todas as evidências, não podemos subestimar e achar que o governo ruirá sozinho. É preciso agir agora para conter a deterioração e estancar o sofrimento da população. Já sepultamos mais de meio milhão de pessoas pela Covid-19. É hora de impedir que Bolsonaro enterre, também, nossa democracia.

Vamos nos juntar nas ruas e nas redes. Apoie a convocação da Coalizão Negra por Direitos, Povo Sem Medo e Brasil Popular para os protestos no dia 3 de julho, e assine e compartilhe nas redes a campanha pelo #SuperImpeachment já.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.