Ilona Szabó de Carvalho

Presidente do Instituto Igarapé, membro do Conselho de Alto Nível sobre Multilateralismo Eficaz, do Secretário-Geral. da ONU, e mestre em estudos internacionais pela Universidade de Uppsala (Suécia)

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Ilona Szabó de Carvalho

A Amazônia é a nossa salvação

Sem mudar modelo de desenvolvimento e padrões destrutivos de uso da terra, o sofrimento humano e as perdas econômicas que vimos até aqui serão só o começo

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Você já parou para pensar que, da perspectiva climática, 2021 é provavelmente o melhor ano dos próximos cem? No Brasil e mundo afora, eventos climáticos extremos —como secas, ondas de calor, tempestades de poeira, degelos, inundações, entre outros, já são realidade. A má notícia é que, de acordo com os cientistas do clima, se não mudarmos o modelo de desenvolvimento baseado no uso de combustíveis fósseis e em padrões destrutivos de uso da terra, o sofrimento humano e as perdas econômicas que vimos até aqui são só o começo.

Desde domingo (31), líderes mundiais discutem como frear as mudanças climáticas na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas - COP 26, em Glasgow, na Escócia. Nesse encontro, cada um dos países signatários da Convenção de 1992 e do Acordo de Paris de 2015 deve apresentar sua contribuição nacional para limitar o aumento da temperatura da terra em até 1,5ºC acima do registrado antes da Revolução Industrial, e assim garantir a sobrevivência de nossa espécie.

Fiscais vistoriam área desmatada no município de Apuí,  no sul do Amazonas
Fiscais vistoriam área desmatada no município de Apuí, no sul do Amazonas - Lalo de Almeida/ Folhapress

Em suma, temos que aumentar a ambição para reduzir, até 2030, mais de 50% das emissões de gases do efeito estufa que causam esse aquecimento, e zerá-las até 2050. Para o Brasil, salvar a Amazônia —zerando o desmatamento—, é a única forma de cumprir os compromissos assumidos no Acordo de Paris e, por consequência, garantir o bem-estar das próximas gerações. E, por hora, as promessas feitas e os compromissos já firmados em Glasgow estão aquém das metas necessárias, ou ainda vagos demais.

A floresta amazônica —maior floresta tropical do planeta— abarca oito países sul-americanos e a Guiana Francesa, 20% da água fresca e cerca de 10% da biodiversidade. Temos a boa fortuna de abrigar a maior parte dessa inestimável riqueza em nosso território. Porém, quase 20% da floresta já foi destruída, o que faz com que a Amazônia esteja se aproximando de um ponto de inflexão que pode resultar em um processo de savanização irreversível.

Motivações econômicas advindas da especulação com terras que alimentam a grilagem e de uma crescente demanda nacional e global por carne bovina, soja, ouro e outras commodities, têm levado ao aumento desenfreado do desmatamento. Mas hoje não é necessário desmatar para produzir. Há tanto métodos de produção sustentáveis como áreas já desmatadas em quantidade suficiente para garantir a segurança alimentar do Brasil e de outras partes do mundo.

O que se observa é que parte importante dessas cadeias produtivas se alimentam de crimes ambientais, como o desmatamento e o garimpo ilegal, e a grilagem de terras. De acordo com o MapBiomas, quase a totalidade do desmatamento verificado na Amazônia e em outros biomas brasileiros em 2020 tem indício de ilegalidade.

Para além dos danos ao meio ambiente, em geral crimes ambientais também têm relação com outros crimes como tráfico de drogas, de armas e de pessoas e causam graves consequências sociais como corrupção, trabalho escravo e violência contra povos originários e defensores da floresta. Precisamos dar um basta e zerar o desmatamento já.

A boa notícia é que há um potencial extraordinário de riqueza na preservação da biodiversidade que a floresta oferece. E a melhor maneira de proteger esse recurso é estimular o surgimento de uma economia sustentável de base florestal que contemple a inclusão das populações originárias e os centros urbanos da Amazônia.

Zerar o desmatamento na Amazônia, e garantir a mudança de um modelo de desenvolvimento predatório para um regenerativo, dependerá dos esforços combinados dos governos subnacionais e federal, do setor privado, da sociedade civil e da cooperação regional e internacional. Mas, sobretudo, salvar a floresta passa pela genuína compreensão de que ela é a nossa única salvação.

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