Ilona Szabó de Carvalho

Presidente do Instituto Igarapé, membro do Conselho de Alto Nível sobre Multilateralismo Eficaz, do Secretário-Geral. da ONU, e mestre em estudos internacionais pela Universidade de Uppsala (Suécia)

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Ilona Szabó de Carvalho
Descrição de chapéu jornalismo

Precisamos de uma aliança pró-democracia e contra danos digitais

Plataformas precisam ser mais responsáveis, o que implica mais regulamentação

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

O Brasil enfrenta múltiplos desafios que se conectam: Congresso dividido, economia em recuperação, insegurança alimentar, crise ambiental na Amazônia. Subjacente a essas dificuldades está uma sociedade hiperpolarizada.

Neste contexto, os danos digitais amplificam os riscos, impactando o espaço cívico e as instituições democráticas. O Brasil é hoje uma espécie de laboratório de questões debatidas globalmente, com insights sobre oportunidades e desafios: como o papel e os limites do Judiciário e do governo, a responsabilidade das plataformas digitais, o impacto das regulações e o equilíbrio entre a liberdade de expressão e o enfrentamento aos danos digitais.

Smartphone com a frase 'fake news' tendo ao fundo Lula e Bolsonaro - Mauro Pimentel/AFP

Danos digitais incluem atividades online maliciosas, como o autoritarismo e a vigilância digital, ataques cibernéticos, desinformação e discurso de ódio. São externalidades negativas dos bens comuns digitais, como a desinformação relacionada à Covid —que alimentou os movimentos antivax—, a desinformação climática —que mina a transição verde— e ataques contra instituições democráticas e eleições —que minam a confiança na democracia.

É preciso ter cuidado com o excesso de atribuição, pois há outros fatores que contribuem para a diminuição da confiança na democracia —como a frustração com as elites, desigualdade, inflação, altos níveis de corrupção e crime. Porém cientistas sociais já documentam as formas pelas quais os danos digitais podem ampliar o descontentamento, moldar preconceitos e mudar comportamentos.

Para entender como os danos digitais estavam minando a democracia no Brasil, o Instituto Igarapé, em parceria com o Democracia em Xeque, passou a monitorar e avaliar narrativas desinformativas online e seus reflexos no mundo offline no período eleitoral. Em resumo, há quatro mensagens principais.

Primeiro, a extrema direita superou em muito o engajamento digital de esquerda, de centro e da imprensa convencional. Segundo, o alvo muitas vezes são as próprias instituições eleitorais. Terceiro, danos digitais são acompanhados de violência crescente contra candidatos adversários, mídia e atores cívicos. E quarto, as principais instituições foram razoavelmente bem-sucedidas na reação.

Os esforços do governo precedem as eleições de 2022 e 2018. Um passo fundamental foi o Marco Civil —a declaração de direitos digitais aprovada em 2014 na sequência das revelações de Edward Snowden sobre o sistema de vigilância global dos EUA.

O Judiciário entrou em ação com o Programa de Enfrentamento à Desinformação de 2019 —tornado permanente em 2022—, a Comissão e o Observatório de Transparência Eleitoral de 2021, a Frente Nacional de Combate à Desinformação de 2022, entre outros. Recentemente, o Executivo criou a Secretaria de Políticas Digitais e a Procuradoria Nacional de Defesa da Democracia, na Advocacia-Geral da União (AGU), para combater a desinformação "sobre políticas públicas".

Alguns desses esforços estão provocando um debate acirrado. Há preocupações com o excesso de influência do governo, bem como com a censura a oponentes de extrema-direita e ativistas de direitos digitais.

Está claro que os danos digitais não podem ser evitados e reduzidos apenas por meios digitais. Seu enfrentamento exigirá muito mais envolvimento dos Poderes da República, dos meios de comunicação e da sociedade civil.

Plataformas precisam ser mais responsáveis, o que implica mais regulamentação. Reduzir os danos digitais também requer abordar fatores estruturais que os impulsionam —da desigualdade econômica às questões de equidade social, passando pela educação digital nas escolas.

O sistema político brasileiro foi degradado pela profunda polarização a partir de 2013. Agora é a hora de revitalizar alianças pró-democracia, incluindo não só os partidos moderados mas toda a sociedade que busca reatar laços e salvaguardar nosso futuro.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.