Ilona Szabó de Carvalho

Presidente do Instituto Igarapé, membro do Conselho de Alto Nível sobre Multilateralismo Eficaz, do Secretário-Geral. da ONU, e mestre em estudos internacionais pela Universidade de Uppsala (Suécia)

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Ilona Szabó de Carvalho
Descrição de chapéu desigualdade de gênero

A resistência é feminina

De 2010 e 2020, quase 2 milhões de mulheres foram vítimas de violência no Brasil

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Neste 8 de Março, tenho a honra de receber no Senado o Diploma Bertha Lutz ao lado de seis mulheres incríveis, protagonistas na defesa de questões de gênero no Brasil.

Recebo a premiação certa de que não cheguei e tampouco estou sozinha na luta por um país melhor para nossas mulheres e meninas. Esse diploma é o reconhecimento do trabalho incansável de tantas parceiras e parceiros com quem dividi desafios e conquistas até aqui, em especial a equipe do Instituto Igarapé, organização que fundei e que sempre foi composta e liderada majoritariamente por mulheres corajosas, engajadas e com vontade e competência de fazer a diferença.

Nesses anos, construímos pontes e agendas comuns para os problemas sociais mais urgentes —seja na segurança pública, digital ou climática. E colaboramos com políticas públicas mais inclusivas e eficientes, incluindo a perspectiva de gênero em todas as áreas.

No Brasil, entre 2010 e 2020, quase 2 milhões de mulheres relataram ser vítimas de violência —física, psicológica, patrimonial, entre outras, segundo dados da plataforma EVA, que criamos para informar políticas públicas voltadas para a prevenção, a redução e a eliminação da violência contra mulheres na América Latina. Em 2021, 40% das mulheres vítimas de homicídio foram assassinadas por armas de fogo. Não à toa, o Instituto Igarapé atua há anos na agenda de controle de armas e munições.

Soma-se a isso o crescimento exponencial do encarceramento feminino –entre 2000 e 2019, o número de mulheres privadas de liberdade quase sextuplicou–, com condições precárias na prisão, interrupção de laços familiares e baixo acesso a programas de inserção social. A entrada dessas mulheres na prisão, em grande parte, é motivada por delitos relacionados às drogas.

Nesse cenário, o Instituto Igarapé promove a capacitação profissional e o trabalho de presas e egressas —para possibilitar a quebra de ciclos de violência e diminuir a reincidência— e monitora avanços nas áreas de prevenção, tratamento, cuidados e reabilitação nas políticas de drogas nos países das Américas com olhar para a questão de gênero.

E fomos além: apoiamos o compromisso internacional do Brasil com a agenda Mulher, Paz e Segurança e integramos o Grupo de Trabalho Bertha Lutz, responsável pela elaboração do Plano de Ação Nacional sobre o tema.

Na agenda de segurança climática, mulheres têm um papel fundamental na defesa do meio ambiente e por isso têm sido alvo de diversos tipos de violência. De 2012 a 2019, foram registrados 80 mil casos de violência na Amazônia Legal. Os ataques sofridos representam não só um risco pessoal a cada uma delas mas aos direitos, meios de vida e povos que elas defendem. A sua proteção é, portanto, essencial e o Igarapé tem trabalhado para isso.

Para além das defensoras da Amazônia, ativistas, cientistas, jornalistas e outras vozes proeminentes no debate público passaram a ser intimidadas, ameaçadas e assassinadas por defender questões relevantes para a consolidação da democracia em nosso país. A cultura da misoginia e do machismo ganhou tração com a crescente onda de líderes autoritários e populistas, que atacam mulheres que estão na linha de frente, lutando por direitos, sejam eles políticos, humanos ou ambientais.

O Instituto Igarapé identificou 3.088 ameaças ao espaço cívico entre 2021 e 2022, sendo as mulheres vítimas preferenciais em muitos casos. Por outro lado, também identificamos ações de resistência de lideranças femininas, que protegeram a nossa democracia bravamente: denunciando abusos e violências, defendendo a ciência e a educação, protegendo o meio ambiente, e inspirando outras mulheres a se engajarem na defesa dos nossos direitos.

Foi assim que chegamos até aqui e é assim que seguiremos. Nossa resistência foi e continuará sendo feminina.

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