Ivan Marsiglia

Jornalista e bacharel em ciências sociais, Ivan Marsiglia é autor de “A Poeira dos Outros”.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Ivan Marsiglia

Boca do inferno

Twitter repercute dia em que Bolsonaro rasgou o verbo e a compostura

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Alçado ao posto de voz da razão de um governo que normalizou a insensatez, o ex-ator e deputado federal @alefrotabrasil foi profético na entrevista concedida à Veja na sexta-feira (19): @VEJA “Alexandre Frota: ‘O Jair fala muito. Você vê, ele arrancou um dente agora, ficou três dias sem dizer nada, e a gente ficou três dias sem problema’. Leia a entrevista com o deputado do PSL nas #PáginasAmarelas de VEJA.

Ainda no mesmo dia, a tese de Frota seria confirmada pelo espetáculo de incontinência verbal do presidente que encerrara sua convalescença bucal. Uma sequência de falas viperinas, que poderiam dar a ele —por méritos distintos, diga-se— o mesmo apelido do poeta baiano Gregório de Matos (1636-1696): “Boca do Inferno”.

A jornada de impropérios do presidente pôs Brasília (e o Twitter) em polvorosa, fazendo lembrar o título de um dos mais célebres sonetos de Gregório, “Na Confusão do mais Horrendo Dia”.

No resumo da deputada do PT-RJ @dasilvabenedita “Em menos de 24h, acreditem, o presidente Bolsonaro destilou preconceito com o povo nordestino, desrespeitou uma jornalista, assumiu o nepotismo para o filho ser embaixador, sinalizou a destruição do cinema nacional e ignorou a fome existente no Brasil. O ódio é o que move esse senhor."

Na mesma direção foi o colunista de economia da Folha @vtorresfreire “Insultou nordestinos (‘paraíbas’), anunciou censura ao cinema, fez ataque criminoso às estatísticas de desmatamento do Inpe, disse que Miriam Leitão fez ‘drama mentiroso’ sobre as torturas que sofreu. Nada do que diz esse homem tem um pingo de humanidade, sabedoria ou empatia."

A ex-bolsonarista e apresentadora do telejornal @sbtbrasil, nascida em João Pessoa, comentou sob a postagem de um colega da Band: @RachelSherazade Em resposta a @blogdopannunzio “Lembrando que configura RACISMO, o preconceito em razão de origem nacional. Crime inafiançável, sujeito a pena de prisão. Como paraibana, me orgulho da minha terra, minha gente e repudio o uso de nossa naturalidade como qualidade diminuta, pejorativa. #SomosTodosParaiba."

Também nordestinos, uma sambista, um narrador esportivo e um ex-ministro do STF deram a dimensão ecumênica do mal-estar causado pelas declarações.

Alcione dirigiu-se diretamente a Bolsonaro num vídeo gravado no Instagram e postado no Twitter, que dizia: “O senhor tem medo de facada, tem medo de tiro, mas o senhor precisa ter medo do pensamento. O pensamento é uma força. Pense em mais de 30 milhões de nordestinos pensando contra o senhor”. @alcione_marrom “Presidente Bolsonaro, eu não votei no senhor e não me arrependo. Eu sou uma brasileira que não torço contra o governo, não sou burra. Eu sei que se torcer contra, estou torcendo contra o meu país. Agora meu pai..."

@AndreHenning “O país não pode se calar. Não dá. Senhor presidente, respeite o Brasil. Respeite os brasileiros. Respeite o seu cargo. É o mínimo que se espera de uma pessoa que está no comando de uma nação. Apesar de você não merecer, o país te elegeu, cara. Respeite isso!"

@ayres_britto “Atestado de saúde cívica é nunca se esquecer de que todas as quatro pessoas federadas do Brasil estão proibidas de ‘criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si’ (inciso III do art. 19 da Constituição)."

‘Gíria regional’

No sábado (20), o vice-líder do governo na Câmara, deputado federal pelo PSL/RJ, bem que tentou diminuir a fogueira, negando o caráter pejorativo do termo com que alguns chamam nordestinos e nortistas no Rio: @carlosjordy “No Sul, todos chamam nordestino de baiano. No Sudeste, chamam de paraíba. Não é preconceito, é uma espécie de gíria regional. Mas queria MUITO que esses hipócritas que estão criticando o Presidente falassem sobre a fala do Lula quando disse que Pelotas é cidade exportadora de viado."

O ministro-fiador do governo também entrou em campo com um breve thread: @SF_Moro “Um testemunho: Em janeiro, na crise de segurança do Ceará, o PR @jairbolsonaro, primeira semana de governo, não hesitou em autorizar o envio da Força Nacional e da Força de intervenção penitenciária e em disponibilizar vagas em presídios federais para as lideranças criminosas."

@SF_Moro “Resultado, em conjunto com o Governo Estadual, mesmo sendo o Governador do PT, a crise foi controlada em semanas. Nada mais do que a obrigação. Mas ilustra que o Nordeste tem sido tratado sem preconceito pelo Governo Federal. Afirmações diferentes não resistem aos fatos."

Como os bombeiros não dessem conta, o próprio presidente enfim foi ao Twitter no domingo (21) tentar se defender: @jairbolsonaro “‘Daqueles GOVERNADORES... o pior é o do Maranhão’. Foi o que falei reservadamente para um ministro. NENHUMA crítica ao povo nordestino, meus irmãos. Mas o melhor de tudo foi ver um único general, Luiz Rocha Paiva, se aliar ao PCdoB de Flávio Dino, para me chamar de antipatriótico."

Não negou, porém, a parte em que determina ao ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, preterir o estado do Maranhão —que Ayres Britto alertara como inconstitucional.

Imprensa e censura

O ataque desferido pelo presidente contra Miriam Leitão e sua defesa explícita de censura prévia na Ancine foram os outros temas mais comentados no Twitter.

Postagens proliferaram na esteira do contundente editorial do @jornalnacional em defesa da jornalista, replicado pela emissora na plataforma: @jornalnacional “Perguntado sobre ato de intolerância de que foi vítima Miriam Leitão, Bolsonaro disse que jornalista foi presa a caminho da Guerrilha do Araguaia e que mentiu sobre ter sido torturada na ditadura. Miriam foi presa, torturada e não participou da luta armada.”

O vereador paulistano em quinto mandato pelo PV, preso como Miriam durante a ditadura, deu um depoimento pessoal: @gnatalini “Bolsonaro também me atacou quando eu disse que tinha sido torturado pelo Ustra. E fui mesmo, em 1972. Ustra era um monstro, e todos que o defendem são semelhantes a ele!"

Poucos dias antes, o escritor e colunista da Folha ressaltou a independência de Miriam: @antonioprata “Há alguns anos @MiriamLeitaoCom foi hostilizada por petistas num avião. Agora é censurada por bolsominions num evento literário, com Sérgio Abranches. Acho que estas duas alas toscas da esquerda e da direita têm que se reunir urgentemente e decidir se ela é agente da CIA ou da KGB."

No rechaço quase unânime ao surto autoritário presidencial, a grande discordância ficou justamente na comparação com fatos ocorridos durante os governos petistas —que, por sinal, já havia sido feita pelo editorial do JN e por um dos colunistas do jornal O Globo.

O diretor do documentário Ilha das Flores (1989) —eleito recentemente o melhor curta brasileiro de todos os tempos— indignou-se: @jfurtado2222 “Jornalismo equilibrista. O texto de Arthur Xexéu no Globo de hoje, onde equipara Bolsonaro e os governos do PT no tratamento da cultura, é de uma desonestidade intelectual constrangedora. Triste."

Tempo quente

Dois grandes influenciadores do Twitter lançaram desafios aos políticos e à imprensa, respectivamente, esta semana. O cientista político e pesquisador da FGV @JairoNicolau1 “Junho de 2019 foi o mês de junho mais quente desde que a temperatura é medida. Tudo caminha para que julho deste ano seja o mês mais quente já registrado. A crise climática é um fato. É fundamental que políticos brasileiros coloquem esse tema na agenda."

O repórter que encontrou, no início dos anos 1990, o tesoureiro do então presidente Fernando Collor escondido em Bangcoc, na Tailândia, @xicosa “Rapaz, lanço um desafio, descobri, antes de todo o mundo, na brava @folha, o destino do grande capo PC Farias, governo Collor. E o Queiroz, o PC do Flávio Bolsonaro, muito menos importante, nem um repórter agora encontra?"

Boquinha no Kremlin

Do editor de cultura do site norte-americano The Daily Beast, sobre o insólito pedido do cineasta Oliver Stone a Vladimir Putin, para que o presidente russo vire padrinho de sua filha de 22 anos: @MarlowNYC “Oliver Stone se transformou num enorme constrangimento."

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.