Ivan Marsiglia

Jornalista e bacharel em ciências sociais, Ivan Marsiglia é autor de “A Poeira dos Outros”.

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O striptease de Deltan Dellagnol

Novos vazamentos atingem em cheio imagem do procurador no Twitter

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​​Poucas vezes um tuíte se mostrou tão inoportuno quanto o do principal procurador da Lava Jato no último sábado (13). Escreveu @deltanmd “Trabalhar na Lava Jato gera um grande custo pessoal. Mas todos da força-tarefa estamos dispostos a pagá-lo para cumprir nosso dever e contribuir para um país com menos corrupção e menos sofrimento humano causado por essas práticas espúrias.”​

No dia seguinte (14), o autor e sua declaração pública de integridade e abnegação foram expostos ao vexame da leva de mensagens da Vaza Jato. Nelas, Deltan combina com um colega a criação de uma empresa de palestras no nome de suas mulheres para fugir de questionamentos legais, e conta ter recebido R$ 400 mil líquidos em um ano de perorações pelo país.

O resultado foi uma enxurrada de críticas na plataforma.

Na definição da jornalista e diretora do portal Metropoles.com, @lilian_tahanFolha de S. Paulo deixa Deltan nu em sua manchete de hoje. Pelas mensagens obtidas, fica claro que o combate à corrupção é pano de fundo para ele organizar vida mais abonada. Não é ilegal, mas é constrangedor. Um herói a menos no país da malandragem.”

Também tuitou o professor da Faculdade de Direito da USP, @conradohubner “A magistocracia mais bem remunerada do mundo, que consome a maior parcela do PIB no mundo, não se satisfaz com salário. Retorce a lei e se dedica a palestras. Se der pra usar fama da Lava Jato e o serviço de assessoras do MPF, melhor ainda. Dobram o salário."

Dois dos candidatos derrotados à presidência se manifestaram. O do PT resumiu em tópicos: @Haddad_Fernando “Se entendi bem a reportagem, Deltan sugeriu: 1) uma empresa de fachada com cônjuge laranja; 2) propina para comissões de formatura; 3) palestras armadas para associações que representavam empresas investigadas. É isso?"

O do PSOL reproduziu citações de Deltan e reforçou a hashtag que liderava os TTs na manhã de domingo (14): @GuilhermeBoulos “‘Vamos organizar congressos e eventos e lucrar, ok?’ ‘Vcs não vão ter que trabalhar. Contratam uma empresa.’ ‘Se fizéssemos algo sem fins lucrativos e pagássemos valores altos de palestras pra nós, escaparíamos das críticas.’ E as palestras eram sobre ética... #AcabouDeltan."

Poucas personalidades se aventuraram a defender publicamente o procurador, mas a reação da militância anônima – na base do “contra argumentos não há fatos” – veio também na forma de hashtag. E #DeltanNaPGR bateu em 95,5 mil tuítes na tarde do mesmo dia.

Robôs iranianos?

A propósito, com frequência usuários do Twitter denunciam o uso de robôs no impulsionamento artificial de hashtags. Este fim de semana foi a vez do vlogueiro político @EstevaoSlowP, citando reportagem publicada pela revista Veja no último dia 12: “Sabem as # de apoio ao governo, que sempre sobem em resposta às críticas? Não só são infladas artificialmente por robôs, como nem são do Br. Um estudo revelou que há forte suspeita de robôs em 220 mil postagens de apoio ao Moro, e muitas feitas diretamente do Irã."

Em resposta a esta coluna, a assessoria do Twitter disse não ter sido ouvida pela Veja. E afirmou não poder confirmar o eventual uso de robôs por causa da dinâmica do algoritmo que rege as Trending Topics: “Caso um país em particular não tenha um número suficiente de Assuntos do Momento, sua lista pode ser completada com Assuntos do Momento globais ou internacionais."

Bode expiatório

O debate sobre mérito (ou demérito) da reforma da previdência, aprovada em primeiro turno semana passada, foi obliterado na rede pela discussão em torno do voto dissidente da deputada Tabata Amaral (PDT-SP), sobretudo após o líder do partido, Ciro Gomes, pedir seu afastamento.

A diretora do Instituto Igarapé bateu na tecla do pragmatismo: @IlonaSzaboC “Criticar é muito fácil. Se engajar e trabalhar pelo país, poucos fazem. Não peçam a cabeça de novas lideranças que estão tentando construir em ambiente de destruição total. Haverá erros e acertos. E o aprendizado pode nos tirar da polarização. Eu @acreditobr na @tabataamaralsp."

Já um deputado do PSOL-RJ viu na atitude de Tabata cálculo eleitoral: @Glauber_Braga “O discurso de ‘modernização’ da esquerda não pode vir associado à tentativa de justificar a aprovação de medidas anti-povo. Não precisamos de uma esquerda sectária, e precisamos menos ainda de uma direita liberal que se fantasie de esquerda pra cabalar votos ao centro."

Filho não é parente

A anunciada nomeação para a embaixada do Brasil nos EUA do filho do presidente Jair Bolsonaro, o deputado Eduardo Bolsonaro, também teve grande repercussão.

Houve quem defendesse a medida, invocando até a tradição monárquica, como o Secretário da Receita Federal, @MarcosCintra “Eduardo Bolsonaro para a embaixada nos EUA é manobra hábil e inteligente. Confiar missões diplomáticas a parentes próximos foi sempre utilizado por reis e presidentes na história. O rapaz é preparado, e tem relacionamento pessoal com a família presidencial norte-americana."

Predominaram, no entanto, críticas sobre nepotismo e amadorismo, especialmente depois de o deputado apresentar como credenciais para o cargo o fato de ter feito intercâmbio no país e fritado hambúrgueres “no frio do Maine”.

O jornalista @ricardosetti considerou “Espantoso o esforço de pessoas inteligentes e bem informadas para justificar a possível nomeação de Eduardo Bolsonaro como embaixador em Washington. É um espanto achar que, despreparado, inexperiente e descontrolado, ele possa ser sucessor de Walther Moreira Salles ou Roberto Campos."

Sua colega de profissão optou pela ironia: @hilde_angel “– Senhor Embaixador, apresente suas credenciais. – Dois hambúrgueres, alface, queijo, molho especial, cebola, picles num pão com gergelim."

Já o professor de Política Internacional da UFMG não viu sinal de improviso na indicação feita pelo presidente: @dbelemlopes “A pedra do Embaixador Bozinho foi cantada. Na formatura da turma do IRBr, Jair elogiou o ‘diplomata’ Eduardo. Levou-o a tiracolo para os EUA. Plantou-o na presidência da CREDN. E deixou o posto em Washington vago até que seu ocupante futuro fizesse 35. Tudo sordidamente ensaiado.”

Sobre homens e banheiros públicos

A famigerada sequência de tuítes de Donald Trump exortando parlamentares democratas de ascendência latina a voltarem a seus países de origem – considerado xenófobo e racista por grande parte da imprensa americana – ganhou, segundo o jornal britânico The Independent, o silêncio conivente de dirigentes do Partido Republicano.

@realDonaldTrump “Muito interessante ver os ‘progressistas’ Democratas do Congresso, que vieram originalmente de países cujos governos são uma catástrofe total e completa, os piores, mais corruptos e ineptos em qualquer lugar do mundo (se é que têm governo em funcionamento), em voz alta..."

@realDonaldTrump “...virem perversamente dizer ao povo dos EUA, a maior e mais poderosa nação da Terra, como nosso governo deve ser administrado. Por que eles não voltam e ajudam a consertar os lugares totalmente quebrados e infestados de crime de onde vieram? E então retornem para nos mostrar como..."

No Twitter, onde as diatribes de Trump não costumam passar ilesas, o chairman da organização oposicionista Coalisão Democrática postou a foto de uma placa de rua em homenagem a Obama e escreveu: @joncoopertweets “Centenas de estradas, parques, escolas e outros marcos foram nomeados em homenagem a @BarackObama desde que ele deixou o cargo. O que você acha que será nomeado ‘Donald Trump’?"

Resposta da atriz Rosanna Arquette: @RoArquette Reply to @joncoopertweets and @BarackObama “Sistemas de esgoto."

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