Ivan Marsiglia

Jornalista e bacharel em ciências sociais, Ivan Marsiglia é autor de “A Poeira dos Outros”.

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Da rede para a política real

Ação na Bienal do Livro do Rio projeta youtuber Felipe Neto para além do mundo virtual

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O youtuber Felipe Neto, que comprou e distribuiu gratuitamente 14 mil livros com temática LGBT no sábado (7) na Bienal do Livro do Rio de Janeiro, foi o principal assunto do Twitter nos últimos dias. A ação, uma resposta à tentativa do prefeito Marcelo Crivella de apreender títulos “com conteúdo impróprio para menores”sepultada no STF após uma verdadeira batalha jurídica no fim de semana—, projetou esse ator, escritor e comediante carioca de 31 anos para além de sua impressionante influência nos meios digitais.

Com 34,3 milhões de inscritos e 7,5 bilhões de visualizações, o canal de Felipe Neto é um dos maiores do YouTube brasileiro e seu perfil no Twitter é seguido por nada menos que 9,4 milhões de pessoas (o de Crivella não chega a 200 mil seguidores).

Dois dias antes (5), o alcaide carioca tentara justificar a censura com um vídeo postado na plataforma: @MCrivella “Pessoal, precisamos proteger as nossas crianças. Por isso determinamos que os organizadores da Bienal recolhessem os livros com conteúdos impróprios para menores. Não é correto que elas tenham acesso precoce a assuntos que não estão de acordo com suas idades.”

As reações oscilaram entre a indignação e a incredulidade. O músico Caetano Veloso elogiou a iniciativa do youtuber em um vídeo postado no perfil do coletivo 342 Artes, da empresária e produtora Paula Lavigne: @342Artes “‘Temos que retomar a consciência da sociedade brasileira’. @caetanoveloso assiste e comenta o vídeo e a ação de @felipeneto contra a censura do prefeito Marcelo Crivella, durante a bienal do livro no Rio de Janeiro. #CaetanoVeloso #342Artes #CensuraNão”

A chefe de cozinha @PaolaCarosella retuitou a postagem de Crivella para ironizar: “Sim. Precisamos muito proteger as crianças. Sobretudo as mais pobres, que não têm educação, nem saúde, nem segurança, nem respeito, nem nada. Isso é prioritário. Mas pode também fingir que tirar dois livros da Bienal vai mudar alguma coisa. Nóis é estúpido mesmo.”

O jornalista e ex-editor de quadrinhos @forastieri fez referência direta à HQ da Marvel que escandalizara Crivella: “O Thanos não venceu os Vingadores, mas o Crivella acha que pode.”

Já o escritor e jornalista @LiraNeto preferiu testar em casa a imagem supostamente “imprópria”: “E aí, minha filha, Alice, de 10 anos, quis saber qual foi a imagem que o Crivella quis proibir. Mostrei para ela. E Alice: ‘Ué, qual foi o problema? Eles não são namorados?’”

A essa altura, a liminar de primeira instância que impedia a censura da prefeitura havia sido cassada por uma decisão do presidente do Tribunal de Justiça do Rio, Cláudio de Mello Tavares, que autorizou novamente a apreensão dos livros. E foi necessária a intervenção do STF, proferida pelos ministros Dias Toffoli e Gilmar Mendes, que cassaram a decisão de Mello Tavares.

A fala mais contundente, no entanto, viria do decano da corte, que foi reproduzida pelo colunista do G1 @Mleitaonetto “Mônica Bergamo: Celso de Mello, do STF, diz que censura de livros se deve a ‘trevas que dominam o poder do Estado’”.

A decisão do Supremo, no entanto, não comoveu o campo bolsonarista na rede, que comprou a briga de Crivella, subindo a hashtag #PaisContraFelipeNeto, que na tarde de ontem (9) batia em 120 mil tuítes.

Em um deles, o deputado federal pelo PSL-RJ @carlosjordy até tentou contemporizar: “14 mil livros LGBTs distribuídos pelo Felipe Neto na Bienal. Ainda bem que, pelos vídeos, só aparecem militantes adultos pegando o material. Não permitam que seus filhos acessem conteúdo de quem quer que eles vejam material que contrarie suas convicções morais.”

No que foi advertido pela colega do PSL-SP @CarlaZambelliSP “Infelizmente não foi bem assim. O @felipeneto retuitou foto com crianças segurando os livros impróprios para a idade. Sem problemas a distribuição para os mais velhos. Mas crianças?”

O youtuber reagiu: @felipeneto “E os deputados do PSL seguem sendo o esgoto da política. Nenhuma criança pegou livro sem estar com os pais ou representantes legais. Os livros estavam lacrados. Eles mentem, distorcem, manipulam tudo em prol de sua agenda fascista e doente.”

Ninguém solta a mão de ninguém? 

Enquanto a direita governista batia em bloco em Felipe Neto no Twitter, a oposição de esquerda se debatia com as novas revelações da Folha e do The Intercept Brasil na Vaza Jato e com a participação tímida do PT no lançamento do movimento Direitos Já! - Fórum Pela Democracia, dia 2 de setembro no Tuca, em São Paulo.

Na manhã de ontem (9), nada menos que 175 mil menções a “Lula” e outras 17,3 mil a “Ciro” discutiam se a bandeira do Lula Livre cabe ou não na melhor estratégia para o campo progressista voltar ao poder em 2022.

Foi João Filho, colunista do Intercept e dono do perfil @JornalismoWando —um dos maiores influenciadores de esquerda no Twitter, com 101,6 mil seguidores—, quem acendeu a polêmica com um artigo publicado no domingo (8): “O PT foi pragmático para chegar ao poder. Mas se recusa a dar as mãos na hora de defender o país”.

O texto alertava que “a esquerda segue dividida, desarticulada e paralisada diante da violência do bolsonarismo do poder” e chamava a atenção para o fato de que, embora petistas tenham participado da organização do evento multipartidário no TUCA, nenhum dirigente do partido apareceu. Blogs petistas, por outro lado, alegaram ter havido censura prévia contra manifestações pró-Lula Livre no local.

Da Europa, o ex-deputado federal pelo PSOL-RJ @jeanwyllys_real criticou a controvérsia: “O que mais falta para a os partidos de esquerda, no Brasil, entenderem que o ataque da Lava Jato a Lula e ao PT foi o ataque a um campo político e ao Estado Democrático de Direito?”

Na manhã de ontem (9), João Filho defendeu-se no Twitter: @JornalismoWando “Fiz uma crítica ao que considero um erro de estratégia do PT, coisa que muita gente do próprio partido faz. É uma crítica que eu faço aqui no Twitter desde o ano passado. Para muitos isso foi o suficiente para me jogar na vala do antipetismo. Quanta ignorância.”

O candidato derrotado do PT à Presidência, que chegara a confirmar presença no evento mas não compareceu alegando questões pessoais, preferiu tuitar sobre as revelações da Vaza Jato, que demonstraram a seletividade no vazamento feito pelo juiz Sergio Moro da conversa entre os ex-presidentes Lula e Dilma em 16 de março de 2016. O trecho de áudio, que sugeria que Lula aceitara o cargo de ministro da Casa Civil de Dilma para fugir da jurisdição de Moro, motivou a cassação de sua nomeação pelo ministro Gilmar Mendes.

@Haddad_Fernando “Ministro Gilmar Mendes reconhece que não dispunha de ‘todas as informações disponíveis’ quando impediu a posse de Lula. E acrescenta: ‘é muito estranho que somente um pedaço do fato e não sua inteireza tenha sido divulgado à época.’ Estranho e criminoso!”

O governador do Maranhão pelo PCdoB, por sua vez, optou pela diplomacia: @FlavioDino “Um registro por dever de justiça. Compareci ao Fórum ‘Direitos Já, Democracia Sempre’, em São Paulo. Falei sobre o que quis, inclusive sobre o direito à liberdade do ex-presidente Lula, e fui muito aplaudido. Acho o movimento valioso e participarei sempre que convidado.”

Falta de modos 

A reação agressiva do ministro da Educação ao comentário postado na página do G1 sobre o menino que desfilou ao lado do presidente Jair Bolsonaro não passou desapercebida: @AbrahamWeint “Não é FAKE! O menino Ivo foi realmente ofendido na página oficial da Globo/Marinho. Por enquanto, vamos aos fatos: 1) o ‘pedido de desculpas’ VAGABUNDO mostra a essência da Globo/Marinho; 2) a ofensa ‘acidental’ demonstra o nível da ESCÓRIA na alta cúpula com acesso à edição. LIXO!”

O economista, filósofo liberal e colunista da Folha @JoelPinheiro85 compartilhou a postagem com uma resposta contundente: “Um funcionário de um grupo de mídia faz uma besteirada, e o ministro da Educação aproveita para movimentar uma campanha de ataque contra o grupo em si. O ministro é mesmo um sujeito profundamente imoral.”

Fatos não nascem em árvores 

Enquanto o ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles voltava a afirmar, em entrevista, que “há muito sensacionalismo na divulgação de dados ambientais no país”, a conta da emissora alemã Deutsche-Welle no Twitter divulgava sua reportagem com o mais recente balanço dos números na Amazônia: @dw_brasil “Floresta Amazônica perdeu 1.698 km² de vegetação em agosto de 2019, o que representa um salto de 222% frente a agosto de 2018, segundo o Inpe. Nos oito primeiros meses de 2019, a área total desmatada foi 92% superior à do mesmo período do ano passado.”

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