Ivan Marsiglia

Jornalista e bacharel em ciências sociais, Ivan Marsiglia é autor de “A Poeira dos Outros”.

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Batalhas do Chile

No Twitter, bolsonaristas trocam guerra no PSL por conspiração comunista no país vizinho

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A guerra fratricida pelo poder no PSL, partido do presidente @jairbolsonaro, tomou conta do Twitter no final de semana e só foi pacificada na segunda-feira (21), com a imposição do nome do deputado Eduardo Bolsonaro, o filho Zero Três, como líder do partido na Câmara. Ato contínuo, as baterias do campo bolsonarista voltaram-se todas para os protestos no Chile.

Às 17h de segunda, 165 mil tuítes faziam menção ao “Foro de São Paulo”, organização criada em 1991 que reúne partidos políticos de esquerda da América Latina, quase todos denunciando uma suposta conspiração internacional para desestabilizar o Chile e outros países da região, como o Equador. 

O próprio presidente jogou água no moinho, em postagem no início da tarde: @jairbolsonaro “FORO DE SP: Sofreram um duro revés com nossa eleição quando fechamos as torneiras da corrupção estatal. Contudo, não estamos livres desses ditadores que teimam, via atos de vandalismo e terrorismo, reconquistarem o que perderam nas urnas.”

O presidente nacional do PSOL, historiador pela UFRGS, contestou logo embaixo: @julianopsol50 Em resposta a @jairbolsonaro “Você acha que esses jovens nas ruas de Santiago são dirigidos pelo Foro de São Paulo? Só pode ser piada! O Foro de São Paulo é uma reunião de partidos muito bem comportados. Essa juventude nas ruas é a fúria dos despossuídos. Ela é MUITO MAIS perigosa que o Foro de São Paulo.” 

Dois dias antes, no sábado (19), o assessor especial para assuntos internacionais da Presidência –e primeiro pupilo do ideólogo Olavo de Carvalho– já tinha dado a senha: @filgmartin “Os recentes movimentos de desestabilização de países sul-americanos não são espontâneos nem isolados, mas uma ramificação da estratégia definida pela ditadura cubana, por sua proxy venezuelana e pela rede de solidariedade que as sustenta. A esquerda é o flagelo da nossa região.”

A postagem foi retuitada com ironia pelo doutor em direito internacional pela USP, @jnascim “Manifestações pró-impeachment (2016): OK. Paralização de caminhoneiros (2018): OK. Atos anti-Congresso e anti-STF (2019): OK. Manifestações no Equador e no Chile: ‘A esquerda é o flagelo da nossa região’.”

O deputado federal pelo PSL-SP e membro da Família Imperial Brasileira @lpbragancabr classificou os atos de terrorismo: “No Ecuador (sic) foi o aumento nos combustíveis que serviu de ‘estopim’ para o caos nas ruas. No Chile foi o aumento na tarifa do metrô. O Foro de São Paulo só precisa de um fato para torná-lo relevante através do terrorismo.”

Opinião não compartilhada pelo prefeito da cidade chilena de Valparaíso, da coalizão de oposição, que creditou a radicalização dos protestos à repressão ordenada pelo presidente Sebastián Piñera, que chegara a afirmar, no domingo (20), que o país estava “em guerra”: 

@JorgeSharp “Os militares foram às ruas hoje à noite em Valparaíso e as imagens falam por si. Eles são o sinal claro da agonia de uma democracia que não representa ninguém além deles. A escalada de violência e repressão é responsabilidade COMPLETA deste governo autoritário.”

Enquanto isso, um post de um senador pelo PT-PE foi tomado como ameaça pelo principal blogueiro bolsonarista. 

@senadorhumberto “A paciência do povo com a direita ultraliberal, fascista e entreguista está acabando em diversos lugares do mundo. @jairbolsonaro está com os dias contados. É questão de tempo. A hora do Brasil vai chegar. Anotem aí.”

@allantercalivre “Um senador da república incitando o TERRORISMO? É isso mesmo?”

Enquanto prosperava a guerra de versões, o cinegrafista independente @Jake_Hanrahan compartilhou a foto de um cartaz escrito pelos manifestantes: “De longe, a melhor faixa de protesto que eu já vi: ‘Não somos da esquerda ou da direita, somos os de baixo que estão vindo pegar os de cima. #Chile”

Escombros da batalha
Do festival de vulgaridade que marcou a disputa pelo PSL, uma tirou do sério a normalmente imperturbável chef do restaurante paulistano Arturito. Foi a declaração do líder deposto do partido, Delegado Waldir (GO), que no auge da crise chamara o presidente de vagabundo: “Isso já passou. Nós somos Bolsonaro. Somos que nem mulher traída, apanha, mas mesmo assim volta ao aconchego”.

@PaolaCarossela “olha, eu sou super cuidadosa com as palavras e tento não xingar ninguém, mas esse comentário e a pessoa que o fez merece um vai tomar no cu bem gostoso caralho merda caralho. imundo. imundo. imundo. repugnante.”

Quem se pavoneia
Também ficou do arranca-rabo nas hostes governistas a revelação do personagem por trás do perfil Pavão Misterioso, que tuitou notícias falsas sobre Glenn Greenwald e o The Intercept Brasil, entre outros. O post, que trazia imagens de uma porca vestindo biquíni, teve reply da ex-líder do governo.

@PAVAO_MISTERIO “Deputada @joicehasselmann é flagrada deixando a liderança do governo.”

@joicehasselmann Em resposta a @PAVAOMISTERIOSO “Oi Carluxinho... como vc é elegante, quase um diplomata. Manda bjs pro índio.”

Carluxo é o apelido do vereador Carlos Bolsonaro, filho Zero Dois do presidente. O post também faz referência a Leo Índio, primo muito próximo de Carlos.

Contradição
Tuíte publicado ontem (21) pelo sociólogo francês nascido em 1921 e autor, entre outras obras, de Cultura e Barbárie Europeias:

@edgarmorinparis “Uma das contradições da democracia: Ela deveria excluir aqueles que querem destruí-la? Não, quando são apenas uma minoria. Mas quando eles conseguem a maioria, é tarde demais.”

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