Ivan Marsiglia

Jornalista e bacharel em ciências sociais, Ivan Marsiglia é autor de “A Poeira dos Outros”.

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Tuitaço contra Gilmar Mendes

Esvaziados na rua, atos pelo impeachment do ministro do STF bombam na plataforma

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Quem acompanha a forma como a política real se reflete nas redes sociais já percebeu que esses não são fenômenos diretamente proporcionais. O mundo digital é um barômetro precioso porém impreciso das condições de temperatura e pressão do ambiente político.

Esse descompasso —que permite certa dose de otimismo diante do caos cognitivo da pós-verdade— ficou um tanto evidente nas manifestações deste final de semana. Convocados em todo o país, os atos pelo impeachment de ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) e pela prisão em segunda instância no domingo (17) estiveram longe do êxito das mobilizações da extrema-direita que antecederam a eleição de @jairbolsonaro.

Na avenida Paulista, manifestante atira tomate em cartaz que identifica o ministro Gilmar Mendes, do STF
Na avenida Paulista, manifestante atira tomate em cartaz que identifica o ministro Gilmar Mendes, do STF - Fábio Vieira/FotoRua/Folhapress

Em São Paulo, segundo reportagem da Folha, manifestantes aos gritos de “fora Gilmar” e “justiça acima de tudo, Sergio Moro acima de todos” concentraram-se em torno de dois carros de som em frente à Fiesp, ocupando metade do quarteirão da avenida Paulista. No Rio, contabilizou a revista Veja, o ato reuniu algumas dezenas de pessoas no Posto 6 de Copacabana, espalhadas em menos de um quarteirão da praia.

Quem entrasse no Twitter no fim de semana, no entanto, imaginaria estar diante de uma revolução ou golpe –ao gosto de quem observa– no país. Na noite de domingo, a hashtag #BrasilContraGilmarMendes atingiu o pico de 1,17 milhão de tuítes, número espantoso sob qualquer ponto de vista no histórico de Trending Topics da plataforma. E uma suíte pedindo providências ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre, #AbraImpeachmentAlcolumbre, disparada na manhã de segunda-feira (18), batia em 137 mil tuítes.

Em entrevista a Mario Sergio Conti na GloboNews na quinta-feira (14), o próprio Gilmar Mendes antecipara o movimento, culpando a dinâmica da plataforma por seu linchamento virtual: “Quanto ao Twitter, isso é um mundo das fake news. Acabo de ver, antes de vir para cá, que toda essa onda foi causada por 1.700 perfis. Portanto, são robôs que estão fazendo essa onda toda, que a imprensa acaba por supervalorizar.”

A entrevista ganhou registro do portal de notícias independente @conexaopolitica “Gilmar Mendes diz que robôs controlam manifestações contra ele na internet.”

No day after dos atos, quem tentou supervalorizá-los, em letras garrafais, foi o porta-voz da imprensa oficial bolsonarista, @allantercalivre “A MAIOR MANIFESTAÇÃO DO BRASIL CONTRA O STF.”

Já a colunista do Estadão e da rádio Jovem Pan, @veramagalhaes, flagrou a forçação de barra dos que levantam bandeira contra o STF: “Dica: se for usar foto antiga, escolha uma mais genérica.”

Num tuíte postado segunda-feira (18), o ideólogo do bolsonarismo parecia mais apelar que celebrar a participação popular em seu projeto populista: @opropriolavo “Não tenho certeza científica, mas tenho a forte impressão de que o povo NÃO TEM A QUEM RECORRER: nem o Congresso, nem as Forças Armadas ouvirão apelo nenhum. A única força ativa que pode restaurar a verdadeira ordem democrática no país É O PRÓPRIO POVO.”

Cabe perguntar que tipo de “ordem democrática” quer instalar no país o grupo político que já está no poder por força das urnas. Enquanto isso, o Twitter segue sua vocação mista de oráculo dos anseios da sociedade e propaganda eleitoral (nem sempre) gratuita.

Pólvora 

O portal de informações sobre relações governamentais @inteligovbr foi um dos que destacou na plataforma uma pequena nota perdida no meio da coluna de Elio Gaspari de domingo (17), na Folha: “#política via #Folha Estopim na Bolívia foi uma rebelião de unidades da polícia.”

Nela, o colunista chama a atenção para o fato de o golpe no país vizinho não ter começado nos quartéis das Forças Armadas, mas “na Unidade Tática de Operações de Cochabamba, uma espécie de Bope”.

De seu exílio no México, o presidente deposto lamentou, ontem (18): @evoespueblo “Em vez de pacificação, ordenam difamação e repressão contra os irmãos do campo que denunciam o golpe de Estado. Depois de massacrar 24 indígenas, eles agora preparam um Estado de Sítio. Seria a confirmação de que, pedindo democracia, instalaram uma ditadura.”

Que centro é esse? 

Ainda no domingo (17), o cientista político e doutor pela Unicamp repercutiu o noticiário em seu perfil: @rudaricci “Rodrigo Maia afirma que ele, Doria, Huck e Ciro Gomes fazem parte de um ‘centro renovado’.”

No dia seguinte (18), seu colega, doutor pelo Iuperj, também falou em renovação: @albertocalmeida “Os ciristas morrem de medo do Flávio Dino. Eles têm razão, precisam ter medo mesmo. Tuitei no passado que Dino liquidava Ciro. Motivo: é a novidade que vem do Nordeste, não brigou com o PT, tem uma identidade clara e é conciliador. Ciro é o oposto disso tudo.”

A xenofobia é uma bola 

Enquete feita pelo @Esp_Interativo este fim de semana com a declaração do técnico vitorioso do Flamengo, o português Jorge Jesus, repercutiu nas redes: “‘NÃO VIM TIRAR O TRABALHO DE NINGUÉM (...) Treinadores brasileiros já trabalharam em Portugal e nunca foi essa AGRESSIVIDADE VERBAL como fazem comigo (...) Não entendo essas mentes fechadas, que olhem pra mim como colega de profissão’, Jorge Jesus. O que achou do desabafo?”

O jornalista, autor da biografia Marighella (Companhia das Letras) e aficionado por futebol @mariomagalhaes deu trato à bola: “A agressividade de muitos técnicos brasileiros contra Jorge Jesus entra para a história como uma das páginas mais mesquinhas do futebol nacional. O treinador do Flamengo pegou leve ao se manifestar, enfim, sobre as almas pequenas e xenófobas que o fustigam.”

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