Ivan Marsiglia

Jornalista e bacharel em ciências sociais, Ivan Marsiglia é autor de “A Poeira dos Outros”.

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Isolado no Planalto e no Twitter, Bolsonaro revê MP do Patrão

Gestão fraca da crise da Covid-19 deixa governistas confusos na rede

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A trajetória errática do governo @jairbolsonaro desde a divulgação do pífio PIB de 1,1%, antes mesmo de ser apanhado pela devastadora crise sanitária e econômica do coronavírus refletiu-se na principal arena de combate do bolsonarismo, o Twitter.

Desde o tuíte do filho Zero Três na quarta-feira (18), responsabilizando a China, principal parceiro comercial do Brasil, pela pandemia, ao mesmo tempo em que o pai insistia na tese da “gripezinha” e fustigava as iniciativas dos governadores para enfrentar o problema, o governo mostrou-se perdido, em estado de delírio febril. E deixou confusos seus aliados na plataforma.

A divulgação, na madrugada desta segunda-feira (23), da MP 927, que entre outras maldades permitiria aos patrões suspender o contrato de trabalho dos funcionários por quatro meses durante a quarentena, sem qualquer remuneração, foi torpedeada por 148 mil tuítes mencionando “4 meses” e 73,6 mil, “sem salário”.

A economista Monica De Bolle, pesquisadora sênior do Peterson Institute for International Economics, de Washington, espantou-se:

@bollemdb “A MP da madrugada deixa o trabalhador exposto, impede a reconversão industrial, e vai na contramão do que todos os governos mundo afora têm feito. É para derrubá-la, pois não se trata apenas do suicídio político de Bolsonaro. Trata-se de um desentendimento criminoso dessa crise”.

Em resposta, a procuradora do Ministério Público de Contas de São Paulo e professora da FGV @elida_graziane compartilhou uma entrevista do economista e filósofo Eduardo Giannetti da Fonseca e alertou:

“Estamos vivendo o equivalente histórico da crise sanitária de 1918 e o equivalente econômico da crise de 1929 e essa decisão de deixar cortar vínculos empregatícios vai acelerar a crise, explodindo a convulsão social".

A repórter Patrícia Campos Mello, da Folha, expôs em números a incongruência da medida:

@camposmello “Enquanto governo do Reino Unido paga 80% do salário das pessoas e EUA vão dar até US$ 2 mil por trabalhador, Bolsonaro facilita empresas a deixar pessoas 4 meses em casa sem salário".

Inicialmente, às 9h52, o presidente ainda tentou mobilizar seus apoiadores, sugerindo que estivesse prevista uma contrapartida por parte do governo (o que não constava no texto da MP):

@jairbolsonaro “Esclarecemos que a referida MP, ao contrário do que espalham, resguarda ajuda possível para os empregados. Ao invés de serem demitidos, o governo entra com ajuda nos próximos 4 meses, até a volta normal das atividades do estabelecimento, sem que exista a demissão do empregado.”

Depois, diante da resistência no Congresso e da possibilidade de a medida ser derrubada no STF, o presidente voltou à plataforma às 13h49 para anunciar um recuo parcial: @jairbolsonaro “Determinei a revogação do art. 18 da MP 927 que permitia a suspensão do contrato de trabalho por até 4 meses sem salário.”

A deputada federal pelo PSL-SP que pusera uma imagem de Jesus Cristo ombreando Bolsonaro em defesa do primeiro tuíte presidencial limitou-se a retuitar, sem mais comentários, o segundo.

@CarlaZambelli38 “Em resposta a @jairbolsonaro: Presidente, siga firme. Deus há de prover e lhe proteger. Estamos na sua retaguarda".

Em entrevista no domingo (22), o presidente tentara justificar seu discurso leniente sobre a epidemia, em comparação com o dos governadores Doria e Witzel e de seu próprio ministro da Saúde:

@BlogdoNoblat “Na CNN, Bolsonaro chama governador de São Paulo de lunático e critica o governador do Rio. ‘Estão fazendo um clima de terror. E isso cria depressão e pode levar à morte'. Deve ter falado isso porque um poeta, hoje, no Rio, que sofria de depressão, matou-se pulando de um prédio.”

Mas a pesquisa Datafolha divulgada nesta segunda-feira confirmou o que já sugeria a volta dos panelaços e o termômetro das redes sociais. A gestão da pandemia por Bolsonaro é aprovada por apenas 35% dos brasileiros, enquanto a dos governadores tem 54% de aprovação e 55% elogiam o desempenho do Ministério da Saúde.

Para o editor da revista literária @quatrocincoum, ao tentar minimizar as medidas necessárias de isolamento social, Bolsonaro acabou isolando-se a si próprio

@paulowerneck “A reação de Bolsonaro ao coronavírus fez a população entender que ele governa a favor da morte. Pra quem ainda não tinha entendido por que falamos tanto em mortos pela tortura, genocídio indígena, feminicídio, homofobia, ficou desenhado.”

No final da tarde, as hashtags #BolsonaroGenocida, com 133 mil tuítes e #PraCimaDelesPresidente, com 77,6 mil, lideravam os Trending Topics do Twitter.

Jogo bruto

Pelo visto, o núcleo governista ainda não se convenceu de que o médico Drauzio Varella não é candidato à Presidência em 2022.

Tuítes do senador @FlavioBolsonaro, o filho Zero Um, e do ministro do Meio Ambiente, @rsallesmma, que utilizavam fora de contexto um vídeo antigo do médico minimizando a crise do coronavírus, foram apagados pelo Twitter.

A empresa considerou que as postagens violavam as regras de uso da plataforma, ao colocar pessoas potencialmente em risco.

O perfil do médico expressou indignação: @drauziovarella “Autoridades precisam ser sérias e ter compromisso com as informações MAIS ATUALIZADAS sobre #covid-19. Reforçamos: é extrema irresponsabilidade e desserviço o uso de informações antigas, usadas apenas para confundir a população".

Gol contra

O anúncio feito domingo pelo presidente, vestindo camisa de futebol, de que o Hospital Albert Einstein teria encontrado na cloroquina “a possível cura dos pacientes com o Covid-19” transformou-se em constrangimento depois que a instituição admitiu não haver ainda comprovação científica de que seu uso é eficaz.

Para o jornalista @ofilipequitans: “Essa foto resume tudo: o presidente e os três filhos vão pro jardim, sem assessor, sem controle, sem filtro institucional, num troço meio mambembe, meio gravação de vídeo de grupo terrorista, pra espalhar uma informação falsa de cura da covid-19".

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