Ivan Marsiglia

Jornalista e bacharel em ciências sociais, Ivan Marsiglia é autor de “A Poeira dos Outros”.

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No Twitter, máquina de assassinar reputações mira o doutor Drauzio

Médico e Rede Globo foram atacados após abraço em trans condenada

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Na noite de domingo (8), enquanto a black monday desta segunda-feira (9) já se anunciava no fechamento das bolsas da Ásia e da Oceania, um outro tipo de movimentação nas sombras tomava o Twitter brasileiro.

Menções ao programa Fantástico e à transexual Susy, além das hashtags #GloboLixo e #DrauzioVarellaLixo, foram levantadas quase ao mesmo tempo, reunindo, respectivamente, 208 mil tuítes, 15,6 mil tuítes, 45,1 mil tuítes e 14 mil tuítes. As postagens rechaçavam uma reportagem veiculada não no programa daquele domingo, mas no anterior, do dia 1º/3 —num timing curiosamente conveniente.

Na ocasião, um especial apresentado por Drauzio Varella sobre a vida de transexuais em presídios masculinos emocionara o país. Em particular, o momento em que o médico abraça a detenta Suzy de Oliveira quando ela conta não receber visitas há 8 anos: “Solidão, né, minha filha?”

Suzy Oliveira, detenta trans que foi entrevistada por Drauzio Varella
Suzy Oliveira, detenta que foi entrevistada por Drauzio Varella - Reprodução

O clima de compaixão virou acusação quando o site lava-jateiro @o_antagonista publicou que “juízes criminais” tinham revelado que o crime —sob segredo de Justiça—  cometido por Susy teria sido estupro e assassinato de uma criança de 9 anos.

No intervalo de uma semana, a máquina de assassinar reputações da rede transformava o dr. Drauzio de humanista e protagonista de uma “cena verdadeiramente evangélica”, na declaração do padre Fábio de Melo, em “defensor da pedofilia”.

Em um tuíte possesso, o ministro da Educação propôs boicote total à emissora: @AbrahamWeint “Literalmente, abraçam o demônio! Suas novelas são LIXO, seus programas infantis são LIXO, seus jornais são LIXO e estão à serviço do Mal. Não vejam, não assistam, não comprem, NÃO FALEM COM NINGUÉM (entrevistas) que trabalhe para essa família Marinho. #BoicoteAGlobo”

O deputado federal pelo PSL do Paraná @filipebarrost foi no mesmo tom e marcou a emissora e o médico em sua postagem: “O travesti Suzy estuprou, matou e escondeu o corpo de uma criança. A @RedeGlobo escondeu o fato. O @drauziovarella foi lá e o abraçou. Alguns da mídia e os partidos de esquerda celebraram. É óbvio que estamos diante de uma tentativa de normalização dos crimes que ele cometeu.”

De nada adiantou o editorial lido por Tadeu Schmidt sustentar que “os crimes das entrevistadas não foram mencionados porque este não era o objetivo da reportagem”, que seria discutir as condições em que elas vivem sob tutela do Estado.

O ministro da Cidadania enxergou na emissora de Roberto Marinho um veículo de divulgação do esquerdismo: @onyxlorenzoni “Glamourização de bandido não é novidade. É parte da inversão de valores a que este país foi submetido, governado pela esquerda. Já teve até bandido ‘atirando na polícia em legítima defesa’.”

Mais comedida, a deputada estadual pelo PSL-SP @JanainaDoBrasil questionou a narrativa da reportagem: “Quero ver se o Fantástico vai pedir desculpas à família da criança vítima! A Globo deve completar a matéria, para deixar claro que a pessoa que violentou e matou a criança não recebe visitas não por ser quem é, mas por ter feito o que fez! Generalizações geram injustiça!”

Houve também quem ironizasse a “indignação” de simpatizantes do governo na plataforma, como o jornalista e diretor do programa Que Mundo É Esse, na GloboNews: @andrefran “É curioso ver um pessoal que defende um presidente que tem como ídolo um torturador de crianças se mostrar indignado por um médico humanista abraçar uma presa condenada e pagando pelo seu crime.”

Tuitada no próprio domingo pela editora do Portal Drauzio Varella, @marivarella, a nota divulgada pelo doutor, em que afirma sua prática de não perguntar sobre os crimes de seus pacientes nas penitenciárias para que “meu julgamento pessoal não me impeça de cumprir o juramento que fiz”, concluindo com a afirmação “sou médico, não juiz”, teve 8.800 curtidas e 1.400 compartilhamentos, um tanto aquém da repercussão negativa.

A virulência do ataque sugeriu a muitos, como a jornalista @veramagalhaes, que ele visava as especulações na rede, desmentidas pelo próprio Drauzio, sobre uma eventual candidatura à Presidência em 2022: “Bastou haver uma corrente supraideológica louvando o humanismo do Drauziio Varella para, claro, irem atrás de algo para descredenciá-lo. O crime da trans Susy não anula o gesto do Drauzio. Que país triste que tem de destruir suas grandes pessoas. Se aquietem: ele não é candidato.”

Coube à anônima influenciadora digital Aline (com 22,4 mil seguidores) a mais sofisticada reflexão sobre o tema: @tdbem “Quando você perde o ímpeto de desejar a destruição de alguém, ainda que um criminoso atroz não é ele que está sendo ‘humanizado’, é você. Essa foi a traição do Drauzio, ele humanizou uma audiência que anda habituada a receber estímulos de vingança e barbárie.”

Cravo e ferradura 

Da colunista de TV Cristina Padiglione sobre a entrevista do @showdavida com a nova secretária da Cultura: @Padig “Ernesto Paglia dando uma aula de Jornalismo no Fantástico em entrevista com Regina Duarte.”

Paglia contestou Regina quando esta afirmou que “minorias” devem buscar financiamentos para seus projetos na sociedade civil, e não no governo: “Mas o governo não governa para todos?”

Apertem os cintos, o modelo sumiu 

Da juíza e colunista de O Globo, @AndreaMPacha  “Parece que a mídia se inspirou em Bacurau e tirou o Chile do mapa. Impressionante a falta de notícias sobre as intensas lutas que acontecem em Santiago.”

Apertem os cintos, o futuro sumiu 

Do jornalista @AttuchLeonardo no domingo, diante do derretimento da bolsa americana: “Queda de 1000 pontos no índice Dow Jones futuro. O economista Nouriel Roubini, que previu a crise de 2008, aposta que 2020 será pior e que a bolha explode antes da eleição americana – o que provocaria a derrota de Trump. Será?” 

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