Ivan Marsiglia

Jornalista e bacharel em ciências sociais, Ivan Marsiglia é autor de “A Poeira dos Outros”.

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Resistência a golpe bolsochavista une bolhas opostas no Twitter e some no ar

De Lula a FHC, protestos foram eloquentes mas pouco efetivos

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A ebulição política nas redes deu provas, mais uma vez, de seu caráter volátil e de pouca organização da vida social. Na semana em que o próprio presidente convocou manifestação contra os outros Poderes da República —em uma campanha que lançava mão de imagens de generais “patriotas” e de parlamentares cozidos vivos— a temperatura subiu no Twitter para desvanecer-se rapidamente.

No dia 25, após a convocação feita por @jairbolsonoaro via WhatsApp ser revelada pela jornalista @veramagalhaes, na esteira do vazamento do áudio do @gen_heleno mandando um “foda-se” ao Congresso Nacional, a terça de Carnaval converteu-se em quarta de cinzas na plataforma.

Normalmente evasivo em suas manifestações sobre a instabilidade institucional do país desde o impeachment de Dilma Rousseff, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi eloquente em sua postagem (embora tenha confundido a rede social de que Bolsonaro fez uso):

@FHC “A ser verdade, como parece, que o próprio PR tuitou convocando uma manifestação contra o Congresso (a democracia) estamos com uma crise institucional de consequências gravíssimas. Calar seria concordar. Melhor gritar enquanto se tem voz, mesmo no Carnaval, com poucos ouvindo.”

Concordava com ele, poucas horas depois, o também ex-presidente @LulaOficial: “Bolsonaro e o general Heleno estão provocando manifestações contra a democracia, a Constituição e as instituições, em mais um gesto autoritário de quem agride a liberdade e os direitos todos os dias.”

O ex-governador do Ceará e terceiro colocado nas últimas eleições presidenciais, @cirogomes, também cerrou fileira no Twitter: “Acredito na seriedade da jornalista @veramagalhaes. Se o próprio presidente da República convoca manifestações contra o Congresso e o STF, não resta dúvida de que todos aqueles que prezam pela democracia devem reagir.”

Na sequência, o governador do Maranhão e presidenciável @FlavioDino, procurou na história brasileira o argumento para a necessidade de união em defesa da democracia: “Lacerda foi inimigo visceral do trabalhismo. Atuou fortemente em tragédias como o suicídio de Getúlio Vargas e o golpe de 1964. Ainda assim, João Goulart reuniu-se com ele para tentar restabelecer a democracia em 1967. Em horas graves, como a atual, creio ser uma lembrança útil.”

Em poucos dias, a jornalista que expôs a movimentação de Bolsonaro, colunista do @estadão e âncora do programa Roda Viva na @tvcultura, sofreu ameaças de seguidores do presidente, teve um perfil fake criado em seu nome e dados pessoais divulgados, como o colégio onde seus filhos estudam. E desabafou:

@veramagalhaes “‘Vera, como você está?’  É o que mais ouço de amigos, familiares, conhecidos virtuais e desconhecidos. Estou bem, mas não sou de aço. Ontem vomitei 3 vezes ao ouvir o presidente do meu país mentir a meu respeito e me ofender em rede nacional. Mas estou forte e cercada de amor.”

No mundo extra-virtual, no entanto, a temperatura oscilou menos que o esperado, com o silêncio das Forças Armadas e do presidente do Congresso, Davi Alcolumbre, e as manifestações anódinas do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e do presidente do STF, ministro Dias Toffoli.

A exceção, como de hábito, foi a fala decano do STF, Celso de Mello, sobre “a face sombria de um presidente da República que desconhece o valor da ordem constitucional”.

God save the king 

Embora não tenha dado palavra sobre os impropérios do general seu colega de Esplanada ou a atitude do chefe do Executivo, o ministro da Justiça foi diligente na condenação do cartaz de um festival punk em Belém que supostamente difamava e ameaçava Bolsonaro.

Sergio Moro foi às redes questionar reportagem da Folha sobre o inquérito pedido à Polícia Federal para investigar os organizadores do Facada Fest por crimes “contra a honra” do presidente e “apologia ao homicídio”:

@SF_Moro “A iniciativa do inquérito não foi minha, como diz a Folha de S.Paulo, mas poderia ter sido. Publicar cartazes ou anúncios com o PR ou qualquer cidadão empalado ou esfaqueado não pode ser considerado liberdade de expressão. É apologia a crime, além de ofensivo.”

Acabou ganhando resposta —documentada— do perfil do autodenominado “festival de música underground antifascista”: @facadafest “A @folha não mente. Pelo contrário. A requisição, peça jurídica que foi condição de procedibilidade para o procedimento contra o Facada Fest, é assinada por Moro. O despacho é dele. #facadafest”

Além do comentário sarcástico do colunista da Folha @NPTO, sobre o flyer de divulgação do ato contra o Congresso e o STF subscrito pelo presidente: “Ministro, no cartaz dessa banda punk aqui tem o presidente da Câmara sendo assado vivo como um porco, prende lá os vagabundo.”

E o de um internauta, que reproduziu a imagem de um ato contra Dilma e Lula em 2016: @gugtavas “Enforcado pode, entendi.”

Coube ao DJ e repórter especial do @nexojornal, @camilorocha, ilustrar os usuários do Twitter sobre a história do movimento punk na Inglaterra, nos anos 1970: “‘God Save the Queen’, dos Sex Pistols, citava o hino britânico para chamar a monarquia de ‘regime fascista’. Na capa, a rainha Elizabeth II aparece vendada e amordaçada. BBC vetou a música por ser ‘de mau gosto’. Seria impensável o estado britânico abrir um inquérito contra a banda.”

Saia justa 

Do perfil com impressionantes 520,2 mil seguidores da jornalista e apresentadora do GNT, @barbaragancia: “Descubro, em mensagem publicada no Painel do Leitor da Folha, que o desclassificado general Heleno era o Ajudante de Ordens do ministro do Exército Sylvio Frota quando o infame general da extrema direita tentou um golpe para derrubar Geisel. Faz sentido.”

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