Ivan Marsiglia

Jornalista e bacharel em ciências sociais, Ivan Marsiglia é autor de “A Poeira dos Outros”.

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Tuíte ofensivo à China tinha como alvo o Ministério da Saúde

Postagem de Weintraub, considerada racista pela embaixada chinesa, complica cooperação contra o Covid-19

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Alguém já disse que rede social não é botequim, mas o ministro Abraham Weintraub não cansa de exibir sua embriaguez via Twitter. Desta vez, no entanto, a ressaca pode ser forte.

A postagem feita pelo titular da Educação no sábado (4), usando o linguajar do personagem Cebolinha, da Turma da Mônica, conseguiu desagradar não apenas o cartunista Maurício de Sousa, mas a Embaixada da China —que considerou suas declarações “absurdas”, “desprezíveis” e “de cunho racista”.

O printscreen do tuíte, apagado pelo ministro após as reações, foi reproduzido pelo jornal @Estadao: “Em tuíte irônico, Weintraub insinua que China sairá ‘fortalecida’ com crise do coronavirus".

Na reprodução, a “ironia” do ministro: “Geopoliticamente, quem podeLá saiL foLtalecido, em teLmos Lelativos, dessa cLise mundial? PodeLia seL o Cebolinha? Quem são os aliados no BLasil do plano infalível do Cebolinha paLa dominaL o mundo? SeLia o Cascão ou há mais amiguinhos?”.

No mesmo sábado, o anúncio feito pelo Ministério da Agricultura chinês de que pretende reduzir, “por questão de segurança”, as importações de soja brasileira e ampliar as dos EUA, sugeria a hipótese de uma resposta de Pequim —o que chacoalhou a plataforma.

Na manhã desta segunda-feira (6), 30,7 mil tuítes faziam menção majoritariamente negativa ao nome “Weintraub”. Na sequência, a bolha governista dobrou a aposta e levantou a hashtag #BloqueioComercialChinesJa, que às 16h batia em 30,5 mil tuítes.

O deputado federal e líder do PT na Câmara protestou: @enioverri “O gabinete do ódio, comandado por Olavo de Carvalho e Carluxo, com aval de Bolsonaro, subiu a hashtag #BloqueioComercialChinesJa. Eles querem bloquear o comércio com o nosso maior parceiro mundial. O Brasil não pode ser menor que uma família fanática".

Professor de política externa da FGV, Guilherme Casarões referiu-se ao chanceler brasileiro, também com ironia: @GCasaroes “Como será que nosso ministro @ernestofaraujo resolverá essa crise? a) “As declarações de @AbrahamWeint não refletem a posição do governo.” b) “Éé, hm, eu não diria que é racismo. É uma questão, éé, de terminologia.” c) “A China é que tem que se desculpar por ofender nosso olavismo".

Na mesma linha, o professor do Departamento de Estudos de Mídia da Universidade da Virgínia, o brasileiro @DavidNemer, criticou: “Já há um consenso de que a China é quem vai liderar o mundo na recuperação econômica – e o governo do Brasil, liderado por Eduardo Bolsonaro e Weintraub, insiste em atacar a China com insultos racistas e humilhantes. Os tempos pós-Covid19 no Brasil não parecem promissores".

O site Congresso em Foco, no entanto, viu método na “brincadeira leve” de Weintraub, como o ministro se justificou, e na hashtag aparentemente suicida da ala ideológica do governo: @congemfoco “A base bolsonarista tem insistido em ataques diários à China justamente no momento em que o @minsaude busca insumos no país asiático para enfrentar o déficit de produtos médicos necessários ao combate ao #Covid_19.”

Ecoou na memória de muitos a ameaça feita pelo presidente @jairbolsonaro no final de semana em que a pesquisa Datafolha registrou aprovação de 76% para o Ministério da Saúde, comandado pelo médico Luiz Henrique Mandetta —do grupo político do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia.

No registro da reporter da GloboNews, @AndreiaSadi “Bolsonaro: ‘Algumas pessoas no meu governo, algo subiu à cabeça deles, estão se achando. Eram pessoas normais, mas de repente viraram estrelas e falam pelos cotovelos (…) mas a hora deles não chegou ainda, vai chegar a hora deles. Porque minha caneta funciona’.”

Indigesta

A entrevista de Rodrigo Maia ao programa Canal Livre, da Band, na madrugada desta segunda-feira, criticando o escritor Olavo de Carvalho e o chamado gabinete do ódio, “assessores do presidente que são mais marginais do que assessors do presidente”, não caiu bem para o vereador Carlos Bolsonaro, o filho Zero Dois, que fustigou:

@CarlosBolsonaro “Desse tamanho e ainda tá com fome!”

Eu avisei

Ex-bolsonarista, o deputado federal Alexandre Frota (PSDB-SP) marcou o presidente, outras autoridades, partidos políticos e até o músico Lobão na postagem em que comentou a notícia de que Olavo de Carvalho pediu a cabeça do ministro da Saúde em plena crise do coronavírus.

@alefrota77 “Janeiro de 2019 eu fui xingado, criticado nas redes sociais quando comprei briga com esse rato covarde, sujo ideológico. Hoje o Brasil está vendo e me dando razão. @jairbolsonaro @lhmandetta @RodrigoMaia @lobaoeletrico @lucianoayan @PSDBoficial @PSL_Nacional”

Ficções científicas

A campanha pelo vago “isolamento vertical”, levada a cabo pelo presidente e encampada agora por seu ex-ministro da Cidadania, o médico e deputado federal Osmar Terra –de olho na pasta de Mandetta–, mereceu uma fotomontagem no Twitter.

@nao_muito “clássicos revisados por @OsmarTerra e @jairbolsonaro”

Na imagem, a capa do romance "A Peste", de Albert Camus, ganhou outro título: “Nada mais do que uma gripezinha”.

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