A década de 2020 vai começar mesmo só daqui a um ano, mas em poucos dias entraremos nos anos 20. Serão eles gloriosos? Inesquecíveis? Portentosos? Dinâmicos? Maravilhosos?
Tudo indica que não. O mais provável é uma sinistra evolução do pior que já nos assola. Mais redes sociais, polarização, robôs, indignação, violência, intolerância, tristeza.
Credo, melhor voltar os olhos para outros anos 20, aquele que Ruy Castro —titular desta coluna em sua versão impressa, de folga por algumas semanas— descreve no livro que acaba de lançar, “Metrópole à Beira-Mar – O Rio Moderno dos Anos 20”.
Há cem anos, o Rio de Janeiro era a capital e a maior cidade do país, com 1,1 milhão de habitantes, o dobro de São Paulo, que aparecia na segunda colocação. “Era a cidade que todos os brasileiros sonhavam conhecer”, escreve Ruy.
Em 1920, o Rio tinha 24 mil telefones e mais lâmpadas elétricas do que Paris. Eram 40 as livrarias, e os carros puxados a cavalos já tinham sido substituídos por 480 bondes que percorriam 450 km de trilhos urbanos. Havia os auto-ônibus também, à gasolina, que era vendida em latões fechados de 20 litros. E os seus 6.000 carros já causavam engarrafamentos na avenida Rio Branco.
E, em pelo menos um quesito, o Rio tinha muito mais nos anos 1920 do que nos anos 2020: jornais. A cidade “nunca teve menos que 15 ou 16 diários circulando ao mesmo tempo”.
Eis alguns: Jornal do Comércio, Gazeta de Notícias, O País, Jornal do Brasil, Correio da Manhã, O Jornal, A Pátria, O Mundo, O Dia, Cidade do Rio, Rio-Jornal, O Imparcial, O Radical, A Manhã, A Hora, O Avante, A Noite, A Notícia, A Rua, Gazeta da Tarde e Correio da Noite.
Havia também A Esquerda, que, se existisse ainda hoje, seria alvo fácil para a última novidade carioca, o coquetel molotov.
Como se vê, Ruy Castro pode sair da coluna, mas a coluna não sai de Ruy Castro.
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