Naquele 13 de setembro de 1993, o presidente Bill Clinton escolheu uma gravata estampada com trombetas. Vestia-se para comandar a assinatura, na Casa Branca, do acordo de Oslo, inaudito processo de paz entre israelenses e palestinos. A onda de otimismo impulsionada pelo fim da Guerra Fria contaminava um dos mais renitentes conflitos do planeta.
Há exatos 25 anos, a gravata de Clinton parecia remeter ao relato bíblico no qual o exército de Josué, ao soprar trombetas, derrubou muralhas. O presidente americano acreditava inaugurar, com Yitzhak Rabin e Yasser Arafat, a pacificação no Oriente Médio.
Em 2000, o processo de Oslo colapsou. Seguiu-se sangrenta intifada, rebelião palestina alicerçada no homem-bomba. Em ataques terroristas e nas respostas israelenses, morreram, em quatro anos, cerca de 1.000 israelenses e 3.000 palestinos.
Como de hábito, a guerra de narrativas se instalou para explicar a debacle do processo de Oslo. Do lado israelense, é frequente o relato de que as concessões do premiê Ehud Barak representariam histórico ato de ousadia. A proposta incluiria, por exemplo, dividir Jerusalém. No entanto, Arafat —conforme a narrativa— rejeitou a oferta por não ter interesse em construir o Estado palestino, preferindo liderar um “movimento de libertação nacional”, típica guerrilha nascida na Guerra Fria.
No lado palestino, narrativa rotineira responsabiliza Israel pelo desmoronamento do processo de paz. Assentamentos judaicos na Cisjordânia e o assassinato do primeiro-ministro Yitzhak Rabin, em 1995, por um israelense contrário ao processo de Oslo, teriam enterrado o diálogo iniciado com intermediação norueguesa.
O assassinato de Rabin, sem dúvida, golpeou o processo de paz. Porém, é necessário lembrar o motivo da vitória, na eleição seguinte, do direitista Binyamin Netanyahu, cético em relação ao processo de Oslo. Durante a campanha, Shimon Peres, entusiasta do diálogo, liderava pesquisas de intenção de voto, mas atentados do grupo fundamentalista Hamas, no coração de Tel Aviv, fortaleceram o discurso linha-dura da direita, vencedora do pleito por estreita margem.
Assentamentos judaicos na Cisjordânia se expandiram. No entanto, Israel já desmontou construções, como nas retiradas do Sinai, em 1982, e de Gaza, em 2005. O obstáculo intransponível, responsável por dinamitar o acordo de Oslo, reside em pilar presente até hoje no discurso da liderança palestina. Trata-se do chamado “direito de retorno dos refugiados”.
Defendê-lo significa um código para negar o princípio da partilha da Palestina, apoiada na criação de dois Estados, um judeu e um árabe. E esconde uma questão aritmética, ainda que no plano conceitual.
Haveria cerca de 5 milhões de refugiados palestinos, vivendo sobretudo no Oriente Médio. Caso voltem ao atual território israelense (mesmo que se aceite o retorno de forma hipotética), juntos com os árabes já vivendo em Israel, transformarão, rapidamente, a população judaica em minoria.
Ou seja, para a solução de dois países para dois povos, é fundamental a liderança palestina abrir mão do chamado “direito de retorno” e aceitar a ideia de que caberá a seu futuro Estado absorver os refugiados, vítimas do ciclo de guerra iniciado em 1948, quando uma coalizão de cinco países árabes rejeitou a partilha aprovada pela ONU e atacou Israel no momento de sua independência.
O som das trombetas de Clinton não se mostrou capaz de mudar a percepção de Arafat e seu sucessor. Tomara que futuras lideranças palestinas reconheçam a necessidade de rever o erro histórico e, assim, contribuir para resgatar o caminho do diálogo e da paz.
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