Jaime Spitzcovsky

Jornalista, foi correspondente da Folha em Moscou e Pequim.

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Repetição trágica do roteiro em Gaza

Hamas tem um histórico lamentável de repressão e fracasso econômico

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O roteiro, trágico e repugnante, repete-se mais uma vez. O Hamas dispara centenas de foguetes contra Israel, para atingir a população civil e provocar resposta militar. Com as cenas de destruição em Gaza após retaliação israelense, o grupo palestino sai à coleta de dividendos políticos e de doações financeiras, sob o discurso de reconstruir a vida.

Os recursos, no entanto, basicamente engordam a máquina militar do Hamas, dono de arsenal com milhares de foguetes e de uma rede de túneis e bunkers subterrâneos usada, por exemplo para proteger sua liderança. A população continua à míngua.

No capítulo atual, o Hamas deixou clara mensagem: “calma por dinheiro”. Propõe interromper ataques em troca da retomada de ajuda financeira do Qatar, canalizada por território israelense.

Palestinos observam prédio destruído por ataque israelense na cidade de Rafah, na faixa de Gaza
Palestinos observam prédio destruído por ataque israelense na cidade de Rafah, na faixa de Gaza - Xinhua

O rico emirado árabe despejou recentemente cerca de US$ 15 milhões (R$ 59 milhões) por mês nos cofres do grupo palestino. O Hamas pressiona Israel a permitir a manutenção e até ampliação do balão de oxigênio catariano.

O calendário apontou ao Hamas momento adequado para tentar colocar Israel contra a parede. Os ditadores de Gaza avaliam que o governo israelense, com eventos importantes em maio, aceitaria a negociação, a fim de evitar mergulho num conflito armado.

Israel comemora, neste mês, o aniversário de sua independência e vai sediar a Eurovisão, festival internacional de música com visibilidade astronômica, nas transmissões por TV e internet.

Em termos de audiência, foi o Hamas quem perdeu espaço nos últimos anos. A eclosão da chamada Primavera Árabe, o advento do Estado Islâmico e as trágicas guerras da Síria e do Iêmen ocuparam no noticiário de Oriente Médio espaço antes quase monopolizado pela questão palestina.

Patrocinadores históricos do Hamas também se viram envoltos em outras prioridades e fecharam as torneiras. A Turquia, além de enfrentar crise econômica doméstica, passou a priorizar envolvimento na vizinha Síria, assim como o Irã, aliado histórico do fundamentalismo a governar Gaza.

Sobrou então o Qatar como relevante financiador. A pobreza e o desemprego, porém, se alastram no território, enquanto o grupo fundamentalista prioriza gastos militares e alardeia a importância de “eliminar o inimigo sionista”. Em março, protestos contra a penúria econômica e o desgoverno chacoalharam a faixa de Gaza. O Hamas respondeu, como de hábito, com violenta repressão.

Israel e Egito, donos de fronteiras com o território palestino, impõem severas restrições ao fluxo de bens e pessoas, também com evidentes consequências econômicas. Importante, no entanto, lembrar a origem dos bloqueios.

Em 2005, Israel se retirou unilateralmente da faixa de Gaza, conquistada do Egito na Guerra dos Seis Dias, em 1967. Após a retirada, em 2006, o Hamas derrotou, em eleições legislativas, o Fatah, grupo nacionalista liderado por Mahmoud Abbas e que aceita dialogar com o governo israelense.

Depois da votação, a disputa pelo poder entre os grupos palestinos se acirrou. Em 2007, o Hamas, em sangrento confronto, expulsou da faixa de Gaza o Fatah, que se entrincheirou na Cisjordânia. Os territórios palestinos se dividiram politicamente: Hamas em Gaza e Fatah na Cisjordânia.

Israel impôs restrições nas fronteiras quando o Hamas, que defende a destruição do país vizinho, consolidou seu poder na faixa de Gaza, após expulsar o Fatah. Já são 12 anos de domínio do Hamas sobre o território, em história lamentável de repressão e fracasso econômico e social.


 

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