Jaime Spitzcovsky

Jornalista, foi correspondente da Folha em Moscou e Pequim.

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Países do Brics representam relevante tendência do século 21

Mundo contemporâneo testemunha a classe média global se transformar em protagonista

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Se, nos idos dos séculos 19 e 20, gurus políticos apostavam no proletariado como protagonista-mor do cenário internacional, o mundo contemporâneo testemunha a classificação se transferir para outro personagem: a chamada classe média global.

O fim da URSS golpeou sonhos marxistas, e a China, ao adotar economia de mercado, passou a liderar momento histórico baseado no surgimento de centenas de milhões de novos consumidores

Inaugura-se, então, a era dos países emergentes. 

O Brics, reunido recentemente em Brasília, não se destaca por sua coesão política ou econômica.

Da esq. para a dir, os líderes Cyril Ramaphosa (África do Sul), Xi Jinping (China), Narendra Modi (Índia), Vladimir Putin (Rússia) e Jair Bolsonaro (Brasil) posam para foto no Palácio do Itamaraty, em Brasília
Da esq. para a dir, os líderes Cyril Ramaphosa (África do Sul), Xi Jinping (China), Narendra Modi (Índia), Vladimir Putin (Rússia) e Jair Bolsonaro (Brasil) posam para foto no Palácio do Itamaraty, em Brasília - Pavel Golovkin - 14.nov.19/Pool via Reuters

Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul guardam interesses várias vezes concorrentes, responsáveis por inviabilizar a construção de uma aliança com contornos de uma União Europeia ou de uma Asean (Associação das Nações do Sudeste Asiático). 

A relevância do Brics reside na sua representatividade, essencial para compreensão do século 21.

Os países do bloco despontam como robustas engrenagens do principal motor econômico e social do cenário contemporâneo, o da criação de novas classes médias. 

“Pela primeira vez desde o início da civilização baseada na agricultura, 10 mil anos atrás, a maioria da humanidade não é mais pobre ou vulnerável à pobreza”, apontou análise do centro de pesquisa norte-americano Brookings Institution.

O texto, publicado em setembro de 2018, prosseguiu: "Por nossos cálculos, neste mês, superou-se a marca de 50% da população mundial, ou cerca de 3,8 bilhões de pessoas, vivendo em domicílios com poder de compra suficiente para ser considerada 'classe média' ou 'rica'". 

“Excetuando algum infortunado recuo econômico global, isso marca o início de uma nova era, a de uma maioria da classe média”, sustentou o documento de autoria dos pesquisadores Homi Kharas e Kristofer Hamel.

O estudo alinha critérios econômicos para definir quem integra o novo mundo de consumidores. No entanto, diversos especialistas propõem ler o fenômeno com lentes menos numéricas e mais sociais.

Ou seja, considerar integrante da classe média global quem consegue renda a ultrapassar o nível de subsistência, ingressando, ainda que em patamar bastante modesto, no mundo do consumo. 

China e Índia, com as reformas e o crescimento econômico acelerado das últimas décadas, transformaram-se nas locomotivas da expansão do consumo a setores da população antes condenados à pobreza.

Brasil, Rússia e África do Sul, no cenário pós-Guerra Fria, colecionam avanços e recuos no desenho de suas novas classes médias, ao alternarem expansões e recessões em suas rodas-gigantes econômicas. 

Do ponto de vista histórico, dois personagens se destacam como alquimistas do mapa social contemporâneo, responsáveis pelo deslocamento de investimento, renda e riqueza sobretudo ao continente asiático.

Deng Xiaoping, líder comunista chinês, deslanchou reformas já em 1978, enquanto a Índia optou por acelerar a diluição de seu modelo socialista a partir de 1991, quando do governo do primeiro-ministro Narasimha Rao. 

No entanto, a ampliação da classe média global não se dá de maneira linear, apesar do vigor chinês e indiano.

Outro estudo recente do Brookings Institution aponta, por exemplo, recuos no combate à pobreza em países africanos, provocados por nuvens de desaceleração no cenário econômico internacional. 

Exagera quem aponta o Brics como embrião de um polo organizado e com capacidade para substituir a hegemonia norte-americana.

Mas observar os países do bloco e suas interações significa acompanhar uma das principais tendências a modelar o século 21.

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