Imagem clássica do Oriente Médio no século 20 evidenciava o pequeno Estado de Israel com escassas fontes de energia, rodeado por vizinhos mergulhados em caudalosas reservas petrolíferas.
Em 2020, no entanto, gás natural israelense chegará ao Egito e à Jordânia, num movimento a redesenhar a economia e a geopolítica regionais.
Israel, quem diria, vai se transformar numa potência energética, graças a campos de gás natural no leste do mar Mediterrâneo. Primeiro, veio a descoberta de Tamar, em 2009, a cerca de 80 quilômetros da cidade de Haifa.
Inaugurou-se a produção em 2013.
Mas, ainda em 2010, revelou-se a existência, na mesma região, de uma reserva ainda maior, batizada de Leviathan. Redesenham-se assim importantes contornos do Oriente Médio, com Israel se transformando de importador em exportador de recursos energéticos.
A produção do campo de Leviathan, parceria entre empresas israelense e norte-americana, deve começar na próxima semana, após sucessivos adiamentos e uma longa batalha judicial.
Grupos ambientalistas apontam os riscos poluidores de uma plataforma localizada a cerca de 125 quilômetros da portuária Haifa e também de algumas das mais belas praias de Israel.
Enquanto o relevante debate sobre impacto ambiental se alastra, consequências econômicas e geopolíticas também são avaliadas.
Com o Egito, Israel assinou um acordo para iniciar a exportação de gás em janeiro, e, em seguida, será a vez de a Jordânia receber o produto. Há estudos sobre vendas para clientes palestinos, na Cisjordânia.
As descobertas de Leviathan e Tamar contribuíram para alterar a lógica geopolítica do Oriente Médio, com intensificação de um processo em curso há alguns anos: a aproximação de Israel com vizinhos árabes.
A hostilidade histórica se desbotou à medida que países como Arábia Saudita e Egito perceberam em Israel um aliado importante para enfrentar um inimigo comum, o Irã. Sauditas e egípcios avaliam o regime iraniano, rival histórico com alardeadas pretensões e ações expansionistas, como ameaça primordial.
Portanto, Israel e países muçulmanos sunitas, como Arábia Saudita e Egito, aproximam-se, aberta ou discretamente, com objetivo de conter Teerã, de maioria xiita.
Há também uma lógica econômica na aproximação entre antigos inimigos. Com a perda de relevância do petróleo, sauditas e outros países árabes entendem a importância de diversificar suas economias, encontrando na tecnológica Israel um parceiro para a modernização.
A geopolítica do gás empurrou ainda mais a tendência rumo à cooperação. Em janeiro, criou-se, para coordenar estratégias, o Fórum do Gás do Mediterrâneo Oriental, com a participação de Israel, Egito, Jordânia, Autoridade Palestina, Chipre, Itália e Grécia.
Disputas, porém, eclipsam a iniciativa. Ao se aliar a Grécia e Chipre, rivais regionais da Turquia, Israel aumenta a temperatura de suas fricções com o presidente turco, Recep Erdogan.
Também o fenômeno Leviathan deve acirrar litígios de Israel com o vizinho Líbano sobre a fronteira marítima entre os dois países, num cenário que envolve o Hizbullah, satélite do arqui-inimigo Irã e peça-chave na vida política libanesa.
Ameaças e riscos, no entanto, não impedem sonhos ambiciosos. Já existem projetos de gasodutos ligando campos israelenses a mercados consumidores europeus, atravessando as áreas grega, cipriota e italiana, num orçamento de US$ 7 bilhões.
A revolução do gás no Oriente Médio ensaia seus primeiros passos e promete, a partir de 2020, trazer impactos significativos para a região.
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