Jaime Spitzcovsky

Jornalista, foi correspondente da Folha em Moscou e Pequim.

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Gorbatchov pede a líderes diálogo global para enfrentar pandemia

Ex-presidente soviético defende a construção de pontes e ações conjuntas

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Figura exponencial do século 20, o ex-presidente soviético Mikhail Sergueievitch Gorbatchov, 89, lançou uma exortação a líderes globais, ao defender a construção de pontes e de diálogos, fundamentais para o enfrentamento da pandemia do novo coronavírus.

E o alerta vem de um mestre da cooperação internacional, cujas iniciativas contribuíram, decisivamente, para enterrar a Guerra Fria e amenizar os riscos de uma guerra nuclear.

“Parem qualquer ação que nos leve mais perto de uma catástrofe, é isso que políticos responsáveis devem oferecer a seus povos”, escreveu Gorbatchov. “Tal posição é particularmente importante neste momento, quando o mundo enfrenta uma ameaça extremamente perigosa –a pandemia do coronavírus.”

Gorbatchov aparece olhando para o lado, de óculos, frente a um microfone de mesa.
Mikhail Gorbatchov, ex-presidente da URSS, durante a Conferência Rio+5, em 1997, em Nova York - Rosane Marinho - 16.mar.1997/Folhapress

Prosseguiu o texto: “Mais uma vez, observamos como é frágil nosso mundo global. Precisamos reagir com racionalidade, solidariedade e ações conjuntas”.

O clamor foi publicado na segunda-feira pelo site russo Novaya Gazeta e pelo norte-americano The Nation, sob o título “Cidadão Gorbatchov se pronuncia”. A iniciativa resgatou uma das vozes mais gabaritadas para pontificar sobre diálogo entre polos opostos do espectro político, mercadoria escassa em tempos de hiperpolarização.

Gorbatchov mudou o curso da história ao assumir o poder em 1985. Ciente do estado terminal do regime soviético, implementou reformas no império criado a partir da revolução de 1917.

Diante de um país capaz de enviar o homem ao espaço, mas incapaz de alimentar adequadamente sua população, Gorbatchov implementou reformas batizadas de glasnost (transparência, em russo), para proporcionar liberdades políticas, e também de perestroika (reestruturação), arquitetada para resgatar a economia.

Gorbatchov, na busca por oxigenar o regime, enxergava na cooperação internacional um ingrediente fundamental. O Kremlin precisava do diálogo global por questões de princípio e também práticas, já que não podia continuar drenando recursos, por exemplo, para a corrida armamentista travada com os Estados Unidos.

O primeiro grande teste para o convívio ideológico veio a 16 de dezembro de 1984, quando o soviético e reformista Gorbatchov, três meses antes de chegar ao poder, se encontrou, no Reino Unido, com a britânica e ultraliberal primeira-ministra Margaret Thatcher.

“Eles protagonizaram um grande debate sobre capitalismo versus comunismo, e perceberam o quanto apreciaram a troca de ideias”, escreveu Charles Moore, biógrafo da Dama de Ferro. Após o encontro, Thatcher celebrizou a frase “podemos fazer negócios com o senhor Gorbatchov”.

Thatcher se reuniu com a estrela ascendente da constelação soviética para avaliar seus objetivos e passar uma opinião a seu grande aliado político e ideológico, o presidente norte-americano Ronald Reagan, também depois importante parceiro do dirigente da URSS.

Embora tenha acumulado inequívocos sucessos na arena global, Gorbatchov, no poder de 1985 a 1991, amargou derrotas retumbantes no plano doméstico. Seu fracasso na economia, responsável pela pior crise no país desde a Segunda Guerra Mundial, ofuscou, por exemplo, liberdades individuais trazidas pela glasnost.

O pai das reformas soviéticas, figura central no fim da Guerra Fria, praticamente abandonou o cenário político ao ser derrotado, em 1991, pelo arquirrival Boris Yeltsin. Hoje, preside a fundação que leva seu nome. E carrega ainda, sem dúvida nenhuma, voz com peso relevante para opinar sobre destinos do cenário global.

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