Jaime Spitzcovsky

Jornalista, foi correspondente da Folha em Moscou e Pequim.

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Insurgência de setores da direita contra Netanyahu muda dinâmica eleitoral

Na corrida pela permanência no poder, premiê alterou debate histórico e ajudou a ressuscitar setores da esquerda

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Israel vai às urnas na terça (23) em busca de um novo governo e na quarta votação em dois anos, recorde histórico e reflexo de ventos políticos responsáveis por remodelar a arquitetura democrática do país.

Debates a monopolizar campanhas por décadas, como a clássica polarização esquerda-direita e a abordagem da questão palestina, deram lugar a uma espécie de plebiscito sobre o primeiro-ministro Binyamin “Bibi” Netanyahu.

De estilo centralizador, Netanyahu conseguiu a proeza de fragmentar a direita israelense, base histórica de seu partido, o Likud. A cada eleição, cresce a lista de ex-aliados na travessia da cerca ideológica, em aproximação ao bloco de centro-esquerda, com intuito de fortalecer o canto “a era Bibi precisa acabar”.

Cartaz de campanha eleitoral com o rosto do premiê de Israel, Biyamin Netanyahu, em Tel Aviv
Cartaz de campanha eleitoral com o rosto do premiê de Israel, Biyamin Netanyahu, em Tel Aviv - Corinna Kern - 14.mar.21/Reuters

O líder direitista, no governo entre 1996-99 e 2009-2021, bateu recorde de permanência no poder ao superar os 13 anos de David Ben-Gurion, patriarca de Israel e ícone do socialismo, corrente majoritária entre 1948, ano da independência, e 1977, primeira vitória do Likud.

Durante décadas, o horizonte político israelense era desenhado pela bipolaridade entre socialistas e likudistas. No plano econômico, o embate tradicional entre visão estatizante e opção por forças de mercado.

Na questão palestina, os seguidores de Ben-Gurion apostavam em negociações, enquanto os direitistas priorizavam segurança e fortalecimento militar. Tais polos determinavam oscilações do pêndulo político.

Netanyahu embaralhou o jogo. Passou a ver a insurgência e o afastamento de antigos subordinados acusando-o, geralmente, de comportamento monárquico. Um dos pioneiros dessa tendência foi Avigdor Lieberman, ex-ministro das Relações Exteriores e líder do ultranacionalista Israel Nossa Casa.

Mais dois ex-ministros de Bibi engrossaram, na atual campanha, fileiras críticas ao premiê: Naftali Bennet e Gideon Sa’ar. Donos de posições linha-dura na questão palestina, eles flertam com moderados partidos de centro, na busca por encerrar a era Netanyahu e também de olho na liderança da direita israelense.

Além de desafios de ex-aliados, Bibi enfrenta julgamento com acusações de suborno, quebra de confiança e fraude. O primeiro-ministro se diz inocente, acusa setores da mídia de parcialidade e fala em ser alvo de perseguição política. Usa o discurso de vitimismo para mobilizar sua base eleitoral.

Bibi, no entanto, não granjeia apoio apenas com retórica populista. Conta com trunfos de grande relevância, como o fundamental sucesso da campanha de vacinação e os acordos de paz com quatro países árabes, assinados no ano passado. Declara-se ainda como o líder mais capacitado e experiente para enfrentar as ambições nucleares do inimigo Irã.

Netanyahu, na corrida pela permanência no poder, alterou o debate histórico, dividiu a direita israelense e ajudou a ressuscitar setores da esquerda antes sem um discurso com capacidade de obter mobilização eleitoral.

A última eleição, em 2020, gerou, na prática, empate entre forças governistas e de oposição, então lideradas pelo centrista Benny Gantz. Formou-se um gabinete de união nacional, inviabilizado por rivalidades entre as principais lideranças. Chegou-se assim a mais uma disputa eleitoral.

A sociedade israelense não mudou de forma drástica ao longo de quatro votações em dois anos.

Continuará, provavelmente, dividida em dois campos de tamanhos comparáveis. Saudades dos tempos em que dirigentes buscavam construir consensos, como ocorreu nos anos 1980, e não mergulhavam em longos e desgastantes ciclos eleitorais.

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