Jaime Spitzcovsky

Jornalista, foi correspondente da Folha em Moscou e Pequim.

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Jaime Spitzcovsky
Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Presidente da Moldova tenta se projetar como dama de ferro em meio à Guerra da Ucrânia

Conflito pressiona atuação de Maia Sandu, que se elegeu com a promessa de rever laços com Moscou

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Em meio às reverberações da tragédia provocada pela Guerra da Ucrânia, holofotes do noticiário internacional se voltam à liderança de um dos países mais pobres da Europa, alvo de intensos desafios políticos, econômicos e militares.

Presidente da Moldova, Maia Sandu, ao enfrentar as ameaças, se candidata a ganhar o epíteto de nova "dama de ferro", a exemplo da britânica Margaret Thatcher (1925-2013).

A ex-república soviética ensanduichada entre Romênia e Ucrânia lida com ameaças de ação militar do Kremlin e com separatismo apoiado por Moscou. Ao mesmo tempo, sua frágil economia guarda laços profundos com a Rússia, responsável, por exemplo, pelo fornecimento de 100% do gás importado.

A presidente da Moldova, Maia Sandu, discursa em encontro com o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, em Chisinau - Olivier Douliery - 6.mar.22/AFP

Uma pilha de problemas, claro, já desafiava o governo moldávio antes do fatídico 24 de fevereiro, início da invasão russa. Maia Sandu prometia aproximar o país da União Europeia, combater a corrupção e diminuir o poder de grupos ligados ao Kremlin, mas sem uma ruptura definitiva. Motivos: vulnerabilidades econômicas e a presença de tropas de Moscou na região separatista da Transdnístria.

Em 1992, um ano após a independência obtida com a desintegração da URSS, um cessar-fogo interrompeu a guerra a envolver o separatismo no leste do país, região habitada sobretudo por russófonos. O pequeno território da Moldova (um pouco maior do que o de Alagoas) abriga uma população de cerca de 3 milhões de habitantes e um mosaico étnico e linguístico.

Vivem no país, além da maioria moldávia (75% da população), russos, ucranianos, búlgaros, entre outras etnias. Do ponto de vista cultural e linguístico, os laços mais fortes se verificam a oeste, com a Romênia. E, no horizonte oriental, contatos históricos com o universo eslavo.

Maia Sandu venceu as eleições de 2020 com a promessa de rever laços antes direcionados, do ponto de vista político e econômico, sobretudo a Moscou. Falou em mais contatos com a Europa ocidental e também em diminuir tensões no caldeirão multiétnico. Ao final do discurso de posse, pronunciou-se em russo, ucraniano, búlgaro e gagauz, idioma de uma minoria originado do turco.

Primeiro líder estrangeiro a visitar a capital Chisinau após a vitória eleitoral de Sandu, o presidente romeno, Klaus Iohannis, evidenciou a intenção de aumentar influência sobre o país vizinho, colocando-o mais perto da órbita da União Europeia. O governo russo, preocupado em preservar espaço no novo governo moldávio, parabenizou a presidente pelo triunfo nas urnas, apesar do apoio à oposição.

A tragédia na Ucrânia e a mão pesada do Kremlin levaram a presidente a intensificar o movimento rumo a paragens ocidentais e a buscar abrigo sob o guarda-chuva político e econômico da UE, com o pedido de adesão realizado em março, mas sem pretensão de embarcar na Otan, a aliança militar liderada pelos Estados Unidos.

Agora na linha de frente do interesse da mídia internacional, Moldova atrai historicamente a atenção de muitos brasileiros. A região, por exemplo, correspondeu a ponto de origem, nos primórdios do século 20, de um intenso fluxo de migração judaica ao Brasil, em particular de parte de uma área conhecida por seu nome histórico, Bessarábia.

Entre os imigrantes fugindo de perseguições e da pobreza, estavam meu avô materno e seus familiares. Visitei a região diversas vezes, nos anos 1990, em busca de informações sobre minhas raízes, numa pesquisa hoje facilitada pela internet e também pela presença de um cônsul-honorário da Moldova em São Paulo, Flavio Bitelman.

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