Janio de Freitas

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Janio de Freitas

Barbosa e PT são dois possíveis fatores de configuração diferente da eleição

Até que o ex-ministro se decida, a disputa pela Presidência não passa de assunto para conjecturas ociosas

Até que Joaquim Barbosa decida se é ou não é, os pré-candidatos e a disputa pela Presidência não passam de assunto para conjecturas ociosas. Enquanto o PT não souber se é só petista ou parte de uma concepção ampla, nem a decisão de Joaquim Barbosa abriria às conjecturas sem sentido o caminho para impressões com fundamento e avaliações analíticas. O ex-ministro e o PT são os dois possíveis fatores de uma configuração da eleição presidencial diferente das anteriores, no pós-ditadura.

Variar entre 9 e 10%, no Datafolha, comprova o potencial incomum de Joaquim Barbosa. Convém notar que esse aparecimento segue-se a anos de (boa) vida discreta, sem frequência pública nem sequer do simples nome. E esse nome é confrontado, quando registra o seu índice de apoio imediato, com pretendentes que trazem apoios ainda da campanha de 2014, como Marina Silva. Ou estão há meses em campanha tão intensa quanto ilegal, caso de Bolsonaro, a figurinha fácil na imprensa.

Embora menos do que Joaquim Barbosa, o PSB, agora seu partido, também está indeciso quanto à candidatura. A ala paulista batalha pela ausência de candidato próprio do partido e por apoio a Geraldo Alckmin. Para quem leva "socialista" no nome, querer o conservador Alckmin na Presidência não surpreenderia, dado o precedente do ex-PCB/PPS atrelado ao neoliberal PSDB, mas seria outra perda de oportunidade de reconstrução.

Caso as decisões de Joaquim Barbosa e do PSB coincidam pela candidatura, o sobe e desce nas pesquisas deve alterar-se em pouco tempo, e bastante, em decorrência da imagem feita entre os conservadores exaltados pelo então juiz do mensalão. E não só: o vislumbre de um negro, o primeiro, na Presidência deve ser forte e justo atrativo para uma faixa eleitoral larga e mista.

O PT, por sua vez, precisa mesmo esperar maior clareza sobre o futuro de Lula. O provável erro está no otimismo, como estaria no pessimismo. A espera, porém, precisa de limite, mesmo que para pensar só no petismo. Chegará o momento em que convirá decidir, em definitivo, entre aprisionar-se com Lula ou escolher um dos seus para substituí-lo, como já propõem alguns.

Há, no entanto, outra escolha a ser feita. Esta, entre ser apenas petismo ou pensar a partir de uma estratégia programática anticonservadorismo. O que significaria aderir, senão mesmo lançar, ao entrelaçamento dos partidos e movimentos defensores dos pontos básicos contra as desigualdades econômicas e sociais, pelo desenvolvimento e por reformas da Previdência e outras, mas com caráter democrático. Como candidato, um petista ou não.

A tradição do que quer que se autointitule de esquerda é a divisão: o enfrentamento das "esquerdas" entre si com prioridade sobre o seu enfrentamento aos adversários de princípio. Pelo tempo e pelo mundo afora, os PCs foram os grandes artífices e propagadores da norma, e o PT não escapou do legado geral. Está agora diante do seu teste mais importante. Dividido, naturalmente.

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