Janio de Freitas

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Janio de Freitas
Descrição de chapéu Eleições 2018

Democratas às avessas

A mesma população que dá apoio recorde à democracia vota no apoiador da ditadura

O tamanho da ignorância política brasileira: neste mesmo outubro eleitoral, 69% da população faz o recorde da preferência pela democracia (Datafolha) e, pelas mesmas vozes, o apoiador da ditadura e dos métodos autoritários lidera a preferência do eleitorado para presidir o país. Por sua vez, o andar da campanha tem atestado que a atração mais forte de Jair Bolsonaro é sua propensão antidemocrática e violenta.

Não é sem propósito que Bolsonaro, na etapa final da campanha, escolhe visitar o batalhão de “operações especiais” da Polícia Militar, no Rio. 

Quis se exibir em fotos e na TV com os especialistas da violência e da morte, alinhados nas imagens os crânios de uma caveira e o do candidato. Apesar de “proibido por seus médicos” de ir a debate com o adversário, a agenda sinistra de Bolsonaro o levou, ainda, a fazer fotos e gravação de TV na polícia civil. O que parece desperdício dos últimos dias de campanha é, está provado, o que mais seduz o eleitorado dos “democratas” recordistas.

O comum, sobretudo na imprensa e na TV, é atribuir ao antipetismo a adesão a Bolsonaro. É uma redução simplista.

O antipetismo é forte, sim, e não é sentimento recente. Mas não precisaria optar pela prepotência que não ambiciona “acabar” só com os petistas. Outros candidatos tinham condições de satisfazer o antipetismo, e no entanto tiveram seus potenciais eleitores sugados para o pouco conhecido Bolsonaro.

São vários os fatores da partilha eleitoral como se deu. A própria lista de candidatos, a corrosão do conceito de política, a propaganda escandalosa e devastadora gerada pelos integrantes da Lava Jato, o desprestígio do Judiciário, o antipetismo —são alguns dos muitos fatores. Nem embaralhados, nem vistos em separado, explicam a preferência até agora constatada pelo pregador da violência e ameaçador de autoritarismo.

Em boa hora
Dois livros bastante citados: “Como as Democracias Morrem” (ed. Zahar), de Steven Levitsky e Daniel Ziblatt, e “Como a Democracia Chega ao Fim” (ed. Todavia), de David Runciman. 

Parecem mas não são redundantes. Suplementam-se, digamos. Leituras oportunas, deles pode-se e convém extrair um efeito adicional, que fica por conta do leitor: o que leva ao colapso de democracias é também o que, visto de outra maneira, impede as democracias jovens de avançarem para a consolidação. Valioso ensinamento.

Os criminosos
No Chile, o Exército mandou para casa o comandante e um diretor da Escola Militar, o primeiro por permitir e o outro por louvar uma homenagem a condenado por crimes na ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990). 

No Brasil, quem na Câmara homenageou como seu herói o facinoroso coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, figura como favorito para presidir o país.

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