Janio de Freitas

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Janio de Freitas
Descrição de chapéu Eleições 2022

Dia de começo e fim

Não há vergonha em defender a democracia. Esse é ato de grandeza, sempre

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Há exatos quatro anos, o que se instalou no Brasil, a pretexto de sucessão presidencial, não era um novo governo. Foi o estado de terrorismo político. Veio a ser a continuidade lógica da fraude aplicada ao processo eleitoral a propósito de corrupção denunciada na Petrobras.

Hoje, a ameaça terrorista de impedir os brasileiros da única atribuição institucional que lhes deixaram, generosos, consagra um fato extraordinário: a numerosa união pela democracia, entre divergentes às vezes extremados, como mais um dos tão raros momentos de beleza na política.

Modelo de urna eletrônica que será usada nestas eleições - Rubens Cavallari/Folhapress

Não há vergonha em defender a democracia. Esse é ato de grandeza, sempre. Vai além do significado eleitoral: atitude talvez insuspeitada, faz conhecer com mais justiça quem a pratica —e, em contrapartida, quem a recusa.

São gestos de independência e altivez. E é emocionante saber que pessoas centenárias vão às urnas com sua contribuição à democracia, porque "é preciso pacificar o país".

Ser bolsonarista é, também, a incapacidade de ver o que constrói o momento particular que os brasileiros vivem, de um lado como de outro. Os anos recentes trouxeram indicações de que essa restrição perceptiva persiste na maioria dos militares.

Por identificação com a direita extremada ou por outras causas, sua instabilidade entre bolsonarismo e legalismo foi o amparo para os feitos de Bolsonaro: aprofundar as históricas fendas econômicas e sociais, devastar a aparelhagem de condução do país e pôr em suspenso o valor da vida.

Com o ataque ao Estado de Direito, o próprio estado de terrorismo a ser perenizado pelo golpe.

É muito importante, pode mesmo ser decisivo, que a etapa eleitoral se encerre neste domingo (2). O intervalo até o segundo turno seria ainda mais perigoso, em violência até letal, do que o temido entre a eleição e a posse do eleito. Mesmo que a de Bolsonaro.

É isso, sim: o bolsonarismo tem um só plano para vindita de derrotado e para o pretendido poder sem opositores. Bolsonaro disse: "É preciso matar uns 30 mil".

Nenhuma previsão da conduta de militares em derrota de Bolsonaro merece maior credibilidade. É imprevisível a força armada presente em uma aberração como o sentido eleitoreiro dado ao Bicentenário da Independência.

Data nacional única em que o ponto a ecoar para a história, vindo do próprio presidente, foi gabar-se de sua fantasiada sexualidade —nem ao menos considerável, vista a quantidade de Viagra comprado em seu governo.

À nossa custa, o governo americano vive a interessante experiência de estar, até mais do que ausente, contrário a um golpe da direita. A defesa da democracia brasileira submete o bolsonarismo civil e militar a ameaças externas equivalentes, mas contrárias, às que faz aqui.

Com uma diferença: montadas em tanques ou em motos, as ameaças bolsonaristas descobriram à sua frente uma consciência democrática de que nem os democratas tinham certeza.

Dois terços

A grande massa dos que vivem de trabalho acorda ainda na madrugada. Os que moram menos longe do emprego o fazem aí pelas 6h. Debate que começa às 22h30 não é para ser visto por dois terços do eleitorado, no mínimo.

O confronto dos candidatos na TV Globo ficará simbolizado, no seu grotesco, pelo padre que não é padre. Um partido que leva tal vigarice a um programa de eleição presidencial, como fez o PTB de Roberto Jefferson, deveria ter o registro cassado e seus dirigentes processados, a bem do serviço de limpeza pública.

Na caverna

O ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, não comentou o que viu, se viu, no TSE. Mas possibilitou o que é, até agora, a foto simbólica deste período sem precedente, com os ataques às urnas, ao TSE, militares querendo controlar o processo eleitoral. A foto é de Pedro Ladeira, da Folha, e publicada pelo Globo de quinta (29).

O ministro presidente do TSE, Alexandre de Moraes, conduz representantes das campanhas presidenciais para conhecer a sala de totalização dos votos no tribunal; na foto, o ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, acompanha a visita - Pedro Ladeira - 28.set.22/Folhapress

Sisudo, rosto fixo para a frente, meio isolado, o general passa ao lado de uma divisória em vidro transparente. Do outro lado, bem iluminada, está a sala de apuração eleitoral, descrita por Bolsonaro e tida pelos bolsonaristas como "secreta e escura".

Uma prova da vulnerabilidade eleitoral. O general fazia parte da visitação, a convite do ministro Alexandre de Moraes, ao que seria o laboratório cavernoso das fraudes inventadas por Bolsonaro e suspeitadas por militares.

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