João Wainer

Cineasta e fotógrafo, venceu o prêmio Esso de 2013 pela cobertura dos protestos de rua no país e é autor dos documentários "Junho" e "PIXO".

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Entre viagras, próteses penianas e motocicletas

A cena patética, além de crime eleitoral, é um prato cheio para interpretações psicanalíticas de botequim

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Freud adoraria assistir a essa última "motociata" de Bolsonaro em São Paulo. Todo vestido de couro preto, emulando o ditador fascista Benito Mussolini, o presidente mais perdido que o Brasil já teve surgiu montado em sua motocicleta, seguido por outros 3.700 motoqueiros não menos perdidos, maioria absoluta de homens brancos e cis sentados em motos caras, interditando por 6 horas a mais importante rodovia do estado em um dos dias de maior movimento do ano, a Sexta-Feira Santa, em flagrante exemplo de campanha antecipada paga com o dinheiro de contribuinte.

A cena patética, além de crime eleitoral, é um prato cheio para interpretações psicanalíticas de botequim. Não é à toa que a potência de um motor se mede em "cavalos". A virilidade dos equinos, a força de seus corpos encapsulados em uma máquina barulhenta que poucos podem comprar, uma explosão de vigor e masculinidade que Bolsonaro tenta se apropriar sem perceber o tamanho do recibo que ele e seus amigos de quatro patas ou duas rodas estão passando. Homens se identificam com motores e onde há identificação há projeção da personalidade.

O  presidente Jair Bolsonaro fala para uma multidão de motociclistas que participaram da motociata em São Paulo
O presidente Jair Bolsonaro fala para uma multidão de motociclistas que participaram da motociata em São Paulo - Jair Messias Bolsonaro no Faceboo

Acelerando suas motos barulhentas na tentativa de demonstrar algum tipo de virilidade, aqueles sujeitos infelizes, alguns com suas esposas na garupa, apresentaram ao país mais um capítulo do triste espetáculo da masculinidade frágil e dos perigos que isso pode causar ao planeta.

Isso porque a potência e o barulho que as motos proporcionam não passam de uma ferramenta para compensar sua impotência na vida cotidiana. São homens frustrados com a ascensão profissional das mulheres, que não aceitam uma sexualidade diferente da própria, um Deus que não seja o dele e que não gostaram nem um pouco de perder privilégios que consideravam seus por direito divino, mas que não são mais aceitáveis nos dias de hoje. Acrescente a isso o cabelo que não para de cair, o pau que não fica mais duro, a circunferência abdominal que só aumenta e pronto, temos uma bomba relógio prestes a explodir.

Talvez o motivo de as Forças Armadas terem comprado 35 mil comprimidos de viagra, 60 bombas penianas e remédio para a calvície, seja apenas humanitário, para minimizar o estrago que esses homens-bomba podem causar ao explodir. Talvez essa compra tenha sido apenas para deixar o general Mourão feliz. Nunca vamos saber. O preocupante mesmo é perceber que essas pessoas frustradas com sua própria impotência estarão na linha de frente do capitão em sua tentativa de reeleição. São eles que irão questionar o resultado das urnas ao seu lado quando ele perder, ameaçarão invadir o congresso, o STF, pedirão a volta da ditadura e serão protagonistas de toda a presepada que já está anunciada.

Afinal, para que serve mesmo uma motociata? O que o país ganha com isso? Por que investir recursos públicos e provocar transtornos a população em uma ação como essa? Além de celebrar a própria impotência, o que Jair Bolsonaro fez na última sexta-feira chama-se campanha antecipada, o que é proibido pela legislação, que aliás, parece nunca se aplicar a esse que ocupa a Presidência da República.

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