Joel Pinheiro da Fonseca

Economista, mestre em filosofia pela USP.

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Joel Pinheiro da Fonseca
Descrição de chapéu

O triste fim do petismo

Os que se dizem vítima de perseguição são os mesmos que vandalizaram o prédio da ministra Cármen Lúcia

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Ter um ex-presidente criminoso é trágico para o Brasil. Agora, dado que temos, vê-lo condenado e punido é motivo de esperança. Ou seria preferível deixá-lo impune? Seja como for, mesmo com os rojões da direita, duvido que alguém esteja mais exultante com a prisão de Lula do que Guilherme Boulos, Manuela D’Ávila e seus seguidores. 

Agora a bola está com eles. Sentem o gostinho da liderança, propõem a união da esquerda em torno de um projeto nacional. Nisso, cumprem um papel: mantêm viva a esperança da elite cultural de esquerda que ainda nutre sonhos revolucionários. É para esses, e só para esses, que a prisão de Lula representou um trauma.

Vistos de fora, as centenas que se encastelaram no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC são os últimos membros de uma seita outrora poderosa, que radicalizam suas mostras de devoção ao mesmo 
tempo em que diminui sua capacidade de influir na vida real. 

O povo que é tão lembrado nos discursos não os acompanha na realidade. A julgar pelas bravatas que ouvimos na semana passada, as promessas de Boulos de que haveria resistência, era de se acreditar que o país estaria em guerra civil, que as ruas seriam tomadas pela população. Na verdade, o povo não foi às ruas nem sequer em São Bernardo. Em São Paulo, no Piauí, no Pará, no Maranhão, ninguém está nem aí.

É muito diferente, de um lado, ter uma memória positiva dos anos Lula, sentir por ele uma ternura e até votar nele, e, de outro, acreditar na mitologia do petismo oficial: o discurso do grande golpe em andamento que faz de Lula uma espécie de mártir perseguido por ter origem pobre. Para acreditar nisso, é preciso ter cursado ensino superior em alguma federal ou PUC.

Para se manterem fiéis cegos à causa, demonizam quem quer ver Lula preso. Esses o perseguem por sua origem e, acima de tudo, porque odeiam os pobres.

Assim, o adversário político deixa de ser um interlocutor legítimo e se torna alguém mal-intencionado, que se pode no máximo tolerar enquanto não é possível eliminar. O seguidor ganha a sensação gostosa de superioridade moral apenas por defender aquilo que defende. No passado, sonharia com Deus punindo seus inimigos no inferno; hoje, se assegura de que “a história” o vingará.

O discurso das intenções puras, ademais, justifica atos nada puros. Aqueles que agora se dizem vítima de perseguição são os mesmos que vandalizaram o prédio residencial da ministra Carmen Lúcia em BH; que atacaram jornalistas em várias cidades; e, para coroar, protagonizaram uma tentativa de homicídio registrada em vídeo contra o empresário Carlos Alberto Bettoni, que ousou discutir com os manifestantes na frente do Instituto Lula e foi empurrado em direção aos carros da avenida movimentada.

Sofreu traumatismo craniano e está internado. Mesmo assim, veem a si mesmos como defensores da paz. O verdadeiro ódio está nas piadas e nas comemorações da direita.

O sonho da revolução durará pouco. Até setembro, o PT oficializará seu real candidato. Boulos e D’Ávila voltarão à sua vocação de linha auxiliar, único motivo pelo qual recebem tantos mimos. E as boas intenções de tanta gente voltarão a ser instrumentalizadas por uma máquina corrompida até a espinha.

Felizmente, alguns começam a abrir os olhos. Outros vão afundar junto de um navio que jamais 
rumou para onde eles sonhavam.

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