Joel Pinheiro da Fonseca

Economista, mestre em filosofia pela USP.

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Joel Pinheiro da Fonseca

A última cartada

O governo se encaminha rapidamente para a ruptura institucional

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O texto compartilhado pelo presidente Bolsonaro na sexta-feira passada (17) em seu WhatsApp marca um novo ponto baixo do governo. Um texto que, embora quisesse defender o presidente, na verdade escancarava a mais dura crítica: ele é incapaz de governar o país. Ao fim, em clima de total pessimismo, fecha com o conselho: "Infelizmente o diagnóstico racional é claro: 'Sell'". Ou seja, as coisas não vão melhorar, e por isso é melhor apostar contra o Brasil.

Um governo que precisa de demonstrações públicas de força —no caso, de povo na rua "protestando a favor"— é um governo sobre cuja força já pairam sérias dúvidas. Se for bem-sucedido e conseguir uma quantidade expressiva de manifestantes, recuperará um pouco da força que fez questão de destruir nesses cinco meses de mandato. Se for um fiasco, continuará derretendo a olhos vistos.

A palavra que melhor resume esse início de governo é "balbúrdia". Muito barulho, muita briga e nenhum resultado. O presidente que começou com o apoio entusiástico de um Congresso conservador conseguiu se indispor de tal forma —inclusive mentindo para deputados que o tinham como aliado, no episódio do contingenciamento dos gastos com educação— que agora não é capaz de pautar a discussão legislativa.

Neste momento, Paulo Guedes (e equipe) e Rodrigo Maia são os dois maiores promotores da reforma da Previdência, travando por conta própria o diálogo entre governo e parlamentares. O presidente, por sua vez, é o grande sabotador da reforma, ao voltar a carga desnecessariamente contra o Congresso e a política como um todo.

A revolta contra o fisiologismo político no Congresso não é infundada. Convivemos passivamente com a prática secular de parlamentares que votam pensando exclusivamente no seu interesse, de sua corporação ou de seu partido. Jair Bolsonaro foi um desses. Onde o discurso revolucionário se equivoca é na ideia de que seria melhor se cada deputado votasse segundo sua crença e ponto final, sem negociar pautas, verbas e posições visando os diversos interesses da sociedade. Essa seria a receita para nada mudar no país. Ou para fechar o Congresso.

Há quem negue peremptoriamente que o protesto seja para fechar o Congresso. O que se vê nas redes sociais, contudo, é que esse desejo está amplamente difundido entre os apoiadores mais fervorosos do presidente. E o fato é que, se continuar nesse cabo de guerra improdutivo com o Congresso, não haverá outra saída.

O governo se encaminha rapidamente para a ruptura institucional. Afinal, suponha que os protestos a favor do governo sejam um sucesso, e o Congresso, acuado, decida barrar tudo que venha do governo. Qual é a reação previsível?

É o próprio discurso do presidente que empurra a opinião pública para esse lado. Ele é incapaz de construir um discurso positivo, que inspire a sociedade pela mudança.

Sua pauta é sempre destrutiva, visando promover o ódio contra algum adversário: mídia, Congresso, STF, militares, universidades. Assim, comete injustiças gritantes ao não distinguir o bom e o mau dentro do Congresso, e garante para si a inimizade geral de todos aqueles que poderiam —e até gostariam— de ser seus parceiros. Ao mesmo tempo, é incapaz de mostrar uma única proposta imoral que tenha recebido de parlamentares.

Resta saber por quanto tempo a população seguirá acreditando no discurso do presidente e protestando contra os inimigos da vez. Até agora, ele tem sido expert em culpar os outros pelos seus fracassos. Mas sucesso, que é bom, ele não tem.

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