Joel Pinheiro da Fonseca

Economista, mestre em filosofia pela USP.

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Joel Pinheiro da Fonseca

Afasta de mim esses cálices

Ou surge uma alternativa a PT e Bolsonaro, ou oscilaremos entre o ódio e o medo

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Se a eleição fosse hoje, Bolsonaro perderia para Fernando Haddad de 42% a 36%, segundo o Datafolha. Parece que a maré virou. O que não quer dizer, evidentemente, que a fotografia da opinião pública tirada agora ainda valerá daqui a três anos.

Felizmente, a eleição não é hoje. Não que eu deseje quatro anos adicionais da bagunça violenta que hoje nos governa e que deve seguir nesse ritmo até o fim do mandato. Longe disso. Torço, contudo, para que o Brasil adquira algum tipo de sabedoria e rejeite a volta do projeto petista. Ainda temos tempo de evitar mais um segundo turno de pesadelo, como foi o de 2018.

“Ah, mas pera lá, Joel. Será que o PT foi tão ruim assim?” Infelizmente, foi. Lula até que começou bem, preservando o legado macroeconômico e institucional de FHC e investindo na política social para a base da pirâmide. Depois desse aceno de moderação, contudo, entramos numa espiral de irresponsabilidade fiscal, acirramento do discurso divisivo e alargamento da “goela” da corrupção, para usar a expressão de Emilio Odebrecht.

Lula e Dilma tiveram nas mãos a chance de nos colocar num novo patamar, mas as demandas da sede implacável pelo poder nos deixou um país dividido, de economia destroçada e instituições corrompidas. De lá para cá, nada aprenderam.

O combate à corrupção foi pintado como um grande complô da direita, e os quadros do partido, nos raros momentos em que não falam de Lula, agora propõem abertamente o controle da mídia, nova Constituinte e governo plebiscitário, todos degraus óbvios para a concentração do poder.

Quanto ao governo atual, não é preciso exercitar a memória. Não passa um dia sem um novo ataque à institucionalidade brasileira, sem uma tentativa de ingerência em órgãos de Estado, sem alguma ofensa ou mentira.

PT (seja quem for o candidato) e Bolsonaro vivem em simbiose. Primeiro por motivos retóricos: é o fantasma do outro que justifica o próprio radicalismo e o espírito de seita. E precisam-se também eleitoralmente. No segundo turno, ambos perderiam para qualquer alternativa mais moderada. A chance de cada um vencer é ter o outro como adversário.

O PT tentou cooptar nossas instituições. Bolsonaro tenta coagi-las. O país se mostrou forte para repelir a primeira, e tenho certeza que venceremos também a segunda.

No entanto, como diz um provérbio político americano, “you can’t beat something with nothing”; não dá para vencer algo sem propor nada em seu lugar. Ou surge uma alternativa a esses extremos, ou ficaremos oscilando entre o ódio e o medo sem sair do lugar.

É uma aposta de risco e com altas chances de naufrágio. PT e Bolsonaro têm pisos bastante aguerridos, que tornam muito provável sua ida ao segundo turno. Como persuadir esses eleitores? E ainda ficaremos a mercê da economia. Se ela melhorar, é difícil que o presidente perca em 2022; assim como o pleno emprego e o consumo em alta ajudaram Dilma em 2014.

Ainda assim, se quisermos ver o Brasil no caminho do desenvolvimento sustentável e da solidez institucional teremos de conversar com quem pensa diferente e ter a coragem de construir alternativas conjuntas.

Esse exercício passa por encontrar valores positivos que nos unem e identificar as pessoas que, ainda que não correspondam ao mundo ideal de cada um de nós, sejam capazes de encarná-los e levá-los adiante. Ainda faltam três anos, mas a maratona já começou.

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