Joel Pinheiro da Fonseca

Economista, mestre em filosofia pela USP.

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Joel Pinheiro da Fonseca

O bolsonarismo aposta na violência, e não podemos entrar nesse jogo

Promoção do ódio é apoiada e ecoada pelas lideranças governistas

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Eventos como o de domingo, em que um atirador bolsonarista matou um tesoureiro do PT que celebrava aniversário em Foz de Iguaçu, fazem qualquer um se preocupar com os próximos meses.

Seria mentira dizer que só existe extremismo no bolsonarismo. Mas, de todos os grupos políticos do país, o bolsonarismo é disparado hoje o que mais o estimula. Nas franjas mais radicais da esquerda, há também promoção de ódio a todas as instituições democráticas. Mas no caso do bolsonarismo, esse discurso não está apenas na margem; ele parte do próprio centro; é apoiado e ecoado pelas lideranças.

Resolvi navegar um pouco pelo perfil do assassino de Foz do Iguaçu no Twitter. São dias e dias xingando personalidades de oposição e jornalistas, além de replicar conteúdo de influenciadores pró-Bolsonaro. Num post em seu Facebook, falava em "limpar o Brasil do PT".

Guardas civis uniformizados ao redor de caixão
Cerimônia fúnebre nesta segunda-feira (11) de Marcelo de Arruda, baleado no fim de semana, em Foz do Iguaçu (PR) - Paulo Lisboa/Folhapress

O que mais me impressionou, contudo, é que esse tipo de perfil nas redes não é uma exceção. Não são um ou dois casos psiquiátricos que agem assim. O que eu vi ali foi a mesma coisa que vejo sempre que entro no perfil de algum hater. São milhões e milhões de "cidadãos de bem, patriotas e cristãos" que dedicam seu tempo livre a xingar os outros, certos de que com sua boca suja representam a virtude moral contra as hostes do inferno.

Como se transformaram nisso? O preparo foi longo, mas simples. Basta instilar a paranoia e o ódio continuamente nos seguidores: a mídia mente o tempo todo, as urnas estão fraudadas, a vacina mata, as universidades produzem drogas, as escolas pervertem as crianças, só armado o cidadão pode se proteger dos comunistas. Dos milhões que sorverem essa mensagem dia e noite, alguns serão desequilibrados o bastante para ir do discurso à prática, e cometer atos de terrorismo e assassinato. Graças ao governo, eles agora estão mais armados.

Quando o previsível acontecer, basta a autoridade repudiar o ato, que é o que Bolsonaro fez. Mesmo em sua nota de repúdio, contudo, o presidente estimulou o extremismo: disse que a violência é própria da esquerda, não da direita, justamente o tipo de discurso demonizador que justifica atos de violência do próprio lado.

Neste momento, todo bolsonarista moderado —e por moderado me refiro àquele apoiador que é verdadeiramente contra o uso da violência e da ruptura institucional— deveria repudiar publicamente atos de violência ou de terrorismo bolsonaristas. O silêncio dos moderados é a atitude cúmplice que alimenta o extremismo.

E é lamentável ver Lula elogiar a agressão física de seu aliado contra um empresário que viera ao Instituto Lula xingar o ex-presidente. Agredir alguém numa briga (um empurrão numa avenida movimentada que resultou em lesão grave) é muito diferente de invadir um aniversário e atirar no aniversariante, mas é o tipo de conduta violenta que, se tolerada —pior, homenageada—, justifica os intentos violentos do outro, além de produzir uma sensação de equivalência na população que não acompanha os eventos de perto.

Os ataques com bombas ou o assassinato do tesoureiro são ruins —eleitoralmente— para o governo. Mostram uma militância crescentemente desesperada e apostando no caos. Se a PEC Kamikaze não melhorar as pesquisas, isso tenderá a piorar. Da parte da oposição, a resposta tem que ser unívoca: firmeza na defesa da lei e da ordem, sem ajudar na escalada da violência. Os únicos que ganham com mais arruaça e mortes são os golpistas.

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