Jorge Abrahão

Coordenador geral do Instituto Cidades Sustentáveis, organização realizadora da Rede Nossa São Paulo e do Programa Cidades Sustentáveis.

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Amor e medo marcam pandemia e apontam caminhos para as eleições de 2020

Pesquisa da Rede Nossa São Paulo aponta ausência de relação com parentes e medo de escassez de leitos nos hospitais

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Em síntese, é o amor e o medo que estão por trás das principais preocupações das pessoas neste momento tão difícil, revela recente pesquisa da Rede Nossa São Paulo que investigou o impacto da pandemia na população paulistana.

A ausência de relação com parentes e amigos (44%), o medo da escassez de leitos nos hospitais (41%) e o receio da falta de renda para sobreviver (34%) foram as maiores preocupações reveladas na pesquisa.

Medo e amor, depois de milênios de existência, seguem comandando nossas vidas. A política moderna é reconhecida como uma resposta dos homens ao medo e a qualidade das relações humanas é um de seus componentes fundamentais.

Dialoga com estes temas um projeto que a Fundação Tide Setubal e a Rede Nossa São Paulo lançaram esta semana: "(RE)AGE SP - virando o jogo das desigualdades na cidade”. O conhecimento acumulado pela sociedade permite que se aponte caminhos para os problemas mais relevantes da cidade com o objetivo de melhorar a qualidade de vida das pessoas. A metodologia utilizada poderá ser repetida em qualquer cidade do Brasil, pois o material é disponibilizado gratuitamente a quem se interessar.

O primeiro passo foi construir uma visão de futuro para a cidade. Que cidade queremos em 2030?

A partir desse questionamento foram escolhidos dez temas mais relevantes e definidas 50 metas para alcançar essa cidade desejável e factível, agrupadas em três eixos integradores: criar oportunidades e construir uma nova economia; cuidar e educar; e conviver e aproximar. E os temas propostos são: saúde, educação, mobilidade, criança e adolescente, cultura, habitação, trabalho e renda, prevenção à violência e segurança, meio ambiente e gestão democrática.

Uma das 50 metas é diminuir pela metade a desigualdade na taxa de emprego formal por habitante entre o pior e o melhor distrito da cidade até 2030. Segundo o Mapa da Desigualdade da Rede Nossa São Paulo, em 2017 a diferença da oferta de empregos entre os distritos da Barra Funda e da Cidade Tiradentes era de 247 vezes.

Depois de construir a visão para 2030 é possível definir o que é esperado de cada gestão municipal que governará a cidade nesses dez anos. E as metas foram definidas especificamente para a prefeita ou prefeito que governará a cidade de São Paulo entre 2021 e 2024.

O projeto (RE)AGE SP será apresentado a todos os partidos políticos e candidatos ao executivo e legislativo nas eleições municipais deste ano. O objetivo é que o incorporem em seus planos de governo e, se eleitos, no Programa de Metas da gestão. Além disso, pediremos que os candidatos assinem um compromisso com essa agenda.

Também faz parte do projeto a discussão do orçamento a ser destinado a cada um dos distritos em função de seu índice de vulnerabilidade, propondo que os investimentos sejam maiores nos lugares mais vulneráveis para que, nesse período, as desigualdades efetivamente sejam reduzidas.

Além disso, está prevista a participação da população na definição das prioridades do orçamento no seu distrito, em um processo de consulta idealizado pelo Coletivo Delibera Brasil. Por fim, o monitoramento do processo será feito também com a participação da sociedade.

Trata-se de um ciclo de ações que compreende o estabelecimento de metas, o cálculo do investimento necessário para sua realização e a participação da sociedade na definição de prioridades e no monitoramento dos avanços. Tem, portanto, a ambição de responder aos desafios que temos que enfrentar no pós-pandemia.

Há conhecimento e riqueza para isso. Mas as chances de sucesso estão diretamente relacionadas com uma mudança no modo de governar e de fazer política. Os problemas só serão resolvidos se houver uma inversão das prioridades e soubermos considerar a perspectiva da população e o legado de planejamento já realizado.

A sociedade civil brasileira —pobre em recursos financeiros, mas rica em propostas e contribuições— estará ao lado dos que avançarem nessa direção e será crítica com os que insistirem em atuar nos moldes do passado, como se nada tivéssemos aprendido com a dura experiência da pandemia.

Temos acompanhado a cidade há 13 anos e observamos que os avanços são desproporcionais às suas possibilidades. A pandemia só confirmou o que os dados já sinalizavam há muito tempo e seu impacto está diretamente relacionado à raça, ao gênero e ao CEP. Por mais que se chamasse a atenção para a importância da redução das desigualdades estruturantes na cidade, ela não tem sido uma prioridade dos governos.

É chegado o momento e será necessária uma mudança radical nessa direção. A cidade precisa ter um plano para investir nos locais mais vulneráveis e os políticos e a sociedade devem se comprometer em reduzir as desigualdades para a metade do que é hoje, em indicadores-chave como a idade média de morte, até 2030. A meta é ambiciosa, mas factível se houver compromisso político e o apoio da sociedade no sentido de priorizar investimentos nos distritos mais vulneráveis.

O (RE)AGE SP se propõe a ser um guia orientador para quem quiser avançar nessa direção.

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