Jorge Abrahão

Coordenador geral do Instituto Cidades Sustentáveis, organização realizadora da Rede Nossa São Paulo e do Programa Cidades Sustentáveis.

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Jorge Abrahão
Descrição de chapéu trânsito

São Paulo, 467 anos: uma biografia não autorizada da cidade

Pesquisa Viver em São Paulo, da Rede Nossa São Paulo e do Ibope, mostra que 78% dos paulistanos têm orgulho de morar na cidade

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São Paulo é idosa se comparada às suas irmãs latino-americanas, mas jovem em relação às suas congêneres asiáticas e europeias. Há um quê de inovador, provocador e revolucionário na São Paulo aparente. E uma inequívoca bipolaridade. O coração bomba oportunidades, encontros, diversidade, enquanto a mente se angustia com a desigualdade, a violência e a exclusão.

Tais desafios merecem um olhar a partir de diferentes perspectivas. À gestão pública cabe, seguramente, a responsabilidade por programas e políticas. Mas é muito importante escutar, sobretudo em um contexto de pandemia como este que enfrentamos, a percepção de quem vive na cidade. E a pesquisa Viver em São Paulo: Qualidade de Vida, realizada pelo Ibope Inteligência e pela Rede Nossa São Paulo desde 2008 e lançada hoje, oferece dados e pistas relevantes.

Aumentou muito o número de paulistanos que dizem que sua vida piorou em 2020 (de 28% para 43%). Efeitos individuais e coletivos da pandemia podem explicar? A maioria diz ter orgulho de morar em São Paulo (78%), o que não é pouca coisa, é um grande ativo da cidade e mereceria mais atenção dos gestores públicos. Como, a partir deste orgulho revelado, gerar pertencimento, inclusão e processos de participação?

ilustração de uma cabeça, sobre a qual estão carros, um ônibus e um edifício com uma grande antena
Isabella Beneduci

Por outro lado, seis em cada dez deixariam a cidade se pudessem —número que vem se mantendo estável desde a primeira edição da pesquisa. A princípio, os dados podem parecer contraditórios, mas, na realidade, não são. A ciclotimia de uma cidade diversa e que oferece oportunidades de trabalho, culturais, de encontros e de relações, se confronta com a violência, a enorme desigualdade social, o trânsito e a poluição, e explica o que poderia ser um aparente paradoxo.

Em síntese: a qualidade de vida não está boa; a cidade oferece vantagens, mas paga-se um preço elevado por isso; e, se fosse possível, a maioria das pessoas mudaria para outro lugar.

O sentimento positivo mais relatado na pesquisa foi o de esperança (21%), o que é um alento em tempos difíceis como o que vivemos. O sentimento negativo é o de decepção (12%). É provável que, ao materializar a esperança com ações concretas, possamos combater a decepção.

As grandes demandas da população são conhecidas e estão vinculadas a oportunidades de trabalho, oferta de serviços de qualidade como saúde, educação, transporte e redução da violência, temas que merecem um olhar prioritário sobretudo para a população mais vulnerável.

Os números apontam que caiu o sentimento de inclusão na comunidade (de 42% para 35%). A pandemia e as restrições por ela imposta podem ter contribuído para isso, na medida em que boa parte das pessoas se recolheram ou reduziram suas interações com o bairro e espaços públicos. Mas é importante nos mantermos atentos, pois a partir do pertencimento é que podemos ter mais sucesso com ações colaborativas.

Na avaliação da confiança nas instituições o Metrô segue liderando, com 70% das respostas. Na outra ponta, a Câmara de Vereadores é a instituição que tem a menor confiança da população, com somente 22%.

A Prefeitura conta com a confiança de aproximadamente um terço da população (31%). Já o Poder Judiciário perdeu muita confiança e hoje tem 33% —em 2008, há doze anos, tinha 44% de confiança. Questões que merecem enorme atenção dos políticos e do Judiciário, já que a qualidade da democracia está relacionada a esses temas. Que mensagens podemos tirar deste baixo grau de confiança? Que ações podem ser feitas para reverter este quadro? Temas como transparência, participação e equidade devem ser considerados por essas instituições.

A Igreja é a instituição que mais contribui para a melhoria da qualidade de vida da população (25%), seguida pelas ONGs (19%), pelas universidades (17%) —que tiveram o maior aumento—, e pelos meios de comunicação (16%).

A pesquisa ainda revela um dado importante sobre o controle social: a maioria (58%) dos paulistanos não tem vontade alguma de participar da vida política. E os que participam entendem que a melhor forma é por meio da assinatura de petições e abaixo-assinados (26%), e compartilhamento de notícias nas redes sociais (16%).

Por fim, entendem que as principais características dos prefeitos e vereadores é conhecer bem os problemas da cidade, ter visão de futuro e ser trabalhador.

Aos 467 anos, São Paulo já deveria ter amadurecido e se sensibilizado com as carências de seus moradores. Segue de costas para a maioria da população, mas será justamente a participação desta população e a inversão de prioridades dos gestores públicos que poderá dar velocidade às transformações que, nesses séculos, não se consolidaram.

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