José Henrique Mariante

Engenheiro e jornalista, foi repórter, correspondente, editor e secretário de Redação na Folha, onde trabalha desde 1991. É ombudsman

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Dizer 'não funciona' não basta

País deseja remédio para tudo, mas não quer saber de evidências científicas

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Semana de noticiário corrido, votação açodada de reformas no Congresso e de uma saudável disputa por quem vacina mais. Aos trancos e barrancos, o país avança, mas dando, como de hábito, não se sabem quantos passos para trás.

Na torrente de títulos, notícias interessantes. Trabalho conduzido por duas pesquisadoras, uma da Universidade de Oxford e outra da Unicamp, mostra que a crença em tratamentos ineficazes contra a Covid-19 vai além de Jair Bolsonaro, está ligada a fatores socioculturais e à forma como brasileiros percebemos a ciência e a saúde.

Reduzindo para proporções de um tuíte a reportagem de Cláudia Collucci, temos medo da doença, mais do que moradores de outros países, e queremos acompanhamento médico, tratamento, o que for. Metade dos entrevistados no levantamento não acredita em protocolos da medicina baseada em evidência. Médico sério é o que intervém, o que medicaliza. Mesmo que não haja remédio de verdade para a peste.

na ilustração, o Palácio do Planalto está desenhado em perspectiva e visto de cima, em branco e preto. Ao redor dele, o solo são covas abertas, ocupando todo o espaço restante da ilustração
Carvall

O bolsonarismo campeia nesta terra de curandeiros com diploma que já enterrou meio milhão de pessoas. O discurso do presidente negacionista ganha apoio até de quem não o segue, pois se baseia em uma cultura popular arraigada, o uso de medicamentos.

Tratamento precoce, kit Covid, cloroquina e ivermectina, entre outros tantos nomes e expressões, alimentam discussões intermináveis na CPI do Senado e na mídia. Já não parece tão evidente que Bolsonaro, ministros e aliados possam ser responsabilizados apenas por isso. Como dizem as pesquisadoras, é preciso procurar outros caminhos para combater a desinformação. Mais uma tarefa hercúlea para o jornalismo e para esta Folha.

A empolgação com a vacina e a perspectiva de melhora do ambiente econômico, com a retomada das atividades, aumentam a vontade de querer acreditar em qualquer coisa. O contraste com uma nova elevação do número de casos e mortes não basta. Escrever a cada menção que determinada substância não tem eficácia comprovada, como dizer que a Terra é redonda, também não é suficiente.

Sexo dos anjos

Comentários dos leitores em reportagens publicadas no site do jornal vão da cutucada à cotovelada. Em texto de sexta (18) sobre a imprecisão do termo “serial killer” para o homem procurado no Distrito Federal e em Goiás a troca de gentilezas é sutil. “O maior serial killer do DF mora no Alvorada”, diz um. “Morava, você quis dizer”, responde outro.

Reflexo do momento de urbanidade pelo qual o país atravessa, a coisa fica mais complicada na reportagem da Ilustrada sobre produtores e estúdios estarem tirando personagens do armário, de quinta (17). “Sei lá, acho que estão exagerando” “Já estava mais do que na hora! Tem que ter inclusão e representatividade sim.” “Ainda bem que meus filhos já passaram da idade.” “Enxergaram uma forma de ganhar mais dinheiro.” “Sempre foram minoria e sempre serão.” “Democracia não é essa imoralidade.”

Democracia é estar aberto a comentários, apesar deles.

Mais ou menos

No último fim de semana, leitores que acessaram a réplica digital da Folha impressa foram surpreendidos por um alerta comercial do jornal. Uma nova modalidade de assinatura dava acesso a conteúdo extra na plataforma, além de algumas outras vantagens. Ocorre que as páginas suplementares pareciam incluir também as da Ilustrada, e, é claro, a mudança provocou indignação entre os usuários.

O “upgrade”, termo usado no alerta e repetido de maneira irônica por vários assinantes que recorreram ao ombudsman, tem custo naturalmente. A presença da tradicional seção cultural do jornal na zona restrita, porém, foi um erro provocado pelo posicionamento dos cadernos no momento da digitalização.

Desde o dia 9 de junho, o jornal oferece duas assinaturas digitais. Uma dá acesso ao site e ao aplicativo equivalente, Tempo Real. A outra, mais cara, permite também visualizar a réplica da versão impressa, o aplicativo correspondente, Edição Folha, e as páginas do FolhaMais. Estas trazem assuntos diversos, editados no formato de um caderno impresso que só existe na réplica e não vai para a gráfica. Assinaturas digitais antigas mantêm o acesso à reprodução, mas não ao conteúdo extra. Já os assinantes do impresso têm trânsito irrestrito em todas as plataformas.

“A iniciativa integra um projeto de ampliação e diversificação da oferta de produtos editoriais aos nossos assinantes. Por encontrar-se em fase experimental de pré-lançamento, procedimento comum nas plataformas digitais, não foi feito anúncio. A Folha pede desculpas pelo erro, corrigido no início da tarde de domingo (13), que dificultou o acesso a parte das edições”, afirmou o secretário de Redação Vinicius Mota.

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